Prédio colonial também foi Armazém Real e sede do Iphan RN. foto: João Maria Alves

Reportagens

Antiga casa do Padre João Maria será Centro de referência do Patrimônio Imaterial do RN, diz Iphan

Segundo a direção, restauração do imóvel foi concluída e objetivo é cedê-lo para gestão sustentável através de associação cultural

07 de junho de 2021

Cinthia Lopes

O entorno da praça Padre João Maria, no Centro Histórico da Cidade Alta, possui exemplares arquitetônicos ainda preservados do passado Colonial. Um deles é o prédio do antigo Armazém Real da Capitania, datado de 1752 que dentre seus muitos usos serviu de residência do Padre João Maria (1848-1905). Sob tutela do IPHAN-RN desde a década de 1980, quando foi reformado pelo Governo, a casa foi a primeira sede da administração local do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional antes da mudança para a Ribeira. 

O prédio da Rua da Conceição, 603, é um dos poucos projetos aprovados pelo PAC Cidades Históricas, Programa de Aceleração de Crescimento lançado em 2013 para recuperação de sítios históricos visando a Copa do Mundo. Mas seu restauro só engrenou em 2019 numa minunciosa recuperação que manteve a sala de pedra e cal original do século 18 . A boa notícia é que a reforma foi concluída e no lugar de abrigar um escritório do órgão federal, terá uma destinação para a cultura e também à população. O objetivo da gestão é criar o Centro de referência do Patrimônio Imaterial do Rio Grande do Norte, ou melhor a Casa do Patrimônio Imaterial, informação confirmada pelo diretor do IPHAN no RN, Cláudio Machado, em um rápido depoimento ao TL. 

| O prédio branco e amarelo do Século XVIII fica entre o Museu Café Filho e a praça Padre João Maria. Foto: João Maria Alves 

Segundo Machado, a restauração do imóvel foi concluída no ano passado e desde então é intenção do IPHAN dotar o espaço como referência para os norte-rio-grandenses na área de patrimônio. “O nosso foco é conseguir a salvaguarda do nosso patrimônio imaterial”, disse o gestor, referindo-se aos bens e seus detentores, incluídos no Livro de Registro do IPHAN Nacional. Expressões, manifestações e festejos como Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, Literatura de Cordel, Festa de Sant’Ana de Caicó e a Roda de Capoeira. Ele revelou que mais duas manifestações devem entrar até o final deste ano:“o Repente e as Matrizes do Forró estão em análise para ter o registro ainda este ano", contou.

TIPOGRAFIA E SUSTENTABILIDADE

Ainda de acordo com Cláudio Machado, a gestão da 'Casa do Patrimônio Imaterial' não será feita pela instituição nacional, mas sim pelos detentores através de uma associação, que reúne representantes de entidades como Sociedade dos Poetas Vivos e Afins (SPVA) e Associação Potiguar de Teatro de Bonecos (APOTB) entre outras.

“O IPHAN vai dar a Casa e já existe um processo na instituição em andamento para compra o mobiliário e da Tipografia permanente, que vai fomentar e dar sustentabilidade ao espaço”, explicou.

Os recursos devem vir do Governo Federal por meio do IPHAN, "mas dependem de dotação orçamentária para 2021", disse Claudio, lembrando que essa articulação para a ocupação sustentável do espaço está em andamento desde 2020. “Desde o ano passado estamos na parte do processo básico e agora é esperar a liberação dos recursos para concluirmos. Se não for por esse meio vai ser por outro. Também estamos buscando parcerias para apoiar a associação para que ela fique aberta e seja um espaço realmente sustentável. A área imaterial ainda é uma política muito recente e necessita desse fomento”, acrescentou.

Patrimônios imateriais do RN no Livro de Registros Nacional:

A Festa de Sant'Ana de Caicó 
Celebração tradicional que ocorre há mais de 260 anos e reúne diversos rituais religiosos, profanos e outras manifestações culturais da região do Seridó norte-rio-grandense. Além de uma celebração representativa para este município, ela permite também vislumbrar a diversidade das manifestações culturais e possibilita a compreensão abrangente do Seridó potiguar. Como Patrimônio Imaterial, foi inscrita no Livro de Registro das Celebrações em 2010.

Literatura de Cordel
Inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão em setembro de 2018, refere-se não apenas ao gênero literário, mas também a um veículo de comunicação, ofício e meio de sobrevivência para inúmeros cordelistas. Inserido na cultura nacional em fins do século XIX, o cordel é elemento constituinte da diversidade cultural brasileira, com contribuições das culturas africana, indígena, europeia e árabe.

Teatro de Bonecos Popular do Nordeste 


Inscrito no Livro de Formas de Expressão desde março de 2015,teve seu pedido de inclusão solicitado pela Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB), o que mostra a tendência de uma apropriação da sociedade sobre suas manifestações. Os estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal, compõem a área de abrangência dessa manifestação cultural. Não é um brinquedo ou um traço do folclore, e envolve, sobretudo, a produção de conhecimento criativo, artístico e com uma forte carga de representação teatral. Uma tradição que revela uma das facetas da cultura brasileira, onde brincantes, por meio da arte dos bonecos, encenam histórias apreendidas na tradição que falam de relações sociais estabelecidas em um dado período da sociedade nordestina e de histórias que continuam revelando seu cotidiano, através dos novos enredos, personagens, música, linguagem verbal. Os bonecos têm nomes diferentes de acordo com suas localidades. Mamulengo, Babau, João Redondo, Cassimiro Coco.

 

Roda de Capoeira 
Está inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão desde 2008 - Trata-se de um elemento estruturante de uma manifestação cultural, espaço e tempo, onde se expressam simultaneamente o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais de herança africana - notadamente banto - recriados no Brasil. Profundamente ritualizada, a roda de capoeira congrega cantigas e movimentos que expressam uma visão de mundo, uma hierarquia e um código de ética que são compartilhados pelo grupo. Na roda de capoeira se batizam os iniciantes, se formam e se consagram os grandes mestres, se transmitem e se reiteram práticas e valores afro-brasileiros.