Furar a fila dos sonhos não garante imortalidade. O que vale é viver agora e caminhar. Foto: LO

Colunas

As palavras no papel

Sigo um caminho que às vezes é escolha, às vezes é escolho. E decidi desdizer uma voz que sempre me falou em desistências.

11 de julho de 2021

Lívio Oliveira

Lendo os diários de Piglia e de Kafka até pensei em inaugurar algo parecido. Não sei ainda se desisti. Melhor manter todo esse movimento íntimo em segredo. Ora, tão poucos compreendem de que matéria são feitas as palavras honestas! 

De qualquer forma, sigo um caminho que às vezes é escolha, às vezes é escolho. E decidi desdizer uma voz que sempre me falou em desistências. Agora não cabe. Se houver alguma, será na undécima hora e quando não existirem mais forças. As fraquezas e a ignorância não são mesmo sempre relativas? Em que disciplina você decidiu ser fraco ou ignorante?! Pois seja, enquanto há tempo!

Haverá um momento em que de tudo saberemos. Será o momento da sensaboria, o momento do desligamento e de todos os esquecimentos.

Não vale adiantar isso. Furar a fila dos sonhos não garante imortalidade. O que vale é viver agora e caminhar por todos os bairros, de manhãzinha, de preferência, quando todos estiverem dormindo e você puder caminhar sobre os paralelepípedos antigos do bairro antigo sem que lhe exijam roteiros estabelecidos e já batidos.

Acredito que construí um castelo no meu bairro antigo. Nunca sei o que guardei lá. Voltarei sempre para explorar e, se perceber que algo existe nas masmorras, libertar com fé e firmeza.

Se houver alguma gaiola pendurada e esquecida, darei alimento, água e liberdade aos pássaros, para que possam fazer a festa única que se aceita para quebrar os silêncios que entronizei. 

O barulho sagrado dos pássaros da mente ilhada e que resgatam sons e cores daquilo que vivi e que mais quis viver: isso acalma, traz conforto ao coração.