A vingança do médico

Abraão Gustavo

Um certo sábado pela manhã, a esposa do Doutor Agenor resolveu gastar dinheiro em uma loja de móveis planejados, e mesmo cansado o marido resolveu acompanha-la na aventura. Ao chegar à loja, foram atendidos por uma moça baixinha, de óculos rosa, do rosto bolachudo. Passaram a manhã inteira vendo decorações para cozinha, móveis de quartos; só um criado-mudo era em torno de dois mil reais, imagine um criado falante. E lá estava a esposa do Doutor Agenor toda empolgada, e quanto mais ela falava a vendedora colocava mais lenha na fogueira, todos loucos para gastar o dinheiro do velho médico urologista. A mulher queria levar tudo que via pela frente. Então, o médico fingiu uma crise de tosse para correr do lugar mais rapidamente. E você sabe: em época de coronavírus, qualquer tosse ou espirro é motivo para todos quererem andar léguas de você. Já vi caso de pessoas mudarem de calçada porque alguém estava espirrando. Deu certo, a mulher do Doutor caiu na cena. Quando o médico foi até o caixa passar o cartão, a mocinha do caixa disse:

– Cinquenta mil.

O velho levou a mão na boca e começou a dar uma crise de tosse seca, a ponto de os funcionários oferecerem um copo de água. Enquanto ele bebia a água, a mulher do Doutor já estava com o cartão em mãos. A moça perguntou:

– À vista ou parcelado?

Quando o médico ia responder, tossiu mais uma vez e sua mulher aproveitou a deixa e disse:

– À vista, por favor.

O médico não se aguentou e disse:

– Amor, vamos embora!

– Preciso de repouso, outro dia voltamos.

No dia seguinte, na segunda-feira, o Doutor estava atendendo em sua clínica. Por coincidência dos diabos, lá estava a vendedora com os óculos rosa e rosto bolachudo e seu marido. Na noite anterior, brincaram tanto, que acabou inflamando os testículos de seu marido. O rapaz já chegou na clínica reclamando de dor. O médico olhou e viu que era a maldita vendedora que tinha feito sua esposa quase gastar cinquenta mil reais de uma hora para outra. O tal marido chegou explicou o que estava sentido. O médico disse:

– Terei que analisar seu caso. Tire a roupa e se deite na maca.

Enquanto o rapaz estava deitado na maca, o médico colocava lentamente suas luvas brancas sobre o dedo. A mulher, que estava na antessala, perguntou:

– Doutor, quanto tempo vai demorar esse exame?

Ele disse:

– Não se preocupe, em cinquenta minutos estará tudo resolvido.

Dava para ouvir os gritos do rapaz pelos corredores da clínica.