A Cefas, Anderson Barra conta que trocou a profissão de advogado para ser cervejeiro

Colunas

Cervejaria Resistência: Onde a política combina com pizza, choripan e música

Espaço tem fabricação de cervejas próprias e uma vocação de reunir um público de tendência progressista

17 de setembro de 2022

Cefas Carvalho

Mais que um bar, um dos espaços mais descolados de Natal atualmente fica em Ponta Negra em uma rua ao lado da lendária ´Praça do Gringos`. Trata-se da Cervejaria Resistência, que, como o nome já indica, une a fabricação de cervejas próprias com uma vocação de reunir um público de tendência progressista. "Não considero um bar, não nasceu com proposta de ser um bar, aqui não tem garçom, nem cozinha, não tem as comodidades que as pessoas estão habituadas, é mais uma cervejaria que funciona como espaço cultural para agregar quem pensa de maneira progressista, as pessoas de esquerda", afirma o fundador e proprietário Anderson Barra.

Paraense que Belém de 45 anos, Anderson chegou em 2008 a Natal, como advogado e não imaginava trabalhar com o público até que em 2017 fez um curso de produção na Escola Superior de Cerveja de Blumenau (SC). "Dessa forma, já formado, comprei o equipamento comecei a fazer cervejas no quintal de casa para beber com a companheira, a família e amigos", explica. Até que Rodrigo Bico, ator, produtor cultural e ativista político, que era professor da filha de Anderson, provou de uma das cervejas, gostou e inistiu que fizesse um evento no quintal para mostrar as cervejas.

Provando o Chopiran de Edson

"Desta forma, Bico convidou professores, artistas, lotou o meu quintal e como foi surpreendente a aceitação das cervejas, a ideia foi fazer um evento por mês, sempre com rótulos diferentes, experimentando frutas, sabores, e isso se tornou um estímulo para continuar a produzir. Os eventos começaram a lotar, começaram a tocar música, e o nome da brincadeira, Resistência, começou a ganhar força. E acabei deixando a profissão de advogado de lado e começando a profissionalizar a questão da cerveja", lembra Anderson. Em maio de 2018, ainda na casa, o espaço ganhou o status oficial de Cervejaria Resistência. "É importante lembrar que isso foi antes da eleição de Bolsonaro, quando PT era considerada uma ´organização criminosa` e Lula, que estava preso, era ´chefe de quadrilha`. Hoje voltou a ser moda ser de esquerda, mas a gente aqui é resistência antes mesmo quando a maré estava contra", diverte-se.

Em 2019, Anderson foi convidado para abrir sociedade na cervejaria, mas logo em 2020 "veio a pandemia, mudei de casa, fiz outros projetos, abri uma outra cervejaria, a Ponta Negra, mas que durou apenas o período da pandemia, depois da vacina, dissolvemos a sociedade e resolvi retomar fisicamente a Cervejaria no espaço onde estamos agora", registra. Sobre a produção das cervejas, Anderson assinala que "primeiro penso na estética, tema, homenagem. Já fizemos as Cervejas Comandante Che (Ipa), Marighella, Juricaba (um líder indígena), Sangue Cabano (referência ao movimento Cabanada), Luís Maranhão (quem desenhou foi Natália Bonavides). Já tivemos aqui projetos como a Cervejaria Grelo Duro, com temáticas feministas e eventos onde as mulheres comandavam e só elas tinham acesso ao microfone".

Hoje a cervejaria, que tem decoração 100% de esquerda, com grafites de Fidel Castro, Che Guevara e Frida Kahlo nas paredes pretas, abre para shows e eventos de quinta a sábado e já recebeu palestras, debates, além de personalidades como Frei Betto e Pastor Henrique Vieira. Entre quem se apresenta na casa,  Júlio Lima, Cida Lobo, a cantora de jazz norte-americana Haley Peltz, entre muitos outros. 

Sobre os serviços do local, Anderson repete sobre a proposta: "não temos garçom, nem cozinha, não adianta chegar querendo isso e aquilo, abrimos sempre espaços para pessoas com produtos e alimentos, na política de economia solidária. Atualmente temos parceria com Othon. Aqui não tem garçom, mas tem carinho, coração, amor, afeto e cerveja, claro", ri.

CHORIPAN, PIZZA E ESPETINHOS

Mineiro de Belo Horizonte que se considera paulistano, pelo tempo que morou na capital paulista, Guilherme Othon Pereira, 55 anos, está em Natal desde 2010, anos e se destaca na Cervejaria Resistência pelos petiscos oferecidos aos frequentadores da casa. São apenas três opções no cardápio, mas poderosas: espetinhos tradicionais (carne, frango, queijo coalho e linguiça), pizzas artesanais e o já conhecido choripan.

Choripan é um sanduíche de linguiça, de origem argentina, que é servido com molho chimichurri, feito pelo próprio Othon, e uma cebola caramelizada dos deuses, também fabricada pelo próprio. Há a alternativa de incluir molho barbecue no pão, mas os ortodoxos, como eu, preferem a combinação pão-linguiça-chimichurri-cebola e só. Catchup e maionese? Nem pensar, esqueça. O sabor do sanduba pouco convencional é delicioso e já foi aprovado pelos clientes (e por este que vos escreve), já que sai às dezenas (às vezes uma centena) em dias com shows na cervejaria. Os clientes podem escolher linguiça de porco ou de frango e o preço, mais que justo, é camarada: 10 reais.

Othon, que é formado em gastronomia pela UnP, também ressalta a boa saída das pizzas, cuja massa artesanal ele fabrica em casa. "Um segredo é manter a pizza aquecida na churrasqueira. Os clientes gostam muito", ressalta. Os espetinhos feitos na hora são bem temperados e saem em imensas quantidades. O cozinheiro lembra que a amizade com Anderson começou por causa da militância política, já que sua esposa é ligada ao PT. "Numa dessas reuniões na casa de Anderson foi quando ele provocou para eu fazer o choripan, aí todos gostaram e passaram a pedir e o prato pegou", registra Othon.

FIQUE LIGADO


Cervejaria Resistência 
Abre de quinta a sábado, às 19h 
Endereço: Rua Leonora Armstrong, 35 - Ponta Negra, Natal
Telefone: (84) 99147-7782
Instagram: @resistenciacervejas  @othongourmet