Espetáculo "Uma Casa de Bonecas", encenado em 1944, com Terezinha Maia no elenco

É Típico!

De luta de boxe a cinema: um teatro múltiplo que resistiu aos alagamentos e ao tempo

Em mais de 100 anos o TAM passou por diversas reformas, a maioria intervenções para amenizar os  danos provocados por inundações e alagamentos

19 de julho de 2020

O Teatro Alberto Maranhão não foi construído por acaso. Ele é fruto de um movimento surgido na sociedade do final do século XIX, desejosa de ter aqui espetáculos em condições dignas para público e artistas. Assim registrou o jornal A República de 1897, em relato colhido pelo escritor Claudio Galvão no livro “100 anos de Arte e Cultura”:

“...Sujeitando-nos, como tantas vezes nos sujeitamos, a passar algumas horas asfixiados em armazéns de açúcar onde algum pequeno grupo artístico, mais corajoso ou mais necessitado, sujeita-se também a trabalhar quando, desgarrado ou perdido, aporta em nossas plagas pouco hospitaleiras a artistas.”

E enfim foi inaugurado em 1904, batizado de Theatro Carlos Gomes. Nos anos 50 passou a se chamar Teatro Alberto Maranhão, em homenagem ao patrono.

A maior característica do Teatro Alberto Maranhão é ter sido um palco para todos os públicos. Ao olhar a cronologia de sua história percebe-se o TAM como um guarda-chuva para múltiplas atividades artísticas e também sociais. Foi escola de música, escola de dança, de teatro, já foi cinema, palco de solenidades políticas e sociais, lugar para formatura e banquetes para personalidades nacionais e estrangeiras. Já foi palco de luta de boxe, lutas greco-romanas, apresentação de halterofilismo, apresentação de grupos de cultura popular, festivais de rock e eventos literários.

Ao longo dos tempos o TAM passou por diversas reformas, algumas melhorias e outras vezes descaracterizações, mas a maioria das intervenções tinha o objetivo de amenizar os  danos provocados por inundações e alagamentos — um problema recorrente do bairro da Ribeira por conta da alta das marés.

O problema foi parcialmente solucionado no início dos anos 1980 com a conclusão de uma obra que ampliava a drenagem das águas na Cidade Alta e Ribeira.

Em 1992, as galerias entupidas de lixo provocaram nova inundação. Os carpetes mofaram, o gesso começou a soltar. Mais uma reforma.

Foto de Evaldo Gomes, premiada em 2008 no concurso Nordeste Segurança de Valores

Em 2008 mais uma reforma concluída depois que as chuvas castigaram a casa. Desta vez mexeram nos banheiros, deram uma melhorada na iluminação da fachada, mas algumas modificações receberam duras críticas por interferir na parte técnica, como a retirada da madeira que cobria o proscênio, a parte da frente do palco. Foi trocado por mármore branco que desviava a atenção da plateia. O erro foi corrigido, mas outros problemas permaneceram, como o granito cobrindo o jardim que quando chove alaga.

O seu fechamento em julho de 2015 ocorreu devido a problemas elétricos e falta de projeto de combate a incêndio e de acessibilidade. A princípio seriam feitas duas reformas independentes, sem a necessidade de longo tempo fechado. Entretanto, uma mistura de burocracia e falta de interesse político engavetou o projeto do PAC das Cidades Históricas. Sem os recursos o teatro permaneceu fechado.

O TAM foi o primeiro grande palco na trajetória de muitos artistas e a primeira experiência de muitas gerações de espectadores. Também foi cenário para espetáculos que entraram para a história. De concertos de Oriano de Almeida ao musical Príncipe do Barro Blanco, do cenógrafo e diretor João Marcelino, passando por Paulo Autran em monólogo “Quadrante”, as peças de Racine Santos e Baden Powell no Seis e Meia.

Antes de fechar, o teatro funcionava com programação nos finais de semana, além das  pautas do projeto Seis e Meia nas terças e dos espetáculos infantis e matinês no domingo pela manhã e tarde.