O autor mostra a rotina da monumental New York Public Library. Foto: Acervo
Reportagens
Em 54 textos e 150 fotografias autorais, escritor e jurista Marcelo Alves Dias relata experiências pessoais nos ambientes literários pelo mundo
03 de novembro de 2020
Por Cinthia Lopes
Quem frequenta bibliotecas, livrarias e sebos tem uma relação com o ambiente literário engraçada. Há quem ame o cheiro dos livros ou as conversas com o livreiro sem hora para findar. O escritor, professor e procurador da República Marcelo Alves Dias de Souza sempre se sentiu atraído pelo colorido desses lugares de estantes históricas que encantam e desafiam sua curiosidade de leitor. Quando viaja, tem o hábito de visitar qualquer endereço que tenha livros, seja uma grande biblioteca secular ou um café literário. E costuma ter uma história para contar de cada novo exemplar que adquire. Muitas das coisas que escreve em ensaios e artigos nos jornais estão relacionadas às experiências literárias.
Toda essa vivência o conduziu ao livro publicado agora “Sobre Livrarias & Bibliotecas” (Ed.: Livros de Papel e Sebo Vermelho) um guia literário, curioso e muito informativo sobre livrarias, sebos, bibliotecas centenárias ou seculares e bazares de rua pelo mundo. A obra traz 54 textos e 150 imagens autorais com a experiência do autor nesses ambientes de cultura.
O dia a dia na movimentada New York Public Library. foto do autor.
“Sobre Livrarias & Bibliotecas” não terá lançamento presencial por causa da pandemia. O escritor já está distribuindo a edição nas principais livrarias e revistarias de Natal e destina toda a renda com a venda do livro para instituições de amparo a pessoas e animais em situação de necessidade. Assim, autor e leitores estarão engajados numa obra social em prol daqueles precisam. A publicação pode ser adquirida no Sebo Vermelho (av. Rio Branco), Livraria Manimbu (rua Açu), Cooperativa Cultural da UFRN, Tota Tabacaria (antiga Banca Cidade do Sol) e Banca Atheneu, ao preço de R$ 50.
Atrás de livros
Autor do prefácio de “Sobre Livrarias e Bibliotecas”, o jurista Marcelo Navarro foi buscar em Miguel de Cervantes Saavedra uma explicação para as andanças de Marcelo: “Quem lê muito e anda muito, vai longe e sabe muito”. O escritor foi realmente longe no quesito distância e variedade: Passou por Londres, Paris, Madri, Buenos Aires, Nova York, Roma. Visitou bibliotecas na Escócia, Gales e Irlanda. A que inspirou “O Nome da Rosa” (Umberto Eco) na Abadia de Melk, na Áustria, considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO. A Le Procope de Paris e a literatura que a envolve; da British Library; Casa do Brasil em Madri; livraria e biblioteca de Edimburgo; as livrarias com cafés em Lisboa, do Trinity College em Dublin; o bazar de Istambul, os livros baratos vendidos nas feiras da Índia; a Books Knokiniya, de Dubai. Da pequenina Alambaster em Downtown à gigante Barnes, em NY, sem esquecer a New York Public Library. E também as bancas e pequenos sebos da Corrientes, em Buenos Aires.
Palácio dos Ventos de Jaipur, Bazar em Istambul e o autor na Radcliffe Camera da Bodleian Library
Na Índia, visitou a pitoresca cidade de Jaipur, conhecida como a cidade rosa e também por sediar um festival literário famoso. “Lá os livros estão em um mercado enorme, no meio daquela desorganização organizada encontrei muitos livros baratos nas edições em inglês”, comentou. A maratona foi longa, mas prazerosa. “Eu me sinto muito bem em livrarias e bibliotecas, acho que sempre fui atraído por elas pelo colorido. E essa paixão pelos livros não tem tanta relação com minha formação profissional. Na verdade os livros me fizeram estudar temas que estão distantes do direito, o que é bom! É o prazer da literatura em si”, explica.
Marcelo Alves diz não ter preferência entre livraria ou biblioteca, mas quando é para adquirir uma obra desejada, prefere ir até o local em vez da comprar pela Internet. “Eu não me considero um colecionador à moda antiga que vive de comprar obras raras. Mas quando quero fazer uma coleção de algum autor, vou procurar principalmente em sebos. Adquiro um exemplar de cada vez e ainda tem uma historinha sobre cada um deles”.
O escritor tem o hábito de reler as obras em fases diferentes da vida e datá-las a cada revisita. Por isso tem uma frase favorita, do poeta Jorge Luís Borges, que gosta de citar: “Um livro que não merece ser relido não merece ser lido”.
A Books Kinokuniya, no Dubai Mall e o tradicional comércio de livros na Índia - que valem uma mala extra na bagagem. Fotos: do acervo do autor
Provocação
‘Desde “A Biblioteca e Seus Habitantes” do bibliófilo potiguar Américo de Oliveira Costa, não se escrevia por aqui um livro sobre o amor aos livros e suas estantes’. Foi com este argumento que o editor e livreiro Abimael Silva, do Sebo Vermelho, lançou a ideia ao escritor Marcelo Alves, que logo tratou de por em prática, passando a direcionar suas viagens para visitar livrarias e bibliotecas.
