Casa de Zoé e o espetáculo Meu Seridó. Grupo participa com cena curta. Foto: Brunno Martins
Agenda Cultural
Temática do Cena Agora aborda estereótipos e migração. Além da Casa de Zoé, outros grupos trazem atores do RN, como cia Estopô
03 de maio de 2021
De 6 a 9 de maio (quinta-feira a domingo), o Itaú Cultural apresenta, no Palco Virtual, mais um recorte da programação Cena Agora – Encruzilhada Nordeste(s): (contra) narrativas poéticas, que até o final do mês conta com outros dois finais de semana para apresentações de cenas de no máximo 15 minutos, questionando construções estereotipadas ou colonizadas das identidades nordestinas. Depois da estreia, em abril, agora os grupos convidados levam virtualmente à cena reflexões sobre uma região que se expande a partir da migração para outros territórios, dentro e fora do país, e de lá lançam novos olhares sobre a região.
Todas as atividades acontecem às 20h pela plataforma Zoom e são seguidas por conversas dos elencos com críticos e artistas convidados. Gratuitos, os ingressos devem ser reservados via Sympla. Para mais informações, basta acessar www.itaucultural.org.br.
i A programação começa às 20h da quinta-feira, dia 6, com o Estopô Balaio – grupo paulista sediado na Zona Leste da capital de São Paulo, mas em cujo DNA há memórias e referências de artistas do Rio Grande do Norte integrantes da trupe. Eles apresentam EX-NE - O Sumiço, um recorte de pesquisa e experimentações de cenas on-line para o espetáculo EX-Nordestines*, previsto para estrear ainda em 2021. A montagem parte da premissa de que o Nordeste sumiu do mapa do Brasil e apenas quatro pessoas se dão conta disso.
O mapa do Brasil não apresenta mais os estados que compõem a região. A história já não guarda palavras sobre o território que sumiu. O que pode ter acontecido? O Nordeste de fato existiu? O dispositivo abre discussões como a invisibilização de nações indígenas que compõem a região, sobre a naturalização de erros exploratórios repetidos e sobre a racialização do nordestino. Diante de inúmeros e históricos ataques, pergunta-se até que ponto se sabe que o Nordeste é uma invenção com fins políticos, econômicos e sociais. Ao final da apresentação, a diretora Quitéria Kelly, o dramaturgo Henrique Fontes e o elenco conversam com as críticas de teatro Ivana Moura e Pollyanna Diniz, do site de crítica teatral Satisfeita, Yolanda?
Tempo e lugar
A cada noite, sempre a partir das 20h, o público assiste a duas cenas de no máximo 15 minutos, cada, e depois participa de um bate-papo com os elencos e críticos convidados.
Na sexta-feira, dia 7, a noite abre com Prisioneiro do Reggae, do grupo alagoano Clowns de Quinta, que pesquisa a linguagem da palhaçaria e técnicas circenses. A cena coloca no centro do debate o reggae policial, uma variação deste gênero musical surgido em Alagoas antes mesmo das fanfics interneteiras – histórias recriadas a partir de um conteúdo original – tomarem conta das redes sociais.
Na sequência, o Coletivo de Teatro Alfenim, da Paraíba, apresenta Pequeno Inventário das Afinidades Nordestinas, com fragmentos de memória e impressões cotidianas de seus integrantes para tecer um breve comentário poético e crítico sobre as afinidades nordestinas.
Ao final das duas apresentações os elencos e diretores se juntam à plateia virtual para uma conversa sobre o que foi exibido. O bate-papo é mais uma vez mediado pelas críticas Ivana Moura e Pollyanna Diniz.
Reconstrução
No sábado, dia 8, a programação traz duas cenas que repensam o Nordeste como território e como uma região que viu personagens seus varridos da história. Neste dia, assim como no domingo, a conversa com os grupos após a exibição é mediada pelo ator e diretor Jhoao Junnior.
Fazer renascer uma história e um povo é o mote de Remundados, obra do grupo sergipano Boca de Cena criada virtualmente para a programação a partir do texto homônimo do dramaturgo mineiro Raysner de Paula, escrito especialmente para o grupo em 2019. A proposta é “remundar”, lançar no mundo semente dos existires de gentes varridas da história, onde povos dessa pequena multidão podem renascer.
Casa de Zoé
Por sua vez, o elenco da Casa de Zoé, do Rio Grande do Norte, questiona o que é o Nordeste em Encontros, NÉ? Sem chegar a uma resposta para a pergunta e vendo dificuldades em traçar as fronteiras e a localização da região, a cena joga com a ideia de que não se sabe ao certo onde fica o Nordeste, mas muitos juram que existe. Assim, seguem tentando entender e encontrar a região. Acreditam que até o final irão descobrir, assim como um dia aconteceu com o Brasil.
Subjetivo
A última noite expande e aprofunda o olhar questionador e migratório sobre a região, apresentando no domingo, dia 9, cenas que partem de uma perspectiva de fora para dentro.
Os maranhenses Brenna Maria e Ywira Ka’i, que atualmente moram na zona rural de São Luís, apresentam Você já Sangrou Hoje? no qual colocam no centro da discussão o que se pega e usa como bem entender, mas sem cuidar ou se importar se um dia vai acabar. Destacam a frase de Dona Joana, que, vivendo da terra na cidade de São João Batista, gerou nove filhos: “Tudo que é usado em demasia acaba”. Assim, fazem uma analogia com a terra, vista como sagrada e que também jorra sangue de suas entranhas. Alertam para se ter cuidado no que se mexe: “pois eu avanço ao som de trovões cortando gargantas.”
Por fim, a Cia. Tijolo – criada e sediada em São Paulo, trazendo em sua essência, entre outras, referências culturais paulistas e pernambucanas – entra em cena com O Outro Nome da Amizade. A atriz Karen Menatti e os atores Dinho Lima Flor e Rodrigo Mercadante – o trio também assina a direção – evocam personagens de espetáculos anteriores, para junto com amigas, camaradas e companheiros pensar o tempo, a vida, os homens e mulheres presentes. É o caso do arcebispo Dom Helder Câmara, da freira, filósofa e teóloga feminista Ivone Gebara, do educador e filósofo Paulo Freire e do poeta Patativa do Assaré, que percorrem encruzilhadas da cidade de concreto, condenada a nunca adormecer.
Fonte: Release
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