Banho de água de coco, segundo um certo viajante, faz um bem danado
Colunas
Das muitas propriedades dessa iguaria natural e líquida, quase instituição nordestina, ainda não tinha ouvido falar de uma: que é afrodisíaca
21 de agosto de 2024
Ítalo de Melo Ramalho
Aqui em Sergipe o coco verde é quase uma instituição pública. Verdade seja dita: podemos considerar que é muito mais que isso. Mesmo porque são poucas, ou raríssimas, as instituições que conseguem estabelecer um vínculo afetivo com a população, em geral, e, até mesmo, com alguns grupos de servidores próprios. Mas o coco verde, não! É uma sabida unanimidade “burra”.
Há poucos dias estive em Natal, RN, e constatei que essa fonte de energia se estende por todo litoral do nordeste brasileiro. Acredito, inclusive, que essa fruta, que combate alguns problemas cardíacos e hidrata o corpo de quem a bebe, ultrapasse a fronteira regional e chegue aos demais litorais como dos interiores do país. Até aí nada de novo.
Também é importante informar que com o coco verde e seco são produzidas algumas das iguarias mais referenciadas da culinária local e nacional. Para relembrar vamos citá-las: cocada; doce; moqueca de peixe e de camarão; cuscuz; tapioca; pão doce; quindim; maxixada; e muitas outras coisas. A água, como já foi dito sobre o papel na hidratação, também é bastante consumido junto com às bebidas alcoólicas: whisky, conhaque, rum, cachaça... uma espécie de casadinha etílica. É provável que todos/as, que vierem, possivelmente, ler esta crônica, tenha escutado e/ou saibam sobre esses benefícios proporcionados pelo uso alimentício do coco. Entretanto, talvez, nunca tenham ouvido falar das qualidades afrodisíacas dessa fruta.
Nós sabemos que o povo brasileiro é extremamente criativo no sentido (entre outros) de fazer graça. Não podemos deslizar que a piada já aparece: às vezes pronta; muitas vezes criadas no repente da desgraça. E não foi diferente comigo considerando momento em que escutei o diálogo entre dois homens que viajavam no mesmo ônibus que eu. Com as antenas ligadas no papo ao lado, escutei (mas disfarcei!) quando um deles disse para o outro, depois de uma breve apresentação, que estava morrendo de saudade da sua companheira. O outro, mais brincalhão, disse alguma coisa do tipo: rapaz, você está viajando para bem longe. Aproveite a sua estadia em Natal. Lá só tem moça bonita. O moço saudoso da mulher disse: você diz isso porque não conhece a companheira que tenho. A conversa seguiu por mais algum tempo até que o brincalhão falou: tá certo, então me mostre a fotografia da sua mulher! O outro sacou o celular do bolso e concordou em mostrar apresentando a imagem da dita cuja ao colega de viagem. Sem pensar nas consequências das palavras, o gaiato olhou e gritou: meu querido, eu com uma mulher dessa dava banho de água de coco todo dia.
Com medo do que pudesse acontecer depois dessa declaração, entrei correndo no leito do ônibus e assustado lá fiquei. Aos poucos, fui pensando entre o desfecho para a situação que foi construída, ao tempo que me pegava imaginando de como seria dar um banho de água de coco na mulher amada. A viagem, depois dessa situação um tanto quanto constrangedora, ficou mais leve, ao ponto de eu torcer para que o ônibus demorasse um pouco mais nas paradas. Como se estivesse em busca de matéria quente para o jornal do dia seguinte. De toda forma, ao chegar em Natal, vejo que os dois personagens dessa crônica estavam bebericando na lanchonete da rodoviária. Pensei: devem estar brindando o amor. A verdade é que estavam! Não com água de coco, mas com cerveja.
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