Em álbum instrumental, Adriano Azambuja mostra versatilidade e habilidade com a guitarra

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Adriano Azambuja: Quando o herói local da guitarra deixa o instrumento falar

Um dos guitarristas mais renomados do RN lança disco solo todo instrumental: “Transmutação”

28 de fevereiro de 2021

por Alexandre Alves

Mesmo em plena pandemia, o guitarrista Adriano Azambuja conseguiu finalizar seu novo trabalho solo, desta vez totalmente instrumental. Já conhecido como guitarrista e vocalista da banda de hard rock A Máquina e por tocar na cena potiguar desde a década de 1980, seu primeiro disco solo data de 2005. Nesse ano ele lançou o excelente “Vagalume e o som das coisas que estão sem nome” (Solaris Discos) – no qual tocou todos os instrumentos do álbum! – e ganhou destaque em festivais como MADA e Dosol. Depois disso, ele já lançou vários singles e álbuns virtuais nos anos seguintes. 

Com capa do artista plástico Pedro Pereira, agora foi lançado “Transmutação” (selo Mudernage) e que terá versão física graças parcialmente à Lei Aldir Blanc. O pacato Azambuja é de origem mineira, morando nas terras potiguares e já perdeu o sotaque há décadas morando em Parnamirim, terra de boas bandas – Vinho Barganha, D’ark, Black Matilha, entre outras –, mas nos últimos anos um local pouco ativo no cenário do rock potiguar. Ao longo da eclética carreira, Azambuja tocou em bandas como Sangue Blues e Síntese Lunar, além de ultimamente tocar como convidado na barulhenta guitar band Thee Automatics (em algumas apresentações, Azambuja toca guitarra e teclado... ao mesmo tempo!).

"TRamutação" tem capa assinada pelo artista plástico Pedro Pereira. O disco físico sairá com recursos da Lei Aldir Blanc

Em sua nova empreitada musical, o disco começou a ser gravado bem antes da pandemia, mas pela dificuldade de execução e participação de diversos músicos nas canções, o projeto teve de ser adiado e concluído aos poucos. Participam do disco bateristas como Elizeu Araújo, Di Steffano e Augusto Tavares (Thee Automatics), além de Paolo Araújo (ex-Bugs, atual Moloko Drive) no contrabaixo.

Nas doze composições do disco, o que se tem a comentar logo é a versatilidade de Azambuja, passando pelo quase hard rock na abertura com “Darma” e seguindo pela viajante “DNA”. Esta foi feita em parceria com o filho Danilo Azambuja e é uma composição que bandas como o Mahmed tentaram fazer, mas nunca conseguiram. Pelas cadenciadas “Parananda” e “Samsara”, na quebradiça “Lhamas”, na quase quietude de “79” e “Verão na sombra” (esta margeando o jazz fusion em certas passagens), a habilidade com as seis cordas demonstram porque o músico é considerado um dos melhores do instrumento no cenário norte-rio-grandense. O fato é comprovado de vez nos oito minutos da densa “Fractais” (esta contendo sintetizadores ocasionais). Esse aqui é quem deveria estar tocando no Festival de Montreaux ou nos festivais de Pipa ou São Miguel do Gostoso (quando estes voltarem à ativa).

Se você é daqueles que ainda pensa que a música pode salvar o dia, escute o disco de uma ponta a outra. E sem interrupções. E que venham mais discos do “guitar hero” local (ele prefere ser chamado pelo trocadilho de “guitarreiro”). Se você gosta dos acordes de John Frusciante ou J. J. Cale, acorde e vá escutar Adriano Azambuja. Uma verdadeira transmutação sonora. O tempo passa e você nem sente. Isso diz muito em tempos de pandemia quando tudo parece estar parado. 

O disco está para audição gratuita e venda do arquivo virtual no site https://mudernage.bandcamp.com/releases