Colagem de Erasmo Xavier escolhida para a exposição do Sesc/SP

Reportagens

Com presença potiguar, "Raio-Que-O-Parta" celebra cem anos da Semana de arte de 1922

Exposição vai até agosto no Sesc 24 de Maio e reúne mais de 600 obras, entre elas cinco potiguares

14 de fevereiro de 2022

Há exatos cem anos, entre 13 e 18 de fevereiro acontecia no Theatro Municipal de São Paulo a Semana de Arte Moderna de 1922, quando  jovens intelectuais, artistas, escritores e compositores brasileiros, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Villa-Lobos, entre outros, se reuniram em um festival com um objetivo em comum: Celebrar a criação de uma nova arte que rompia com a visão passadista, de corrente romântica e parnasiana, e modernizar outras formas de arte no Brasil. Uma explosão de ideias que deixou um legado indiscutível não só nas artes visuais, mas na literatura, música, criando uma visão estética de brasilidade.

Um século depois, as celebrações da data se convergem em vários eventos e um dos mais representativos é a exposição “Raio-que-o-Parta: ficções do moderno no Brasil”, em temporada a partir do dia 16 de fevereiro no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, permanecendo em cartaz até 7 de agosto. A mostra integra o projeto Diversos 22, do Sesc São Paulo. Valendo-se da efeméride de 100 anos, a coletiva vai além das fronteiras paulistas, ampliando o cenário de forma cronológica e geográfica numa incursão pelo Brasil através das obras de diversos artistas. 

São cerca de 600 obras de 200 artistas, como Lídia Baís, Mestre Zumba, Genaro de Carvalho, Anita Malfatti, Tomie Ohtake, Raimundo Cela, Pagu, Alberto da Veiga Guignard, Rubem Valentim, Tarsila do Amaral, Mestre Vitalino, dentre outros. Cinco nomes das artes plásticas do Rio Grande do Norte foram inseridos na mostra: Dorian Gray com um trabalho, Maria do Santíssimo com três trabalhos, Iaponi Araújo, Moura Rabello e o cartunista Erasmo Xavier com dois trabalhos.  

A mostra reflete sobre a noção de “arte moderna” no Brasil para além da década de 1920 e do protagonismo muitas vezes atribuído pela história da arte a São Paulo. Para tal, são reunidas obras de um arco temporal que vai do final do século XIX a meados do século XX, além da essencial presença de artistas que desenvolveram suas pesquisas em diversos estados brasileiros. De acordo com a curadoria, “Raio-que-o-parta desafia a versão canônica de viés paulistocêntrico. Se o raio há de partir a pretensa coesão dessa narrativa, que o faça para trazer à tona as mais distintas ficções modernas brasileiras”. 

ARQUITETURA MODERNISTA
O título da exposição é inspirado em antigas casas de Belém do Pará, com fachadas elaboradas pela justaposição de azulejos quebrados, formando desenhos geométricos angulados e coloridos. Conhecido como “raio que o parta”, este estilo arquitetônico foi influenciado pelo modernismo nas artes plásticas, em uma busca por superação dos modelos neo colonial e eclético, vistos pela elite paraense como ultrapassados. O modismo deste novo estilo não se restringiu às elites locais, sendo logo apropriado por outras camadas da sociedade, que popularizaram a nova arquitetura pelos bairros de Belém do Pará, a partir da década de 1950.

MOSTRA
O compilado traz diversos tipos de linguagens e formas de criar e compartilhar imagens nesse período. Não só nas belas-artes (desenho, pintura, escultura e arquitetura), mas da fotografia, do cinema, das revistas ilustradas e de documentação de ações efêmeras, essenciais para ampliar a compreensão das muitas modernidades presentes no Brasil. 

O projeto surge a partir do trabalho de sete pesquisadores de diferentes regiões do país, que têm larga experiência em discussões a respeito da arte moderna na interseção entre o local e o nacional. A partir dessas pesquisas, a exposição estará dividida em núcleos baseados em tópicos constantes a esse período histórico no Brasil, os quais serão apresentados ao público de forma didática. A intenção é levar ao público a certeza de que a noção de Arte Moderna, no Brasil, é tão diversa quanto as múltiplas culturas, sotaques e narrativas que compõem um país de dimensão continental.

A Curadoria geral é de Raphael Fonseca e os demais curadores são   Aldrin Figueiredo, Clarissa Diniz, Divino Sobral, Marcelo Campos, Paula Ramos e Raphael Fonseca Curadoria-geral: Raphael Fonseca. Também participaram como assistentes Breno de Faria, Ludimilla Fonseca e Renato Menezes. A consultoria é de Fernanda Pitta.

Com informações do Sesc São Paulo.