Diários de Lockdown: Presente de grego, chá e Bowie

Marcio Delgado | Especial de Londres
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As pessoas na Europa andam tão assustadas com o Coronavírus mutante que está a solta por aí, ameaçando transformar 2021 em uma cópia do que foi o ano passado, que ninguém quer correr riscos.

Em Londres, capital da Inglaterra, o transporte público está mais vazio que bolso do trabalhador na última semana do mês. E em outros países vizinhos, a situação não é diferente. 

Que o diga Lusia Wildes Teixeira, brasileira morando na Bélgica.

“Outro dia um senhor estava caminhando na minha rua, tropeçou e caiu. Alguém tentou ajudá-lo a se levantar do chão, mas ele recusou. E ainda ameaçou o rapaz que estava tentando dar uma mão, avisando que se ele insistisse em tocar nele, iria apanhar.” – relembra com bom humor a potiguar que há dois anos chegou ao país com os dois filhos de 8 e 9 anos.

Wildes é uma das milhares de brasileiras morando na Europa, resultado de um processo migratório que nunca saiu de moda. 

Para se ter uma idéia dos números, só em Portugal, um dos 27 países formando a União Européia – já descontando o Reino Unido que pulou fora do barco este mês – o número de brasileiros morando na terra de Camões aumentou 43% apenas em 2019 e passou de 150 mil. Os dados são do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras português (SEF).

Ao contrário do Reino Unido, onde a população começou 2021 com um presente de grego na forma de um terceiro período de confinamento mandatório no país já na primeira semana de janeiro, o que deve durar até meados de fevereiro, a Bélgica relaxou as restrições no mês passado. 

Porém a ausência de vírus mutante tem feito com que os moradores do país de apenas 30,689 km² ignorem o famoso distanciamento social.

“Sem dúvida alguma o primeiro lockdown da Bélgica foi mais eficiente. O segundo que tivemos foi uma casa com portas entreabertas porque fecharam os bares, lojas e restaurantes, mas no transporte público do país as pessoas pareciam sardinhas dentro de uma lata. Isso sem falar no afloramento de pessoas nos supermercados.” – relata Wildes.

Na última vez que fui a Bélgica, em 2015, ninguém nem imaginava o que seria uma vida regrada pela ciência e pelo governo, com cientistas pedindo para a população ficar em casa e políticos pedindo para as pessoas saírem. E se colocar cabresto em uma população de apenas 11 milhões e meio de habitantes – o que faz com que o país inteiro seja menor do cidades como São Paulo (12.3 milhões) e Istambul, na Turquia, com seus 15.5 milhões de cidadãos – já se pode imaginar o desafio que é convencer adultos de que ainda é preciso tomar cuidado porque Covid não é a Cuca mas te pega daqui e pega de lá. 

Porém é fácil imaginar a superlotação dos mercados belgas porque mesmo em um país com mais de 2000 chocolatiers – e uma lei de 1884 que regula a composição e qualidade do seu chocolate – a vida não tem sido doce.

Enquanto isso, no Reino Unido, seguimos confinados munidos apenas de fé, chá e Live do David Bowie para ficar com um olho no vírus e o outro no inverno. 

Aliiás...

Bowie celebration: Just for one day! será uma live feita nesta sexta-feira, 8 de janeiro, às 23h (horário do Brasil), para celebrar a discografia do cantor inglês que se estivesse vivo faria 74 anos hoje. Com Macy Gray, Duran Duran, Adam Lambert, Foo Fighters e Boy George, entre outros artistas, irão participar do evento que custa e custa £18 (em torno de R$ 133) e que ficará disponível online por 24 horas após a transmissão ao vivo.

Ingressos à venda no site www.rollinglivestudios.com/bowie e parte do valor arrecadado será doado para Save The Children, uma ONG voltada para educação infantil e ajuda a crianças em áreas de conflito ou afetadas por desastres naturais, e que era apadrinhada pelo artista que deu vida ao personagem Ziggy Stardust.

(*) Márcio Delgado é jornalista e Coordenador de Marketing de Influência morando em Londres, Reino Unido
@marcio_delgado