El Gabo era um exemplar perfeito de pisciano
Colunas
Gabriel García Márquez: O que pode ser mais pisciano do que não ter pressa e transmutar as barreiras de um tempo secular e imaginário?
21 de março de 2022
Jana Maia
Pensei por muitos anos que adentrar a intensidade emocional era como adentrar os portões imaginários de Macondo. Mas só depois de muitos anos fui me dar conta que El Gabo era um exemplar perfeito de pisciano. Sim, eu sei que já saímos da temporada de Peixes, pensei até em não enviar mais essa coluna, mas uma epifania me abateu, tomando banho, claro, onde acontecem todas. O que pode ser mais pisciano do que não ter pressa e transmutar as barreiras de um tempo secular e imaginário?
Em buscas de fotos do autor, eu o vi sorrir pra mim como quem sabia de tudo mas não estava disposto a revelar, não ainda. Certamente imaginativo, e isso é facilmente concluído ao ler seus realismos mágicos, imagino o autor latino-americano sentado em sua poltrona, escrevendo, regando, podando e nutrindo suas obras, silenciosamente, fora dos radares terrenos, até revelar tudo, mas somente quando todos os portões da casa de Úrsula estivessem bem colocados.
Repleto de intuições e pressentimentos, Cem anos de solidão, que está certamente no meu “top cinco” livros da vida, aborda tudo que penso que poderíamos pescar das cabeças-carpas. Gabriel García Márquez nos aferra a personagens reservados, quietos, até mesmo subestimados, e costura com pura originalidade o intrincado social da família Buendía através de suas seculares solidões.
Diz a astrologia que os seres passam por todas as casas astrais até chegar a Peixes, em sua última jornada na terra, que atravessa com leveza, sabedoria, comprometimento e muita compaixão. Entretanto, sofrem bastante em sua última estada neste sistema solar, muito por causa de sua consciência coletiva evoluída através de suas experiências de outrora.
Donos de uma comunicação não-verbal brilhante, García Márquez, peixe como tanto se pode ser, tornou-se mestre no ato de apalavrar os circuitos humanos. Escreveu com sutileza e criatividade, nos fazendo debulhar ligações espirituais, sonhos e os círculos da vida que insiste em ser Aureliano-José e voltar a ser José-Aureliano, num infinito caótico muito bem predestinado. Cem Anos de Solidão completou meio século, mas segue sendo visionário, como são todas as histórias verdadeiras, bem como particularmente emocional para mim.
Nascido em 7 de Março de 1927, Gabriel García Márquez destravou um pouco a porta de sua sabedoria para que vejamos pelas frestas de luz proporcionadas por suas obras, que através do século os ciclos se repetem, com outros métodos, claro, mas os que se atentarem serão capazes de ver Melquíades e o quarto limpo, e os que não se atentarem estarão fadados a curtir o couro solitário e iniciar guerras somente para preencher o vazio de seus sentimentos.
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