o plexus solar do coração de Subhadro é adubar a terra e saciar o coração das pessoas
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Véscio Lisboa Subhadro na década de 70 fundou o restaurante macrobiótico Amai, se tornando na cidade uma referência em cozinha saudável
21 de dezembro de 2020
Carlos Gurgel | Poeta
Um ser luzente descobre seu caminho, descobre entre arbustos a flor do muçambê. olha para um lado e outro, como se todos desejassem saber sobre o brilho das estrelas e da noite incontida se espalhando pelas janelas do sertão. esse ser desde menino busca. busca o sol, as estrelas, as infindáveis lâminas por onde o tempo passeia e sorri.
morros, vales, são como velas vivas, acesas. são como tochas de uma luminosidade inesquecível. apalpar e escalar elas é como se fosse a própria poesia da natureza. oxigênio. força. beleza. conectar-se com o chão, o barro, a areia. sentir o ar, o gosto de tudo que reside nesse plano, como dádiva. adubar e ser adubado. adubar-se e indo, ao encontro desses vales por onde o tempo, passo a passo, do que nos guia, revela, a janela, a cancela de tantas descobertas, anunciações, poesia plena de pulsação sanguínea da terra. como fermento, tempero, oferenda e amor. os galhos das árvores, os arredores dessa fonte, fibra, fios de ventura. o som que vibra, emana dessa tão incalculável natureza que nos ancora, hospeda, energiza. a trilha por onde a água frui, flui. tudo do que a boca, língua necessita para transpirar vida.
no meio da avenida/estrada a palma dos pés são raízes que visitam espalham mergulham como um segredo milenar, a linha/travessia dos tesouros mapas e faróis de tanta busca pela planície repleta de iluminada miragem e acolhida. manhãs são como girassóis enormes, possuídas de tantos acolhidos abraços. manhãs são como descobertas ágeis, tipo um reluzir de uma frase que ecoa e que preenche o tabuleiro da sorte, da fome, do bem querer.
manhãs, são como palmas do coqueiro que apazigua o dia, o coração, de toda incalculável preciosidade, necessidade de se jogar na vida e saber a cor e o sol da porteira por onde o leite do divino ornamento do tempo, tatua e revela, a amplitude do que o semblante do suor, a labuta pela retina do olho, por uma moldura, se refaz e nos conquista. vilarejo, vila, vida. ecran de tudo que se batiza, se baliza, sente, sonha, deseja, intui, futuriza, guarda, acolhe, crê. esse manejo com a terra do coração, do que pulsa entre esse ranger de redemoinhos libertários. como uma oração feita com os ingredientes divinos, sagrados da alimentação que renasce, revigora, desperta, salta. como vida desse prato/ pranto bendito de devires e janelas abertas. como lufada desse ar língua, boca, olfato. massagear com os dentes, a amplitude desse alimento, desse sentimento. dessa enorme mesa posta, humilde habitação dos seres que encontram sua fortaleza de respiro e bem querer.
grãos, raízes, temperos, imensos vales. alforrias. a taba do mestre: simples, preciosa. o nascer para servir, saciar corpo como alma, espírito redentor. mastigar o oferecido, sentir a cada movimento das duas arcadas dentárias, um novo espouco, essa hospedaria. sangue muda, mente desperta, olhar do tão perto, olhar do tão longe, esse céu desse véu descoberto. ouvir o que diz o coração. a fértil planície, jardim, a tela que descobre esse chão. arado. o grão agrado. alado.
chão da terra das flores do amanhã. chão da terra por onde os humanos iluminam seus olhos como um Deus horto. chão de terra do tudo que cerca e respira. vida corre solta como uma ampulheta dessa geografia dos nossos passos ágeis a procura do que a própria resina do nosso suor respinga como chuva repleta de descobertas. o cheiro, o farfalhar dos alimentos mergulhando pela boca, adubando o corpo físico, esse termo, terno, espírito. todo o percurso fermentando a terra dos nossos corpos de tantos ossos dessa expedição, a incontável e incontrolável travessia pelo fígado, intestinos, pulmões, coração, traquéia, tireóide, pernas, braços, culhões.
as palavras tem vida própria, como as árvores das florestas. tudo tem vida própria. o desassossego do ar, atmosfera, o infinito oceano da lembrança marítima, litorânea. essa vida própria que acompanha os olhos de quem, pelo seu tempo, planta sonhos e colhe alimentos cristalinos de uma alma bondosa e recheada de incontáveis amigos. ser assim como uma palmeira que busca pelas suas folhas a sombra que alimenta o sonho de descanso dos humanos. alimentar a vida como amor próprio. ao redor dos infinitos banquetes construídos como uma celebração do divino, do simples, do absolutamente precioso momento por onde as pessoas se confraternizam e retornam para suas casas com o sentimento claro de uma enorme saciedade pessoal. colher frutas, separar legumes, produzir por completo um grão mestre, a enorme mesa por onde, todos nós, absolutamente, todos nós, reconhecemos sua fartura, sua riqueza, sua enorme capacidade de aproximar as mais variadas mentes, preferências culturais, lembranças históricas. alimentar-se, antes de qualquer coisa, é saber se reconhecer nesse mundo, planeta absurdamente imprevisível, mutante, explosivo. aliás, como cada um de nós.
