A tradição editorial há de prevalecer como ferramenta vital para novos avanços da forma de produção
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O livro evoluirá como sempre. Se transformando e se projetando em trajetória. Sem anulação diacrônica de seu meio.
12 de novembro de 2020
Dácio Galvão
Recentemente nas páginas de periódicos ou nas matérias de telejornais de vários canais de televisão lemos e assistimos o tema relacionado ao livro. Todas apontavam para as celebrações do Dia Nacional do Livro, que transcorreu em 29 de outubro próximo passado. Data de fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, em 1810.
Da arqueologia livresca quando no Egito Antigo se utilizou papiro na escrita de documentos oficiais ou religiosos, que é quando se localiza a ancestralidade fundante desse suporte, chegando ao pergaminho nos mosteiros cheios de mistérios e daí para a invenção da prensa eletromecânica dinamizada por Johannes Gutenberg, a máquina permitiu a multiplicação rápida do livro. Reprodutibilidade. Nada igual havia acontecido até no século XV quando pintaram grandes produções. Na verdade, pesquisadores apontam para a circulação das tábuas carregadas de escritas cuneiformes sumérias e talhadas de ideogramas chineses.
Decorrente de inovações tecnológicas surgiu o livro eletrônico ou e-book em formato digital ampliando ainda mais sua democratização e acessibilidade. Captado e disseminado pode ser lido através de ebook reader (dispositivo específico), pelo computador, ipad, tablete e smartphone. Gratuito ou comprado se encontra na internet.
Fico pensando no embate de fundo falso. Sotaque de falsa dicotomia: de um lado os que advogam o desuso ou morte do livro convencional e do outro os que celebram a vitória decretada pelo livro digital. O afeto, a tatilidade, o aroma, o sensorial... Nunca desatrelarão do contato-manuseio na utilização do livro. Artesanal ou digital. Os sentidos serão apenas ampliados e sem conflitos. O livro evoluirá como sempre. Se transformando e se projetando em trajetória. Sem anulação diacrônica de seu meio. O aspecto museal e documental nunca o deixará fora da história.
Quem não se poetiza diante de um papiro com escritura de três mil anos antes de Cristo? Ou não se encanta lendo um pergaminho do século XII e nele inscrito caligráfico uma canção provençal trovadoresca? Ou não se impacta quando se depara com os poemas concretos computacionais (intermedia) de Augusto de Campos da segunda metade do século XX?
Uma colega de trabalho enquadrada na categoria sociológica pós-Geração Y, se dedica atualmente à pesquisa para um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O objeto é editoras artesanais de Natal (Sol Negro e Munganga Edições) referenciando destacados tipógrafos. O cronista da Cena Urbana, bibliófilo juramentado (declarado Geração X) se pavimenta nas apaixonadas aquisições de edições e leituras de livros raros. E a arte de Guaraci Gabriel de há muito experimentou o QR Code (código em duas dimensões) para ampliar a leitura de suas esculturas-poemas.
Ou seja: o fetichismo pagão de uma banda larga, de uma banda estreita ou mesmo a adoração ao hibridismo de suportes convive e há de ser no momento-futuro um espaço sem o sentimento passadista. Como não é quando estamos diante um incunábulo. O campo é fecundo e a concreção saudável e natural. Perdas não há. Existe novos processos que vão sendo incorporados. Isto é sedutor. Amálgama da dinâmica cultural. Civilizatória.
A tradição editorial há de prevalecer como ferramenta vital para novos avanços da forma de produção. É justamente nessa dialética de inovações e tecnologias que ela vem se constituindo e atravessando séculos e séculos depondo para a memória universal. Salve, salve as mudanças. O livro enquanto valor imaterial existirá. Essa valoração é o que importará. Sempre. O mais...
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