Transferência dos maracatus de seu local tradicional de exibição foi alvo de críticas
É Típico!
Algumas reflexões pós-carnaval sobre política pública, os maracatus de Nazaré e a situação das Tribos de Índio de Natal
19 de março de 2023
*Por Danielle Brito
Dor nº 1.
Quem me conhece sabe que a festa popular que amo é o Carnaval, para mim é meu Natal, Ano Novo, São João e aniversário tudo junto. Ano a ano crio expectativas de todo o tamanho e sim, após passado os dias momescos, fico de banzo.
O Carnaval de 2023 foi um mister de o primeiro da vida e o último, falar da pandemia já é lugar comum (amém), no entanto no meio de tanta alegria trago reflexões do que vi e vivi nos dias que tive o privilégio de acompanhar de uma forma ou de outra. Isto é, outras eu perguntei como foi a quem estava presente.
Da que eu estava presente, fui ao maior encontro de Maracatus de Baque Solto da zona da mata pernambucana que acontece na cidade de Nazaré da Mata, a mais de 20 anos.
Apesar de existir um mais antigo, idealizado por Mestre Salustiano, juntamente, com a Associação dos Maracatus de Baque Solto (AMBS), com 30 realizações completadas esse ano, sendo em Aliança e em Olinda (PE). Esse último foi apoiado mais fortemente pelo Governo do Estado. Em detrimento do mais novo, porém, maior o de Nazaré da Mata.
O que frequento desde o inícios dos anos 2000, Nazaré da Mata, esse ano mostrou uma face dura da política pública. De início houve embates com a governança municipal e os brincantes. A prefeitura de Nazaré da Mata determinou a mudança do local que tradicionalmente era a catedral de Nossa Senhora da Conceição, iria para o Parque dos Lanceiros, na entrada da cidade.
O argumento usado era que a pracinha defronte à igreja tinha sido reformada e que com a festa iria ser "destruída", algumas vozes contra esta decisão foram levantadas, dentre eles, do Mestre Anderson Miguel, que para além de sua poesia admiro cada vez mais.
O que vimos na segunda-feira do Encontro de Maracatus é que a decisão do alcaide não agradou nem aos grupos e nem a nós, plateia. Se antes a infraestrutura já não era das melhores, no Parque dos Lanceiros piorou. A rua ficou pequena para realização das manobras dos caboclos, lugar pequeno para a concentração dos grupos e espera da sua hora de apresentação, um palco tímido para apresentação do Mestre e do Terno.
Da apresentação dos Mestres no palco, o único que teve a coragem de dizer da insatisfação foi Mestre Anderson Miguel, que traz consigo o Maracatu Cambinda Brasileira e seus 105 anos de fundação, os demais parece que o acontecido não foi relevante.
Desse imbróglio, podemos deduzir que não houve no período pré-carnavalesco nenhuma ação de mediação do conflito entre a Igreja, a Prefeitura e os Maracatus. Pergunto: enquanto Patrimônio Cultural Brasileiro não cabia ao Iphan e ao Governo do Estado de Pernambuco a mediação para uma melhor resolução do problema?
Dor nº 2
Se a primeira dor a gente vai lembrar muito, a segunda pode ser maior que a primeira, e pode ser incurável. Há mais de 30 anos que moro em Natal, estou aqui a mais tempo do que no lugar que nasci. Vi nascer coisas, outras definhar e morrer de inanição.
Na situação de inanição encontram-se as Tribos de Índios da cidade do Natal que em tempos passados coloria o carnaval da cidade, e ainda agrega outros grupos de municípios da Grande Natal, como os de Ceará Mirim e São Gonçalo do Amarante.
A última vez que tive contato foi há muito tempo atrás com ambos os grupos, mas, a minha pouca convivência não significa que não os lembre, até porque o senhor Raimundo Nonato Brasil é Patrimônio da cidade do Natal e liderava a Tribo Potiguares.
As quatro Tribos apresentaram-se na Ribeira e foram quatro, Tupi Guarani, Apache, Gaviões Amarelo e Tabajara. No início dos anos 2000 as Tribos tinham categorias para desfilar, inclusive, grupo de acesso. Se a memória não me falha, em 2010 ainda acontecia assim. A Apache, por exemplo, é nova, nasceu em 2010 na cidade do Ceará Mirim, hoje está sediada em Natal, no bairro de Felipe Camarão, e naquele ano participou do grupo de acesso.
Se a Apache nasceu na primeira década dos anos 2000, estamos assistindo a sua bravura em desfilar em 2023, sem concurso e sem premiação, diferentemente, como as Escolas de Samba. Por isso, faz-se urgente um apoio durante o ano para tais grupos, que ao longo dos anos estão de fora das políticas públicas de cultura. Talvez, um prêmio aqui e acolá aos Mestres, mas isso é capaz de lhes dar sustentabilidade, para promoção e transmissão? A segunda pergunta.
Acredito que precisamos de uma invasão Tapuia e Potiguar com apoio do poder público. Quanto ao (s) Patrimônio(s) Cultural (ais) e seus Decretos fica para uma outra hora.
* Jornalista, Produtora Cultural, Especialista em Gestão Cultural, Mestre em Política Cultural Autárquica, Doutora em Ciências Sociais
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