Em sua estreia em livro, mais uma vez, Cascudo parece ter pensado à frente de seu tempo.
É Típico!
Lançada originalmente em 1921, segunda edição fac-similar chegará pela iniciativa de Eulália Duarte Barros, da ANRL, autorizada pelo Ludovicus
12 de maio de 2021
por Alexandre Alves
Muito mais conhecido posteriormente por sua produção sobre cultura em geral, o gigante Luís da Câmara Cascudo retorna agora em nova edição de sua primeira obra, “Alma patrícia”. Publicada originalmente em 1921, quando o autor possuía apenas 22 anos de idade (!), o livro está ganhando uma segunda edição fac-similar pela iniciativa de Eulalia Duarte Barros, que faz parte da Academia Norte-rio-grandense de Letras e teve autorização e apoio do Instituto Ludovicus. A última edição da obra havia sido em 1998.
Falecido no ano de 1986, o mais conhecido escritor norte-rio-grandense publicou dezenas de obras ao longo de sua carreira e sempre abordou vários temas e assuntos (literatura, costumes, comida, objetos, biografias e viagens são apenas alguns deles). Todavia, ao iniciar sua longeva bibliografia, o natalense optou por escrever uma obra de crítica literária ou o que ele mesmo chamou em seu prefácio da obra de “crítica impressionista ou admirativa”.
Além do prefácio, nela estão presentes textos sobre 18 autores e mais um posfácio ainda do próprio Cascudo, que reclama que “Nos limites deste livro não me era permitido estudar de uma vez a vida intelectual do meu Estado” (neste posfácio aparecem mais comentários sobre outros autores não citados entre os anteriores, mas de forma bem breve). Inclusive, o livro foi pensado como obra conjunta com o macaibense e poeta Murilo Aranha, falecido precocemente ainda em 1919.
No recheio do livro aparecem textos – separados em forma de capítulos – que variam da abertura com seis páginas sobre Sebastião Fernandes (autor do obscuro “Alma deserta”, de 1906 e até hoje sem reedição) até as doze páginas dedicadas a Palmyra Wanderley ou Henrique Castriciano. Todos eles, de uma forma ou outra, ainda escreviam uma lírica nos moldes românticos, parnasianos ou simbolistas – ou mesclavam tudo, como Auta de Souza –, ecoando ainda os ditames poéticos do século XIX (lembremos que, na década de 1920, a capital contava com apenas 20.000 habitantes). Portanto, não havia qualquer sinal do verso moderno, prática que se espalhou gradativamente pelo país somente após a Semana de Arte Moderna de 1922.
A edição original de 1921 e a primeira reedição de 1998.
Tida como uma obra “menor” por estudiosos como Moacy Cirne (que relata isto no “Dicionário Crítico Câmara Cascudo”, organizado em 2003 pelo Prof. Marcos Silva, da USP), ao longo das quase 190 páginas de “Alma patrícia” estão valiosas informações sobre os autores potiguares, evidenciando como a poesia já se fazia bastante presente na vida potiguar.
Entre nomes mais conhecidos figuram textos exclusivos sobre Othoniel Menezes, Ferreira Itajubá, Auta de Souza, Ezequiel Wanderley e Segundo Wanderley. Porém, o achado maior da obra se encontra na citação de poetas até hoje ainda não apreciados pelos estudiosos da área. São nomes como os do decadentista Gothardo Neto – autor de “Folhas mortas”, de 1911 e até hoje sem reedição –, o caicoense Abner de Brito (chamado por Cascudo de Augusto dos Anjos “mais triste, mais negro”) e de Ponciano Barbosa, este nomeado por Cascudo como sendo “nosso Cesário Verde” e autor do livro intitulado “Dúvida”, de 1915.
Entre as omissões de Cascudo para o ano de publicação da obra surgem nomes que não poderiam ter ficado de fora, como a assuense Anna Lima (autora de “Verbenas”, de 1902) e os também assuenses José Leão – que publicou “Aves de arribação” em 1877 – e Luís Carlos Wanderley, este sendo o autor do desaparecido livro “Lira de amor”, de 1857, além de Nísia Floresta e sua “A lágrima de um caeté” (1849). Entretanto, todos estes nomes acabaram reaparecendo em algumas das milhares de crônicas publicadas por Cascudo por décadas a partir de 1930.
De modo geral, este foi o mérito maior inicial de Câmara Cascudo: listar e comentar os nomes de quem ele considerava como parte da lírica essencial norte-rio-grandense. Em sua estreia em livro, mais uma vez, Cascudo parece ter pensado à frente de seu tempo.
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