Imóvel é valorizado pela imponente fachada. Foto: Evaldo Gomes
É Típico!
Com patrocínio da Prefeitura e Unimed via Lei Djalma Maranhão, o prédio representa a primeira obra de restauro subsidiada por lei de cultura.
10 de maio de 2022
Cinthia Lopes | Do Típico Local
Símbolo de resistência de um passado histórico que desafia o tempo e a engenharia, o imponente prédio de “A Samaritana'', na rua Dr. Barata, Ribeira, está em vias de se tornar o “marco zero de um novo olhar sobre a Ribeira”. As palavras são do empresário Roberto Serquiz, com o entusiasmo de assumir o desafio de restaurar o imóvel que pertenceu a seu avô, mas que se encontrava há anos interditado pela Defesa Civil sob o risco de desabar. A princípio, pensou em construir um Museu da Água por conta do histórico de sua empresa, a da água mineral Santa Maria. Com o avanço dos trâmites e a confirmação dos recursos, as possibilidades foram ampliadas. Em entrevista ao Típico Local, o empresário adiantou que o espaço se chamará “Casa de Cultura A Samaritana” e contará com um café na entrada, área de eventos culturais e um Rooftop (telhado), com espaço para contemplação do pôr-do-sol do Potengi. Para o início da obra, a equipe aguarda apenas uma licença da Semurb. A previsão de início da obra é junho.
Outra novidade é que parte do dinheiro para o restauro virá por meio do Programa Djalma Maranhão da prefeitura de Natal, com patrocínio da Unimed. Trata-se da primeira restauração arquitetônica subsidiada por uma lei de cultura.
Roberto conta que foram três longos anos de processo, entre a decisão de recuperar , o diagnóstico e o trabalho emergencial de proteção do prédio. Depois a busca por informações, o projeto de restauro, que está sob a coordenação da arquiteta e urbanista Illana Paula Revoredo, a liberação das licenças e nesse meio um entrave jurídico que exigiu a abertura do inventário. “Foi um processo moroso que finalmente saiu do papel. Com as licenças, a segurança jurídica e os recursos garantidos, agora a partir de junho o sonho começa a ser desenhado'', contou.
Durante o elaboração do projeto, a equipe descobriu mais um fato novo sobre o prédio: "O primeiro jornal independente da cidade, criado pelo jovem Djalma Maranhão e mais 3 amigos para ser a voz independente da cidade durante o período da II Guerra mundial, funcionou lá. "O Diário” e sua redação funcionava em uma das salas do pavimento superior do prédio", disse.
A data de construção do imóvel é de 1916 e abrigou uma próspera loja de tecidos, quando a Ribeira era o principal bairro comercial. Em 1980 foi alugado pelo artista Arruda Sales para receber o Frenesi Café-Concerto, que fez muito sucesso e atraiu natalenses para os shows de teatro de revista ao estilo Dzi Croquettes. Novamente o imóvel foi se deteriorando, sendo que boa parte ruiu. Entretanto, sua fachada manteve-se de pé por obra do acaso. Surpreendentemente a estrutura ficou sustentada apenas por galhos de árvores.
Confira a entrevista completa:
O prédio “A Samaritana” é um imóvel que quase todo natalense gostaria de ver restaurado. Quando sua recuperação foi anunciada, todo mundo festejou. Agora esse dia chegou?
RS: O prédio da Samaritana é um dos mais fotografados da Ribeira, eu diria que o interesse não é só do natalense, mas do turista que visita Natal. Quando anunciei em 2019 que iria recuperar, passei a ser muito cobrado. O que fizemos primeiro foi um socorro, uma espécie de Samu: Trabalhamos a estrutura para a preservação da fachada, evitando que houvesse mais perda porque havia erosão e algumas árvores continuavam crescendo dentro das paredes. Paralelo a esse emergencial começamos os projetos, as licenças junto ao Iphan. O passo seguinte foi viabilizar a construção e sair em busca de recursos.
A obra será financiada em parceria público-privada, como chegou a Lei Djalma Maranhão?
RS: Foi quando eu concedi uma entrevista a Jener Tinoco, na rádio. Na ocasião ele me falou sobre a Lei Djalma Maranhão. E esse despertar fez com que eu procurasse Dácio Galvão na Funcarte, e as coisas foram fluindo. Com o projeto na lei conseguimos nosso parceiro a Unimed. O mais importante é que os recursos estão sacramentados e há um desembolso para junho. Já temos a empresa contratada e concluir as licenças municipais e o pontapé desse sonho começa a ser desenhado
Em 2019, quando foi anunciada a recuperação do prédio, a princípio você anunciou que iria criar o Museu da Água. Esse foco mudou?
RS: Sim, nós vamos manter um café na entrada, o salão térreo será disponibilizado para lançamentos de livros, exposições e outras atividades culturais que possa comportar. No segundo pavimento será um salão de pequenos eventos, treinamento, reuniões. No terceiro pavimento faremos a área de contemplação do pôr-do-sol.
A arquiteta Ilana fez uma minuciosa pesquisa nos arquivos e livros, inclusive criou uma comunidade nas redes sociais para recuperar imagens e informações sobre a estrutura interna. Como está esse trabalho?
RA: Ela continua fazendo essa busca a respeito da história do prédio. Descobrimos um fato super importante, principalmente para a história da imprensa local. O primeiro jornal independente da cidade, criado pelo jovem Djalma Maranhão e mais 3 amigos para ser a voz independente da cidade durante o período da II Guerra mundial, funcionou lá. "O Diário” e sua redação funcionava em uma das salas do pavimento superior do prédio.
Como foi o processo de 2019 para cá?
RS: O processo foi muito moroso. Só para se ter uma ideia, cada passo que a gente fazia era comunicado ao Iphan e esperava autorização. Para viabilizar também foi necessário dar a segurança jurídica, então eu fui notificado pelo Iphan como representante do proprietário. Então ainda fui buscar os primos para poder dar segurança jurídica, foi feito o inventário de vovó, e o conhecimento da família porque precisava desse aval.
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