Flor de Cactus: Babal em carreira-solo, Mingo tocou com Paul Simon, Chico Mendes com Zé Ramalho
Colunas
Formada por músicos talentosos, bandas deixaram legado que reverbera até hoje
29 de setembro de 2022
* Costa Júnior
A era das grandes bandas de bailes em Natal se concentrou na década 70 e nos anos 80. Elas animaram as domingueiras nos principais clubes e algumas partiram para fora do estado, em busca de gravar seus discos e alcançar um êxito bem maior. Entre algumas se destaca a banda “Impacto Cinco”, pioneira do rock potiguar, que fez muito sucesso chegando a gravar três discos. A sua história começa no final de 1969, quando o músico Etelvino Caldas, fã dos Beatles, ao ouvir um disco dos jovens da cidade de Liverpool, Inglaterra, convidou os amigos Lulinha, Joca Costa, Clauton e Poty Lucena para montar uma banda e tocar sem compromisso. Essa era a ideia principal, mas ao fazer muito sucesso, tocando até mais de cinco horas de show em matinês dos principais clubes de Natal como ABC e posteriormente o Aero Clube, os integrantes receberam um convite do natalense Leno, da dupla Leno & Lilian, que trabalhava na gravadora CBS, e foram para o Rio de Janeiro em 1973 para gravar o seu primeiro disco.
Com 80 mil cópias vendidas, o primeiro trabalho fonográfico contava com versões de outros artistas e duas inéditas. O sucsso do LP levou o grupo no ano de 1975 a gravar mais um disco, “Lágrimas Azuis”, produzido novamente por Leno, que teve composições dele com Raul Seixas e dos próprios músicos. O disco, porém, teve uma expressiva vendagem e pouca divulgação nacional, com isso o grupo acabou voltando para Natal.
O retorno às suas origens aconteceu no ano de 1983 quando gravaram “Rio Potengi”, lançado pela Escola de Música da UFRN em parceria com o SESC/RN. Este disco faz parte do Projeto Memória, que foi criado com a finalidade de preservar e tornar conhecido do grande público o que tem de melhor na área cultural do Estado do RN. Neste ano o “Impacto Cinco” passou a fazer um som mais regional, a formação dos músicos era outra e a música também. O grupo estava ainda bem afinado e mais experiente, passando a fazer uma música mais inserida no contexto da cultura regional. Mesmo depois do desfecho da banda, ela ainda hoje é lembrada e sendo uma referência musical da expressão cultural do Estado.
Outro oriundo daquela época é o Sui Generis. Formado pelos três irmãos Romário (piano e vocalista), Rogério (guitarra e vocal), e Paulo (baixista), além de Beto (bateria) e Joãozinho (guitarra), fez bastante sucesso nas domingueiras da Associação dos Subtenentes e Sargentos do Exército- ASSEN. Eles tocaram na capital potiguar até 1977, devido ao grande êxito que conseguiram como banda de baile, em março do ano seguinte os integrantes foram para São Paulo com a finalidade de buscar reconhecimento em todo o Brasil. Assim, eles participaram de diversos programas de auditório, como o “Chacrinha” e “Clube do Bolinha”, até lançarem seu primeiro disco em 1979 na capital paulista. O repertório é quase todo de versões de músicas internacionais. Nos anos 80 a banda se desfez e alguns integrantes ficaram em São Paulo acompanhando alguns artistas. Já Romário Peixoto voltou e fez carreira solo em Natal. Joãozinho montou a banda Grafith, em 4 de novembro de 1988 junto com seus irmãos Kaká, Junior e Carlinhos, que tocavam no Grupo impossíveis.
Quem vivenciou a música brasileira dos anos 80, deve se lembrar do Grupo “Flor de Cactus”, em que teve todos os integrantes de origem potiguar. Ela fez bastante sucesso no Rio de Janeiro, com algumas músicas sendo executadas nas principais rádios da época. Três LPs foram lançados, sendo nos anos de 1980, 1981 e 1982 respectivamente. Quem produziu todos os discos do grupo foi o potiguar Leno, da dupla Leno e Lílian. A formação mudava um pouco a cada disco, mas a maior parte dos músicos permaneceu em todos os trabalhos. A partir do segundo disco, um dos integrantes foi o compositor Babal, que depois passou a ter carreira solo. Com o fim do grupo, alguns músicos migraram para fazerem parte de importantes nomes da música nacional e internacional.
O baixista Chico Guedes, fundador do grupo, foi tocar na banda Z de Zé Ramalho até o seu falecimento em 2019. Já o percussionista Mingo Araújo, aceitou o convite para ser um dos integrantes dos músicos que acompanhavam o cantor e compositor norte-americano Paul Simon. Também fez parte da banda do cearense Raimundo Fagner. O guitarrista Kiko Chagas integrou a banda Vitória Régia de Tim Maia e ainda tocou com Jimmy Cliff, Paulinho Boca de Cantor, Elza Soares e outros nomes da MPB. O grupo ainda contava com Clauton (bateria) e Etelvino Caldas, (Teclado). Um dos grandes momentos do “Flor de Cactus” foi sua apresentação junto com Zé Ramalho no Projeto Seis e Meia do Teatro João Caetano (RJ), em 1981, quando se apresentou para um recorde de público.
Ainda nos anos 80, a proliferação das bandas de bailes em Natal continuou, e quem se destacou bastante na época foi “O Grupo show Terríveis”, levando muita gente as suas apresentações nos principais clubes da capital potiguar. Desde do seu início o grupo teve a proeza de revelar grandes músicos como Roberto Lima, conhecido como “Roberto Cantor”, que esteve presente na banda durante 20 anos, sendo diretor musical e cantor, depois afastar-se para sua carreira solo. Outro integrante do grupo, Dorgival Dantas, natural de Olho d'Água do Borges, entrou com 14 anos de idade como tecladista, oito anos depois passou a integrar a banda da dupla Sirano & Sirino.
Atualmente é um nome reconhecido nacionalmente fazendo carreira solo com seu acordeom, instrumento que aprendeu a tocar com seu pai. Também foi vocalista do grupo, a cantora Solange Almeida, de 1995 a 1999, onde neste ano ela adere a um outro projeto, a "Banda G" de Carpina ( PE,) onde gravou 2 CDs. Em 2002 passa a ser a principal vocalista da banda “Aviões do Forró”. “O Grupo Show Terríveis” ainda contou na sua formação nomes como Julinho e Ferrinho na Bateria e o multi-instrumentista, Jubileu Filho, nascido em Currais Novos/RN. Ele veio para Natal com 14 anos, começando a tocar trompete no grupo e depois passou ser guitarrista. Atualmente é um musicista de reconhecimento em todo o Brasil pela sua arte na guitarra. Teve outros grandes músicos que participaram do grupo como Sérgio Preto, baixista, Bethoven e Vagner na Percussão.
Formado na UFRN, Costa Júnior atuou como repórter na imprensa potiguar e na acriana, além de ter sido editor por várias décadas do jornal Zona Sul, que circulava em Ponta Negra. É pesquisador cultural e amante da Música Popular Brasileira.
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