O encantamento pela literatura, porém, é mais antigo. Começou adolescente quando sonhou acordado ao ler “Amor a Roma”, de Afonso Arinos de Melo Franco — o exemplar que pegou da biblioteca do pai. Já formado e fazendo doutorado em Londres, passava noites esmiuçando a biblioteca 24 horas do King’s College London. É deste tempo em Londres que as bibliotecas viraram temática de suas escrituras. Foram quatro anos numa rotina de frequentar esses espaços e naturalmente eles acabaram por compor cenários de seus artigos e livros. Exemplo da trilogia “Ensaios Ingleses”, “Retratos Ingleses” e “Códigos Ingleses”, reunindo textos publicados nos principais jornais locais Tribuna do Norte e Diário de Natal.
"Sobre Livrarias & Bibliotecas" está à venda nas principais livrarias e revistarias
O escritor também lembra que bibliotecas são transformadoras e fazem falta numa comunidade, lembrando a Biblioteca Estadual Câmara Cascudo. “Frequentei com meu pai na infância. A biblioteca faz muita falta, ela precisa estar de portas abertas e com um funcionamento de qualidade para que a população possa frequentar e fazer dela um espaço cultural”, pontua. “No período que eu estava lá na Inglaterra observei campanhas, não só governamentais, mas da sociedade civil organizada, nos meios de comunicação, semeando a difusão de bibliotecas das pequenas às grandes.”
ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS
Marcelo Alves já é membro da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte, ocupando a cadeira do patrono Hélio Galvão. Recentemente, seu nome foi sugerido para concorrer a uma vaga na Academia Norte-rio-grandense de Letras, na cadeira que foi ocupada pelo jornalista e escritor Murilo Melo Filho. A eleição acontece em dezembro e o escritor está confiante: “Amigos membros da Academia de Letras me incentivaram a concorrer a uma das vagas, acredito que minha obra está mais ligada à literatura, escrevo sobre livros, cinema, literatura”, conta.
Sobre sua indicação à ANRL, o jurista Marcelo Navarro escreveu: “Marcelo Alves Dias de Souza merece vir para a Academia Norte-rio-grandense de Letras. E não apenas por seus trabalhos na área jurídica, conquanto estes bastassem. Mas é que Marcelo é um literato, um escritor - autor de 5 livros sem contar as co-autorias - que não se limita ao Direito, mas se espraia, em textos intrinsecamente interessantes do ponto de vista literário, por todos os campos da Cultura, da Arte, da História, da Literatura mesma, da Pintura, da Escultura, da Arquitetura, do Cinema e de tantas outras áreas que domina de forma invejável. É um humanista dotado de notável visão crítica de sua cidade e do mundo, de que é um observador privilegiado e sempre muito espirituoso. Não apenas Marcelo faz jus a entrar na Casa de Câmara Cascudo. Esta também se beneficiará das luzes, do ar renovado, de tudo de bom, belo e elevado que Marcelo há de trazer", escreveu.
Alguns trechos
"Ontem passei o dia na British Library. Não era minha primeira vez, é verdade. E confesso que fui lá com dois propósitos bem definidos: registrar-me formalmente na biblioteca, para ter um acesso mais amplo a seu acervo e, especialmente, ver a Magna Carta (também chamada de Magna Carta Libertatum ou Grande Carta das Liberdades), na sua versão original, de 1215, que a British Library possui em exposição no seu museu. Originalmente escrita em latim e conhecida, no Brasil e mesmo no mundo de língua inglesa, pelo seu nome latino, a Magna Carta, para quem não sabe, é um dos documentos mais importantes da história do direito e, por que não dizer, da Humanidade."
"topei com algo inusitado. Naquele dia – era um sábado, dia 4 de junho – a biblioteca (de Boston), através e para os seus “amigos”, estava fazendo uma “desova” de parte do seu acervo. É algo que está sendo feito bimestralmente este ano. Livros a preço de banana. Uma das promoções era: encha um saco – enorme, diga-se – com livros de ficção e pague apenas 10 dólares. E por aí vai. Confesso: minha fúria consumista voltou e só fui contido no último instante pela lembrança de que livros pesam pra burro. Balanço final: “apenas” três sacos. E estão esses livros marcados pelo tombo da Biblioteca de Boston. Mas quem doravante tomar emprestados meus livros, pode ter certeza: eu não os roubei (como podem ter feito, quem sabe, muitos dos prêmios Nobel que perambularam por aquelas estantes?).”
".E por falar na British Library, não esqueçamos sua lojinha, melhor definida, como eu disse aqui na crônica da semana passada (vide “O futuro da biblioteca”), como uma livraria que vende livros sobre livros. O “turista literário”, se procura por títulos como “1000 Years of English Literature”, “A Book Addict’s Treasury”, “Libraries within
the Library”, “Books as History”, “Form and Meaning in the History of Books” e por aí vai, ali os encontra, como diria o nosso Castro Alves (1847-1871), “à mão cheia”.
Mas não só de pequenas livrarias e lojinhas vive o bairro Bloomsbury. Tem-se a colossal livraria Waterstones (que serve aos professores e estudantes da Universidade de Londres) e os sebos, que são muitos, grandes e pequenos. Isso sem falar nas livrarias jurídicas, mais ao sul de Bloomsbury, nas cercanias das estações de metrô de Holborn e Chancery Lane."
Serviço:
Lançamento de “Sobre Livrarias & Bibliotecas”, de Marcelo Alves Dias de Souza. Edição Livros de Papel e Sebo Vermelho | 256 pgs, ilustrado.
Editores: Mário Ivo Cavalcanti e Abimael Silva | Revisão: Alci Silvera, Ivonete Silveira, Cecília Balaban, Tales Guerra e Manoel Onofre Jr. | Capa, diagramação e arte final: Gustavo Lamartine | [coedição 2020] [Coleção João Nicodemos de Lima no 538] | LIVROS DE PAPEL Editora e SEBO VERMELHO Edições
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