conheço Subhadro, desde a época da Amai, na ladeira do Sol, parede e meia, com o clube do Bandern, início dos anos 70. lá, na Amai, a construção de um novo tempo, em curso estava. como uma encubadora por onde, como explícita entrega, a moldura da essência do saber lidar com a propriedade de quem começava a perceber essa necessidade; floria, na via, na horta, no pomar, por entre flores e faces, falas e firmezas. então, assim a cada dia, adeptos e frequentadores, preenchiam e multiplicavam com suas escolhas, essa tão límpida estalagem.
Véscio Lisboa, Subhadro, desde quando decidiu sonhar seu espaço Amai, sabia exatamente o que guardava, garimpava. caminhar, andarilhar, palmilhar o céu e o mar desse mistério do Deus planeta Terra, planalto de incalculáveis florestas e morros. o cheiro da terra e da inigualável beleza da Natureza, por sobre nossos olhos e passos, como testemunha da ciência do que a alimentação viva, é capaz, protagonista de um outro percebimento das coisas, do que nos circunda, circula e ciranda.
Vescio tem isso dentro dele, essa magia. esse arvorecer do que a terra oferece, como dádiva, ávida vida, de tantos acolhidos equilíbrios entre o corpo e esse espírito reinante, como um rio caudaloso, e exponencialmente imprescindível. servir o dia, a noite. servir ao corpo lançado ao mar desse cotidiano, como uma flâmula família. como uma girândola, perfeccionista de ícônicos saltos pela floresta a dentro, por dentro dos talheres e temperos dessa magistral taba. assim como uma floresta retumbante, tudo conecta. o açúcar do pensamento quando se está no preparo dos ingredientes de vida saudável. assim como uma floresta retumbante, os gestos, toda a sincrônica atitude em dispor como um guia, o acabamento do que servido será, esse redesenhar-se desse último trato, dessa finalização, dessa última prova. organicidade, pulmões do azuki, ar do tofu, face da beringela, sorriso do integral arroz, busto dos legumes, verduras e frutas, tão imprescindível carta. essa ecologia dos pratos servidos, essa alquimia por onde o sino do sumo do suco anuncia sua tonicidade, bondade, liquido suculento vital. socializar o pão de cada dia. como uma ventura do tempo que se vive. temperado pela coragem, suor, entrega e presença. amassar a rotunda da casa de farinha com muita luz e paixão. fermentar os olhos da criação como um navegante descobridor de lares e emoldurada floresta do meio do principio e fim.
o plexus solar do coração de Subhadro é adubar a terra e saciar o coração das pessoas que tem fome de viver. o chackra de Subhadro é o coração da terra que ele escolheu floreser. e assim a vida se cristaliza, como baliza de uma beleza transparente e ardente. como um cajado, um cortejo, uma raça. roça raça feliz de tantos legumes, verduras, temperos e o que mais vier, desse viver desse mundo. festa na aldeia contente, cateto desse grão em alforria. mundo, vasto mundo, da magia da cozinha e de tudo que é ser vivo e servido. viva Vescio e seus vales, suas vidas, seus vinhos. tudo do que dele vem. como uma lâmina, luz pacífica do alimento da tabuleta, tábua sem tabus e tropeços. de tudo que toca e transforma. evoé, na fé do que virá, tudo do corpo e espírito, reluzente e andaluz escopo, de tão completa sinergia, incomparáveis, incalculáveis grãos. de tudo de tão bom, de tudo tão bem, do tao do tanto desses bens.
Véscio Lisboa Subhadro nasceu na Serra de Martins, transferindo-se para Natal quando jovem. aqui cursou advocacia mas nunca exerceu a profissão. sempre sintonizado com as questões ecológicas e humanitárias, logo despertou seu interesse por uma alimentação mais saudável. assim na década de 70 fundou o restaurante macrobiótico Amai, se tornando na cidade do Natal, referência como precursor dessa cozinha saudável. Vescio incansavelmente também é um simpatizante, incentivador, produtor das mais variadas manifestações artísticas. fundador do grupo teatral La Serpento, editor do jornal alternativo Hotel das Estrelas, diretor de autos natalinos e natal dentre inúmeros outros projetos, ações, realizações coletivas. faz dois anos que Vescio retomou o convívio, a labuta diária com seu restaurante. antes disso, por um bom tempo, trabalhou como secretário de Cultura da cidade de Parnamirim, e depois transferiu-se para praia de Diego Lopes, estabelecendo um calendário cultural durante 365 dias, por um bom tempo.
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