Cia Pão Doce de teatro apresenta cena de Constança no Cena Agora. foto Thyago Dantas

Agenda Cultural

Grupo Pão Doce e potiguares da Cia Pandêmica participam do Palco Itaú Cultural

Temporada sobre a região Nordeste apresenta cenas curtas e debates. Grupo mossoroense se apresenta dia 29

19 de maio de 2021

O Palco Virtual de teatro que o Itaú Cultural realiza em maio dedica as duas últimas semanas do mês para a programação final do recorte Encruzilhada Nordeste(s): (contra)narrativas poéticas dentro do Cena Agora. De 20 a 23 e de 27 a 30 (sempre de quinta-feira a domingo), passarão por esse roteiro on-line 14 artistas ou grupos de 10 diferentes estados do país, abordando, em cenas de no máximo 15 minutos, construções estereotipadas ou colonizadas sobre a região.

Participam desse último recorte os grupos Canteiro Teresina (PI), Magiluth (PE), O Poste Soluções Luminosas (PE), Grupo Ninho de Teatro (CE), Teatro dos Novos (BA), Coletiva Teatral Es Tetetas (AC), Pandêmica Coletivo Temporário de Criação (RJ), os artistas Zé Wendell (PB), Jéssica Teixeira (CE), Silvero Pereira (CE), Maicyra Leão (SE) e as companhias Pão Doce de Teatro (RN), Fiasco (RO) e Biruta (PE). Iniciada em abril, até o fim da programação terão se apresentado 28 grupos ou artistas teatrais de toda a região, assim como do Norte e Sudeste.

Integralmente online e gratuita, Cena Agora é realizada de quinta-feira a sábado, às 20h, e no domingo, às 19h, pela plataforma Zoom. As curtas apresentações são seguidas por conversas dos elencos com críticos e artistas convidados. Os ingressos devem ser reservados via Sympla. Para mais informações, basta acessar www.itaucultural.org.br

A etapa abre com a mesa Mídia e a (des)construção do imaginário Nordeste. O encontro reúne a jornalista e atriz pernambucana Ademara Barros, conhecida na internet pelos vídeos de humor ironizando e criticando comportamentos machistas, xenofóbicos e racistas, e a baiana Val Benvindo, mulher preta, vodunsi, jornalista, produtora, apresentadora e consultora em diversidade racial. A mediação é de Aninha de Fátima Sousa, gerente do Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural.

Na sexta-feira, 21, os piauienses do grupo Canteiro Teresina apresentam Amora, na qual uma mulher e uma árvore, em um quintal no nordeste do Brasil, respiram a vida em volta, em um testemunho poético e sincero sobre vulnerabilidade, isolamento e a ação de inspirar e expirar.

Na sequência, o grupo pernambucano Magiluth traz O Mundo Quase Acabou. Na cena, os poucos humanos que sobraram sabem muito pouco a respeito do passado e do que resta do mundo. Assim, buscam montar um quebra-cabeça sociológico por meio de achados “arqueológicos”. O diretor Jorge Alencar e o ator Neto Machado, da Bahia, fazem a medição do papo após as exibições.

O lugar de fala conduz LONGUSU XENUNPRE DUDU NORDESTINAPE, experimento cênico híbrido que os integrantes, também pernambucanos, de O Poste Soluções Luminosas apresentam no sábado, 22. A cena fala do "nós", das falas soterradas e invisibilizadas. A  diretora teatral e dramaturga baiana Onisajé faz a mediação da conversa com os artistas deste dia, que conta ainda com Fractais, do Grupo Ninho de Teatro, do Ceará.

Com uma conversa mediada pelo ator e diretor paulista Rodrigo Mercadante após as exibições, a semana fecha no dia 23, domingo, com mais duas cenas. Eztetyka do Sonho, do Teatro dos Novos, da Bahia, é uma encenação virtual do manifesto lançado por Glauber Rocha em 1971, no qual o cineasta aprofunda sua investigação de linguagem para uma arte verdadeiramente revolucionária.

Cabra Macho, do ator paraibano Zé Wendell, parte de memórias pessoais e de pesquisas do artista sobre o machismo no Nordeste, questionando, com humor, as consequências negativas desse machismo na construção da identidade LGBT.

Última semana

A última semana reúne olhares sobre a região que ultrapassam os limites geográficos. Participam grupos e artistas tanto do Nordeste quanto do Sudeste e do Norte – origem também estendida aos debatedores.

No dia 27, quinta-feira, a atriz, produtora, diretora e roteirista cearense Jéssica Teixeira apresenta Lugar de Falta, cena na qual ela aborda a não fala e a não escuta, mas sim a falta, a escassez, o lugar de sentir vazio e sentir muito. Na sequência, a Coletiva Teatral Es Tetetas, composta pelas artistas Kika Sena, Sarah Bicha e Brenn Souza, do Acre, fazem uma releitura da obra A Invenção do Nordeste.

Nela, é proposto um rompimento das noções de dor e sofrimento vinculadas à imagem da região e dos nordestinos, retomando memórias ancestrais soterradas. A gestora cultural acreana Karla Martins conduz o bate-papo que encerra a noite.

Aglomeração on-line de artistas de diversas partes do país, criada durante a quarentena, a carioca Pandêmica Coletivo Temporário de Criação abre a programação da sexta-feira com Interurbana. No elenco está o potiguar Ênio Cavalcanti. Dirigida por Juracy de Oliveira, a cena faz ligações interurbanas e questiona: quanto de você é Nordeste?

Quanto de Nordeste sai de você sem precisar nem mesmo dizê-lo? Nesta noite também se apresenta o ator cearense Silvero Pereira, com Ser tão Nordeste, mini-doc permeado por um olhar de afeto sobre três gerações de sua família, abordando, assim, passado, presente e futuro, realidade, perspectivas e sonhos. A conversa, depois, é mediada pelo diretor amazonense Francys Madson.

No sábado, 29, Constança, da Cia. Pão Doce, de Mossoró, no Rio Grande do Norte, mostra as buscas cênicas e sonoras do grupo, fugindo do senso comum e bebendo na poesia e na nordestinidade do rap-repente.

Retalhos Mouriscos, da artista sergipana Maicyra Leão, é uma epopeia subterfúgica repartida entre a história de migração no Nordeste, a trajetória particular de sujeitos em devir retirante e a criação de uma criança declarada nordestina.

 A proposta é povoar a noção de nordestinidade com resíduos de atravessamentos culturais para além da tríade africano-índio-europeu, mais precisamente com borraduras árabes. Karla Martins conversa com os convidados ao final das cenas.

O último dia da programação descentraliza esse Nordeste, expandindo para além das capitais e dos seus limites da região. No domingo, 30, que tem o encontro mediado novamente por Francis Madson, quem abre a noite é a Cia de Artes Fiasco, de Rondônia.

Com Ave de Arribação, a trupe aborda de forma poética o revoar, que, neste caso, é levantar o próprio corpo e a terra ao redor. Notícias do Dilúvio — Um Canto a Canudos, da Cia Biruta, da cidade pernambucana de Petrolina, entrelaça referências às práticas culturais populares do sertão em um registro histórico da participação de mulheres na Guerra de Canudos. As personagens Das Dores e Dos Anjos, em oração, rememoração e alucinação no espaço/tempo, navegam uma das mais importantes experiências de resistência popular do país.