Os PFs se destacam pela fartura que é peculiar à cozinha e ao atendimento das Minas Gerais

Colunas

Buteco do Mineiro: Em Ponta Negra um  ́"trem" de comida boa

Em meio a bares da moda, boteco honra a tradição servindo cerveja estupidamente gelada, bebidas baratas e comida farta ao gosto dos mineiros

03 de março de 2023

 

 

Cefas Carvalho  

Numa rua e vizinhança marcada por barzinhos sofisticados da moda, restaurantes "chiques" e estabelecimentos turísticos, o Buteco (com "u" mesmo não com a letra "o") do Mineiro é uma espécie de 'estranho no ninho' na área, honrando a história dos botecos tradicionais com cerveja estupidamente gelada, bebidas boas e baratas, simplicidade e comida farta, bem temperada e a preços mais que justos, como honra a tradição gastronômica (e etílica) das Minas Gerais, uai.

O responsável pelo negócio é Ronaldo Luís Pena, o "Mineiro", apelido pelo qual atende desde que chegou em Natal em 2003. Nascido em São João del Rei, bela cidade setecentista de Minas Gerais, distante 186 km da capital Belo Horizonte, filho de pais também mineiros, ele de Cassiterita (Conceição da Barra), ela de Perdões. Mas após servir o exército, o jovem Ronaldo foi morar em São Paulo, no charmoso bairro Bela Vista, onde primeiro ajudou a irmã em uma autoescola e depois passou em concurso para bancário e trabalhou por quase duas décadas no Itaú e depois no antigo Banespa. 

Em 2001 Ronaldo saiu do banco e montou sua própria auto escola, na capital paulista. Contudo, problemas burocráticos e operacionais fizeram com que "quebrasse" e sem querer ficar em São Paulo acabou aceitando o convite de uma sobrinha que morava em Natal, cidade onde até então jamais havia sequer visitado. "Em agosto de 2003 vim morar em Natal e para minha sorte era no governo Lula, havia muitos empregos e oportunidades na cidade com a economia indo bem, então distribuí currículos e comecei a trabalhar em uma agência de viagens".

Contudo, sociável e fazendo amigos com facilidade, Ronaldo não tardou a conhecer pessoas do setor de bares e restaurantes. E dessa maneira "acabei abrindo meu primeiro bar, com um sócio, o Assim Assado, no espaço onde hoje funciona o Terraço. Desfiz a sociedade e depois acabei trabalhando no Decky, no Viola e no Tempero Mineiro onde acabei aprendendo muita coisa", relata. "Acabei trabalhando em um lugar, com dois freezers, vendendo gelo, onde hoje é o bar, conhecido à época como bar do Carioca, inclusive morando no bar, até que um dia o dono fugiu, levando o que podia e o dono do imóvel permitiu que eu ficasse até completar o mês", diverte-se.

"Naquelas semanas aproveitei que havia uma sinuca no bar e convidei amigos e conhecidos e aproveitei para comprar cerveja para vender para eles, de maneira que no fim do mês tanto os amigos-clientes como o dono do espaço me convenceram a ficar e montar um bar de verdade.  Arrumei umas mesas de plástico, um fogão de duas bocas para fritar algum tira gostos para os amigos e a coisa por pegando", lembra. Em 2009 comprei material de um casal que tinha um restaurante e estava indo morar em Manaus e acabei formando condições de ser um bar, que naquela época nem tinha nome, embora já fosse conhecido como Mineiro. Então o nome acabou ficando mesmo Buteco do Mineiro", lembra. 

Ronaldo/Mineiro registra que não tem "vocação para cozinha, gosto é de gente, de relacionar com o público", mas que contou com a ajuda do irmão mais velho, que cozinha muito bem, trabalhou em São Paulo vinte anos com Silvio Santos e depois montou o Pennas Bar em São João del Rey, até hoje funcionando como uma dos melhores da cidade.

Também acertou na escolha das cozinheiras, que sempre tiveram que seguir a linha de culinária mineira e caprichar no tempero. "Para mim, tempero é muito alho e sal, não existe muito além disso e quem trabalha aqui sabe que pode carregar no alho", assinala. Como defensor da máxima que o conceito "muito alho" não existe (chego a comer alho puro enquanto cozinho) defendo a política do Mineiro com unhas e dentes.

FUTEBOL

Curiosidades sobre a casa: Com camisas de time de futebol pelo salão e um clima futebolístico no ar,  o Buteco do Mineiro parece o lugar ideal para assistir partidas de campeonatos brasileiro e estaduais. Sim, mas muita calma nessa hora. "Já transmitimos futebol aqui em três tvs e um telão, mas tive uns problemas com torcidas que vinham em grupos e falavam palavrão demais, perturbando a vizinhança. Mas pretendo voltar a exibir jogos de futebol entre quintas e sábados", explica, para alegria dos clientes, que sonham com essa iniciativa. Outra curiosidade: o local é point de mineiros radicados em Natal e cidades vizinhas, de maneira que é normal circular entre as mesas ouvindo as pessoas se cumprimentarem e conversarem com "uai", "esse trem" e "sô" e outras pérolas do mineirês.

Curiosamente, Mineiro nem é Galo (Atlético-MG) nem Raposa (Cruzeiro), e muito menos América-MG. "Sou vascaíno", comenta rindo, explicando que a proximidade com o Rio de Janeiro e o espírito cosmopolita o levaram a torcer pelo time da cruz de malta. Esquerdista assumido, Mineiro também acabou fazendo com que o bar se tornasse ponto de encontro entre militantes progressistas de Ponta Negra e outros bairros de Natal. Inclusive parei no buteco para almoçar após votar no segundo turno da eleição de outubro passado e acabei ficando (em sistema de locked in) para assistir a apuração dos votos e vitória de Lula com o próprio Mineiro e poucos e seletos amigos lulistas. Tudo isso com comida e bebida. Experiência para não se esquecer.

CARDÁPIO

É um "trem" de comida no cardápio que não dá para destacar um prato só ou o carro chefe da casa. Como muita gente vai para almoçar, os PFs se destacam, com a fartura que é peculiar à cozinha e ao atendimento das Minas Gerais. Particularmente gosto demais do bife acebolado acompanhado de tutu de feijão e arroz (R$ 29 ) e mais recentemente me dediquei com devoção à Bisteca suína com feijão tropeiro, couve e ovo frito (R$ 27). Tem também Filé de Peixe, Filé de Frango, carne de sol, Linguiça e Fígado, todos variando entre 20 e 35 contos, com a ressalva que dá tranquilamente para duas pessoas comerem, desde que não sejam ogras nem estejam desmaiando de fome. 

Na parte dos petiscos para acompanhar a cerveja gelada tem o tradicional de botecos (Calabresa, batata e macaxeira frita, isca de frango e peixe) mas se destacam no cardápio a Moela ao molho (R$ 22 a porção, R$ 13 a meia porção) e, claro, o sensacional Torresmo (R$ 13 a porção e R$ 8 a meia porção), talvez o melhor da cidade. Segundo Mineiro, os pratos com carne e tutu saem muito mas possivelmente o prato mais pedido seja a feijoada, atração da casa entre sexta e domingo. Também já comi e recomendo. Como recomendo todo o cardápio, uai!

FIQUE LIGADO

Av. Praia de Ponta Negra, 9104, Natal (Próximo à Praça do Gringos)
(84) 3236-2039