Rejane Cardoso coloca um ponto final na pesquisa sobre o tio, que viveu antes dos anos 1930

Reportagens

A obra e a vida de Erasmo Xavier, o pioneiro da arte modernista potiguar

Após 40 anos de pesquisa, Rejane Cardoso lança livro sobre a obra e a trajetória de um dos maiores ilustradores do século XX

17 de novembro de 2022

Cinthia Lopes

Por mais surpreendente que seja, uma história só ganha o mundo quando alguém decide contá-la. A jornalista e escritora Rejane Cardoso encontrou aquela que seria sua obsessão por 40 anos. E nesta quinta-feira (17) ao cair da tarde no Solar Bela Vista, a autora finalmente lança o livro “Arte Modernista de Erasmo Xavier”, ampliação da pesquisa sobre a trajetória do jovem desenhista norte-rio-grandense cuja vida, embora curta, foi produtiva o suficiente para deixar um legado além do Rio Grande do Norte, como um dos precursores do movimento modernista na arte brasileira. “Este é o livro da minha vida”, comenta. Sua dedicação aos anos de pesquisa explode lindamente em forma de um livro com cerca de 400 páginas e mais de 400 imagens. Na ocasião do lançamento haverá uma exposição de trabalhos originais de Erasmo, incluindo periódicos e objetos do acervo da família.

Erasmo Xavier (1904-1930) foi cenógrafo, ilustrador, caricaturista, publicitário, fotógrafo e articulista. Natalense residente no Rio de Janeiro, foi o primeiro a lançar o traço e a temática modernista na arte do RN. Morreu aos 25 anos incompletos, delirando pela febre alta, arrebatado pela Tuberculose, e sua arte adormeceu com ele, numa velha mala que guardava 19 originais em nanquim e aquarela, embaixo da cama de sua mãe Alice.

Pouco se falou sobre Erasmo, até que alguns anos após sua morte, Luís da Câmara Cascudo o descreveu em sua coluna Acta Diurna: “Um jovem de grandes olhos negros, vivaz, lépido, alegre como uma andorinha, cheio de sonhos e de planos, andando depressa sempre armado com sua Kodak, batendo instantâneos, encantado com a vida, com a luz, com a natureza”. 

Foi somente nos anos 50 que a jovem sobrinha Rejane descobriu a velha mala e por anos conviveu com a inquietação e a curiosidade sobre aquele tio, que não chegou a conhecer, mas parecia tão íntimo, pelos seus traços e personalidade artística. A cada nova descoberta, ela percebia a grandeza e a importância essencial de Erasmo como pioneiro da arte modernista no RN. 

Em 1980, foram localizados alguns artigos assinados por Erasmo, na coleção de A República do Instituto Histórico e Geográfico do RN. Foi este o ponto de partida para a reunião de originais de desenhos, da coleção da revista Cigarra, das fotos e entrevistas com quem o conheceu. Todos faziam menção ao seu início de carreira nos periódicos de circulação nacional. Mas era preciso encontrar algo que marcasse concretamente sua participação em revistas de grandes tiragens. Em 1986 Rejane vai ao Rio de Janeiro para ampliar a pesquisa, que começou pela Biblioteca Nacional. Mas foi só no último dia na biblioteca, depois de ter passado cerca de dez mil páginas, uma a uma, é que foram encontradas duas charges assinadas claramente, na revista O Malho. 

A partir dos anos 80 a pesquisa tomou rumo, ganhou corpo, e virou livro ‘Erasmo Xavier – O elogio do delírio’, em 1989. Descobriu-se então uma vasta produção, inclusive mais um original - retrato de Mário de Andrade, que era do acervo do próprio escritor modernista e hoje pertence ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Entre cenários, cartazes, retratos, Erasmo fez todas as capas e quase todas as ilustrações dos cinco números da revista Cigarra (1928-1930), em Natal. E tendo falecido em 1930, teve ainda duas capas publicadas em 1933 n’O Cruzeiro, a revista de maior circulação da América Latina. A tiragem da primeira edição - O elogio do delírio - esgotou, mas a busca sobre o rastro da produção de EX nunca parou – pelo contrário: o primeiro livro fez emergir mais dados e novas descobertas, e a pesquisa de Rejane Cardoso não cessou.

O novo livro de Rejane Cardoso tem prefácio de Marcos Moraes (USP), premiado como Melhor Obra com o Jabuti 2011 pelo livro Câmara Cascudo e Mário de Andrade: cartas 1924-1944.O projeto (que engloba livro e exposição) é patrocinado pelo Programa Djalma Maranhão da Prefeitura do Natal, através da Casa de Saúde São Lucas, Colégio CEI e Focus Intervenção Comportamental, com realização da Verbo Comunicação & Eventos.

 

Serviço:

Lançamento do livro "Arte Modernista de ERasmo Xavier". Dia 17 de Novembro de 2022 – das 17h30 às 21h30  /  Mostra: De 16 a 18.11 –  das 9 às 17h

Local: Solar Bela Vista – Av. Câmara Cascudo, s/nº, Cidade Alta