José Neto Barbosa encarna uma mulher preconceituosa em monólogo.
É Típico!
Três anos e uma pandemia depois, o país ficou pior. Bem pior. E a Mulher Monstro do espetáculo também
10 de fevereiro de 2022
Cefas Carvalho
O impacto começa antes mesmo da peça começar, ainda entrando no local do espetáculo, quando uma mulher (que imaginamos ser do local, o Circo Bisteca e Bochechinha) avisa com um megafone à mão que "Este espetáculo pode disprarar gatilhos. Caso se sinta mal durante a peça levante a mão que alguém da produção irá retirá-lo com segurança. E, principalmente, não alimente o Monstro!"
Depois descobrimos que essa "advertência" faz parte da dramaturgia e da peça. Mas, uma hora e quinze depois, terminado o espetáculo, descobrimos que ela falava a verdade.
É bem claro que o espetáculo foi feito para incomodar. Cada vez mais. Assisti-o pela primeira vez em março de 2019, no TCP, salvo engano. Já era assustador e impactante em sua proposta: Um monólgo na qual o ator, diretor e autor do texto, José Neto Barbosa, encarnava uma "dondoca", dessas que vemos com frequência no Leblon das novelas de Manoel Carlos e também no terceiro piso do Midway Mall, que desfilava uma sequência interminável e sistemática de preconceitos e insultos. Bolsonaro havia assumido o poder havia poucos meses e um clima de deseperança e autoritarismo sobrevoava o país e "A mulher monstro" canalizava este espírito.
Três anos e uma pandemia depois, o país ficou pior. Bem pior. E a Mulher Monstro do espetáculo também.
Como se formatando outra peça, José Neto fez de sua protagonista um retrato vivo das mazelas a mais que escancaram a cortina de nossa incivilidade e flerte com a barbárie. A protagonista, claro, odeia usar mascaras e é anti-vacina. Em vários momentos ela se define como cristã e cidadã de bem. Entre uma agressão e outra, claro, que o autor-protagonista - com ajuda da iluminação e sonoplastia - mescla com rapidez e precisão.
No rosário de ódio da Mulher Monstro, sobra para todo mundo: Negros, pobres, pessoas em situação de rua, LGBTQIs, índigenas, pessoas com deficiência, gordos, periféricos. As frases que ela elenca são muitas e já ouvidas por todos várias vezes, de vizinhos, de parentes, de socialites, de presidentes: "Ter vizinho gay desvaloriza o imóvel". "Índio quer terra para quê?". "Aquela empregadinha gorda de shortinho se oferecendo". Dezenas de frases, ditas na cara de plateia.
"A mulher monstro" pode ser assistido como um espelho. É possível se enxergar, em maior ou menor escala na protagonista que está, metaforicamente, presa em uma jaula no centro do palco. No fim, temos a certeza que já ouvimos aquilo e que ouviremos muitas outras vezes. A peça incomoda e esse é o objetivo: Em uma cena já na parte final José Neto/A Mulher monstro grita: "Empatia". O que ela não tem e o que está em falta em um país fraturado. O espetáculo é o raio-x do momento: Incômodo como uma realidade onde negros são mortos pela cor de pele e os números de feminicídio crescem assustadoramente. Assista. Como denúncia ou espelho!
SERVIÇO
Espetáculo A Mulher Monstro
Dias: 10, 17 e 24 de fevereiro (quintas-feiras)
Horário: 20h
Local: Estacionamento do Shopping Cidade Verde - Circo Bisteca e Bochechinha
Endereço: Av. Ayrton Senna, 1995, Nova Parnamirim
Classificação indicativa: 16 anos
OBS: As medidas restritivas em relação ao COVID-19 seguem as regulamentações do poder executivo municipal e estadual, exigindo-se máscara e passaporte vacina
Ingressos á venda pelo https://www.sympla.com.br/evento/a-mulher-monstro-no-circo/1466906
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