Dudu Galvão vive seu primeiro papel principal da carreira: "É um sonho realizado". Foto: João Caldas

Reportagens

Dudu Galvão protagoniza “Morte e Vida Severina”, aclamada em SP: “Um nordestino no centro do palco!"

Natalense vive o personagem da obra de João Cabral de Melo Neto, musical em cartaz no Teatro Tuca-PUC. Também estão Badu Moraes e Marco França

24 de abril de 2022

Depois de quase duas décadas atuando no teatro local e ocasionalmente cantando jazz em restaurantes, o natalense conquistou seu primeiro papel de protagonista da carreira e justamente fora de Natal, no mais aclamado espetáculo teatral desta temporada em São Paulo. Ele vive Severino no musical “Morte e Vida Severina”, obra escrita pelo pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) em 1955. A peça estreou há duas semanas (16 de abril) e vem lotando todas as sessões no emblemático Teatro Tuca- Teatro da PUC, em Perdizes. Atores, diretores, e produtores entre os nomes estrelados da dramaturgia brasileira tem passado pela plateia da casa, que mantém a temporada até 26 de junho.

O Tuca é o mesmo teatro da estreia de "Morte e Vida Severina" em 1965. A obra foi musicada por Chico Buarque, à época com 22 anos, e levada ao palco por Roberto Freire, na época diretor do teatro e partiu dele o convite para Chico Buarque musicar a obra de João Cabral de Melo Neto, o que acabou se transformando em um sucesso que atravessou fronteiras. 

Nesta versão, a saga árida e sofrida de um retirante vindo do sertão de Pernambuco conta com a direção de Elias Andreato e reúne treze atores de várias cidades do Brasil, a maioria do Nordeste, incluindo Badu Moraes, outra potiguar no elenco.  Além de cinco músicos, que dão o tom às composições de Chico Buarque de Hollanda, sob a direção musical do também potiguar Marco França. 

No palco, Dudu Galvão emociona o público ao dar voz aos imigrantes que buscam uma existência mais digna nas grandes cidades. Um retrato infelizmente ainda atual. Assim como encarna com veracidade e inteireza os muitos Severinos, ele também realiza seu sonho como artista, representando outros conterrâneos que precisam circular com seus espetáculos para poder existir em suas carreiras. “É um sonho antigo que estou tendo a oportunidade de realizar, porque estou há quase 20 anos trabalhando com teatro de grupo (Clowns de Shakespeare) foi a primeira vez que estou viajando para São Paulo de forma independente e fazendo parte de uma produção de fora,  tendo a oportunidade de trabalhar com artistas, o elenco é de todo o Brasil”, vibra o ator.

O ator passou por uma seleção concorrida de elenco, foram centenas de audições desde o início do ano. “Sou um nordestino no centro do palco! É muita emoção. Quando recebi a notícia, me senti muito honrado em poder dar voz a esse personagem tão icônico e desafiador. Arrumei as malas e saí de Natal com muita alegria no peito”.

Em sua viagem rumo a uma vida melhor, Severino se depara com situações de morte, desespero, miséria e fome. Ao chegar à capital pernambucana se desilude, pois a realidade que encontra ali não é muito diferente da do sertão. Pensa em suicídio, mas o nascimento de uma criança faz renascer sua esperança, apesar das dificuldades. Assim, a saga nordestina se desenha, revelando a alma de um povo que caminha forte em sua fé. 

“É um personagem que carrega o sertão dentro de si. Eu também trago esse sertão em mim através dos meus ancestrais do interior do Rio Grande do Norte e Pernambuco. Foi atuando na peça que conheci mais sobre as minhas origens”. 

Dudu lembra outro conterrâneo presente na montagem, o diretor musical Marco França, que é radicado em São Paulo. “Chico Buarque musicou o texto de João Cabral, foi o primeiro trabalho profissional dele quando tinha 22 anos e é através dessa trilha que a gente vê a grandiosidade do espetáculo. E Marco França dá um cheiro a mais inserindo esses aboios sertanejos, os lamentos…é muito imagético por que parte desse poema trágico de quase morte e esperança”, comentou.

SONHO

A ideia de produzir Morte e Vida Severina partiu de um sonho da dramaturga e produtora Célia Forte que, aos 16 anos, assistiu a peça no extinto Teatro Markanti. E a realidade se fez. “Trazer à baila, neste momento, a poesia de João Cabral de Melo Neto e as composições de Chico Buarque, num Brasil com tantos ´brasis´, é tão necessário e forte, tão necessário e poético, tão necessário e seco e tão necessário e vivo”, acredita Célia Forte.

Se esse espetáculo marcou a vida da dramaturga e produtora, a ponto dela ter certeza, ainda na adolescência, que “queria fazer isso da vida”, o diretor do espetáculo, Elias Andreato, tem uma forte relação com o autor. 

