Não é a todos que é dado o dom da palavra.
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Os atos importantes da vida precisam de palavras para serem efetivados, para se fazerem valer, e elas precisam ser pronunciadas em voz alta
12 de janeiro de 2023
Clotilde Tavares
Para falar na palavra, eu quero começar pela poesia. A poesia, como toda manifestação artística é um processo de comunicação. Nela, o elemento principal é a palavra, que vem carregada de significado. A palavra falada tem força. Mesmo vivendo numa sociedade onde predomina a palavra escrita, sempre penso que a palavra falada é mais forte. Papel se rasga. Palavras ditas, no entanto, não têm volta. Os atos importantes da vida precisam de palavras para serem efetivados, para se fazerem valer, e essas palavras precisam ser pronunciadas em voz alta. A condenação do réu, no tribunal; ou a sua absolvição, no confessionário; a ameaça ou a maldição, as palavras rituais: “Eu vos declaro casados”; as palavras mágicas, que movem a imensa rocha que fecha a caverna: “Abracadabra!” ou que amolecem o coração mais resistente: “Eu te amo”, ou ainda: “Nunca”, e aqui faz-se uma pausa dramática, “nunca mais apareça na minha frente!”
A palavra tem poder. A emissão das palavras é um ato de autoridade, e autoridade, mesmo quando conferida legal e efetivamente a alguém, precisa de que haja, nesse alguém, uma base imponderável, um quê de credibilidade, de carisma, para poder fazer valer o que é dito. Essa capacidade, nem todos a têm. Ela pode ser construída, com treino, habilidade, vontade. Mas há quem já nasça com ela, como um talento especial, um dote, uma capacidade.
Muitas vezes a gente diz: eu não sei contar anedotas – pois é, é preciso ter um talento especial para isso.
Então, não é a todos que é dado o dom da palavra. A voz que se espalha no espaço em suas diferentes modulações, as repetições como elemento de fixação, a competência em saber dizer e também em saber silenciar usando uma pausa de efeito, o gesto, a postura corporal, o olhar, a percepção da circunstância ao redor e a capacidade de reagir ao sentimento ou atitude do público, uma duração que não é fixa pelo relógio, mas culturalmente motivada. O meio, que no caso é o falante, é a mensagem.
De onde vem tudo isso? Por que estou escrevendo sobre isso? Primeiro porque estou estudando o assunto para algo que estou escrevendo. Depois, porque tem gente muito eloquente falando na TV diariamente e muitas vezes por dia durante as últimas semanas, não só na TV como também nas diversas telas que capturam nosso olhar cotidiano. Além dos eloquentes, tem ainda gente que se cala, e usa o silêncio como palavra. Mas o que predomina mesmo é a falação, a palavra. Políticos, jornalistas, gente dita comum, youtubers, influenciadores, jornalistas livres (seja lá o que isso signifique), falando, falando, falando sem parar, bem, eu tive overdose de todos eles nestes últimos dias. Aprendi muito, principalmente a conhecer melhor as pessoas, que se traem através não só das palavras como de tudo aquilo que cerca a emissão dela.
Isso confirma o que já afirmei antes: não é todo mundo que sabe contar uma anedota.
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