Candinha Bezerra deixa legado em acervos como o Nação Potiguar, Galante e na área de fotografia

É Típico!

Candinha Bezerra: Um legado para música, memória e cultura popular

A produtora, fotógrafa e pianista foi responsável por iniciativas como o projeto Nação Potiguar e o Festival Literário da Pipa

14 de outubro de 2025

Faleceu nesta segunda-feira (13) a produtora cultural, pianista e fotógrafa Candinha Bezerra, uma das figuras mais atuantes da cultura potiguar no início deste século. Por três décadas, Candinha foi presença essencial em projetos que uniram arte, música, educação e cultura popular, sendo conhecida como grande articuladora institucional para consolidação de projetos como Nação Potiguar e Festival Literário da Pipa.

A produtora também foi responsável por iniciativas como o projeto Nação Potiguar, que transitou pela arte, música e cultura popular, fazendo um mapeamento sonoro e visual das tradições do Rio Grande do Norte. A iniciativa deu origem a discos fundamentais, como o triplo “Cantares”, de Dona Militana, e registros de Elino Julião, K-Ximbinho, Araruna e Caboclinhos. Além dos registros em CD, que hoje estão digitalizados em plataformas musicais, o projeto Nação Potiguar também uniu o popular ao  contemporâneo através de encontros musicais mensais entre músicos virtuoses potiguares e estrelas da música instrumental. Dessa programação passaram pelos palcos locais Hermeto Pascoal e Tom Zé.

Antes de se tornar produtora, Candinha se dedicou ao piano desde a infância, apresentando-se no Teatro Alberto Maranhão ainda nos anos 1950. Formada em Educação Artística, foi professora da Escola de Música da UFRN, onde começou a plantar a semente de seu compromisso com a formação cultural.

A música a levou aos projetos sociais como Núcleo de Formação de Instrumentistas na Zona Norte — como a Orquestra de Igapó, criada a partir de um trabalho voluntário que uniu jovens da zona Norte de Natal — e a fotografia a fez construir um acervo precioso, especialmente com os registros do Flipipa, da romanceira Dona Militana, Côco de Zambê e do escritor Oswaldo Lamartine. A produtora também tinha relações familiares estreitas com intelectuais brasileiros, como Henfil e João Ubaldo Ribeiro. 

Candinha deixa um legado profundo e delicado, feito de gestos elegantes e de amor pela cultura popular. Seu nome batiza o Teatro Municipal de Santa Cruz e a escola fictícia da novela “Flor do Caribe”, homenagens que simbolizam sua crença de que a arte nasce da educação e floresce na coletividade.