“Fiz minha estreia no teatro amador com a peça O Rio, de autoria de João Cabral de Melo Neto. Essa montagem de Morte e Vida Severina reúne um elenco de jovens talentosos e uma equipe de 'fazedores de arte' comprometida em criar um espetáculo emocionante em sua essência”, conta Andreato. A produção do espetáculo é da Morente Forte Produções Teatrais e envolve uma equipe renomada de criativos. O cenário tem a assinatura do artista que faleceu recentemente, Elifas Andreato; os figurinos, de Fábio Namatame; desenhos de luz de Elias Andreato e Junior Docini; desenho de som, de Marcelo Claret; e direção de movimento, Roberto Alencar.

JOÃO CABRAL 

Nesse poema, João Cabral de Melo Neto abusa da linguagem poética sem deixar de lado aspectos sociais e políticos. O texto marca, inclusive, o momento em que a arte é usada para manifestações políticas no país. Os versos são curtos, sonoros (geralmente com sete sílabas) e quase musicais, lembrando as poesias de cordel. 

A sonoridade, portanto, é um elemento importante da obra. “Imagine um restaurador diante da Monalisa. Me sinto assim mexendo com essa obra de João Cabral e Chico Buarque. Pôr as mãos no sagrado requer muito cuidado, respeito e escuta. Preciso deixar os poetas ecoarem livremente sem que eu os atrapalhe. Deságuo a cada dia e agradeço por esse privilégio”, afirma o diretor musical, Marco França.


 

SERVIÇO: Morte e Vida Severina

 

TUCA / PUC-SP - Rua Monte Alegre, 1024 - Perdizes, São Paulo 

Morte e Vida Severina

670 lugares

Sexta e sábado: 21h

Domingo: 19h

Ingressos:

Sexta-feira – R$ 80

Sábado e domingo – R$ 100

VENDAS: https://bileto.sympla.com.br/event/71954/d/129792/s/809556

Ou nas bilheterias do TUCA.

TEMPORADA ATÉ 26 DE JUNHO

Todas as últimas sextas-feiras haverá sessão de Libras.

 

Ficha Técnica

Da obra de JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Músicas de CHICO BUARQUE

Direção Geral ELIAS ANDREATO

Direção Musical, Arranjos, Aboios e Lamentos (original) MARCO FRANÇA

Voz MARIA BETHÂNIA

Poema Seca de DJAVAN

ELENCO

DUDU GALVÃO – Severino

ANDRÉA BASSITT – Cigana 2

BADU MORAIS – Mulher da Janela

BEATRIZ AMADO – Retirante e flauta

FERNANDO RUBRO – Retirante

GABRIELLA BRITTO – Retirante

IVAN VELLAME – Retirante

JANA FIGARELLA – Funeral

JOÃO PEDRO ATTUY – Coveiro 1

JONATHAN FARIA – Mestre Carpina

PABLO ÁSCOLI – Retirante

PATRICIA GASPPAR – Cigana 1

RAPHAEL MOTA – Coveiro 2

MÚSICOS

BEATRIZ FRANÇA – Contrabaixo acústico e baixo elétrico

BRUNO MENEGATTI – Rabeca e violão

DICINHO AREIAS – Sanfona

RAPHAEL COELHO – Percussão

RICARDO DUTRA – Viola e violão

Cenário ELIFAS ANDREATO

Figurino FABIO NAMATAME

Desenho de Luz ELIAS ANDREATO e JÚNIOR DOCINI

Desenho de Som MARCELO CLARET

Direção de Movimento ROBERTO ALENCAR

Assistente de Direção Geral JÚNIOR DOCINI

Assistente Direção Musical, Preparação Vocal, Pianista Ensaiador MARCELO FARIAS

Assistente de Cenário LAURA ANDREATO

Cenotécnico – FABIN CENOGRAFIA e EDÉSIO BISPO

Assistente de figurino – ANDRÉ VON SCHIMONSKY

Modelista – JULIANO LOPES

Costura – FERNANDO REINERT e MARIA JOSÉ DE CASTRO

Operador de Som THIAGO H. SCHAFFER

Microfonista GABRIEL VILAS

Operador de Luz JUNIOR DOCINI e RAFA INÁCIO

Contrarregragem/Camareiros FÁBIO OLLYVER e TONINHO PITA

Coordenação de Comunicação BETH GALLO

Assessoria de Imprensa – MORENTE FORTE – THAIS PERES

Programação Visual LAERTE KÉSSIMOS

Fotografia JOÃO CALDAS F°

Assistente de fotografia: ANDRÉIA MACHADO

Filmagem JADY FORTE

Redes Sociais e Textos ANA PAULA BARBULHO

Coordenação Administrativa DANI ANGELOTTI

Assistência Administrativa ALCENÍ BRAZ

Assistente de Produção NANA GENOVEZZI

Administradora da temporada MAGALI MORENTE LOPES

Produção Executiva MARTHA LOZANO

Produtoras SELMA MORENTE e CÉLIA FORTE