Rebeca BEX é cantora e compositora que mistura jazz em bases eletrônicas

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A casca de uma sonoridade que coça

As canções de Rebeca (BEX) carregam puro fermento gérmen de um lugar distante, escreve o poeta na estreia da coluna Veludo Poty

25 de agosto de 2020

Por Carlos Gurgel | Poeta

Louca é a vida como um quasar que ao redor do sol borda uma rasante por sobre seus tapetes lindos. Tudo tão suspenso nessa madrugada repleta de insônia e fome. Ponho meus chinelos e desando a andar como uma criança despida de tanta outra margem do tempo e vastidão. Sorvo essa senha do dia e como um passageiro sem viseira, vou minimal ao ponto espaço e espouco gritos, silêncios infernais, uma ruma de lua fazendo de mim uma inescapável redoma, ancestral fogueira, límpido jorro do que minha lembrança teima em me deixar anônimo e sem pele. 

Já outro dia agora. esse amanhecer que gira como a ferocidade de uma serpente de tanta cor entre sua gênese, tecido forte, amálgama de sexo e beijos. Lá, parece que é aqui. Tudo tão doido, ultrapassagens mis.  Zumbidos como se fossem o som que sai do búzio. Tentáculos testículos vernáculos versículos de deambulação. irado. ao longo do vento da estrada é como se uma fileira de ossos, ócios, fossem em direção a dor desse mundo. caterva. espaços do nada. vertigem de canções e espíritos. expiação. pouca luz. tanto quase nada de sins. o relógio desse tempo sumiu. o transe desse tempo foi embora. mudez. calafrios invadem janelas e varandas. como se onde estou me levasse para um outro mundo. sem frestas, ventre, alucinógenos e aberrações. 

Acordo com o pressentimento de um novo ponto. escuto o escuro da vastidão do tempo. roubo meus pés e espadas. arranco como um bávaro sêmen o cordão que aprisiona minha boca e vulcões . gotejar de vontades, desejos, ultrapassar montanhas e desertos. desejo tudo isso. o lento vem vindo. lento do frenético do invento por onde a pura ilusão de quem ousa partir, se embebeda de profundos lacres noturnos. mãe mar de mim me mira.

Então essa música de todo esse tempo me doma. então essa música de todo esse vento me exclama. me torce. me contorce. toma de posse. me faz moer como um chocalho de chuva sem me ver. um  chocalho de chuva da música atravessando o tópico tríptico de tanta fumaça da terra. esse sândalo. esse elixir. esse rouco poço procura profunda por se levar, em se esbarrar. demasiadamente experimental esse som de Rebeca . clave convexo centopeia currais curvas turvas colisão desse ar por segundos. veloz velocidade tudo. tântrico horto sonoro. fórceps da força descomunal de Rebeca. se contorcendo de incessantes cores no espelho exótico para bem depois de tudo que foi dito.

As canções de Rebeca carregam puro fermento gérmen de um lugar distante. com esse seu tapete, relva selvagem e pontiaguda, essa arte artista mulher ser, guilhotina o passado mofado. os grunhidos de Rebeca  mortificam a longa estrada sem flores, célula sem suor, céu fluir fluor da boca. no seu vão por onde todas as coisas morrem e renascem, Bex procura e procria indissociáveis inclassificáveis peças sem o cabisbaixo cântico sem alma. o marfim do seu ofertório borrifa lascas múltiplas paixões  inauditas, invisíveis, imprevisíveis. 

Vomita porque o canto de Rebeca é um velocípede louco. vórtices vestígios vigílias vorazes. velozesurtos. o ponto que não fecha. espadachim espaço espacial. trêmulos pedaços de som. couro da dissonância sem fim. espertos esperneios spleen. espectro concreto concerto nu. mãos soltas pela folhagem da noite. puta língua solta solar boca. a selva que flameja em Bex é jasmim psicodélico, roupa holística como tudo que dela rasga. exaustão o suor da poesia por onde o cor Rebeca se enrodilha e frui. tantas maçãs no pasto. longuíssimos cogumelos. cúpula púlpito creme fantasma longuíssimos olhares. um dia Rebeca Bex habitará o espelho das suas costas. grama rara de tão inexplicável delírio e paixão.