penso que os astros influenciaram a vida e obra de Lygia Fagundes Telles

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Em memória do bom astral e amplo legado da ariana Lygia Fagundes Telles

Há de se entender que vive na mente dos arianos algo melancólico e secreto, às vezes encoberto por suas cabeças entusiasmadas e falas altivasa

22 de abril de 2022

Jana Maia

Este ano vivemos a partida da escritora paulistana, Lygia Fagundes Telles, aos 104 anos. A autora dedicou-se desde sua juventude, de maneira ambiciosa, aos contos e romances. Amplamente premiada, integrante da Academia Brasileira de Letras e até mesmo indicada ao Nobel, Lygia escrevia e vivia com a objetividade pioneira do carneiro. Decidida a viver efetivamente do que amava, as suas histórias, publicou pela primeira vez aos 15 anos.

Os meus leitores (se bem existe algum), devem saber, antes de continuem neste texto, que há pouco saímos da influência astral do signo de Áries, ou seja, o período que abarca pessoas que nasceram entre os dias 21 de março e 19 de abril, tal qual a que vos escreve. Os carneiros, como são representados os que pertencem a esse grupo zodiacal, são exímios em liderança, pessoas super competitivas, empreendedores natos, e buscam quase sempre deixar uma marca, nada sutil, diga-se de passagem, neste mundo.

Em “Antes do Baile Verde”, obra de Lygia que citarei neste artigo como paralelo, a escritora aborda temas sóbrios como solidão, suicídio, amores que chegam ao fim, e os escreve com uma poderosa introspecção literária. Vejam bem, Lygia Fagundes Telles certamente não era um ser humano introspectivo, extrovertida como era, de língua afiada, translúcida, ouso dizer que a escritora expurgava os demônios mais secretos que perpassavam sua cabeça através de suas obras.

Há de se entender que vive na mente dos arianos, os primeiros do zodíaco, algo melancólico e secreto, muitas vezes encoberto por suas cabeças entusiasmadas e falas altivas, mas que precisa ser escoado através de algum movimento a fim de se evitar o autoflagelo. A autora reconhecia e revelava as arestas da vida, dos outros e suas, em suas prosas, nos adultérios de seus personagens, na desigualdade da sociedade, na hipocrisia e infinita solidão.

Os arianos são dados a expressar suas ideias com uma franqueza que pode ser considerada por muitos ingênua, detestam ser controlados em quaisquer aspectos de suas vidas, e escalam pacientemente (ou nem tanto) cada degrau para atingir seus objetivos. Conta-se, através de cartas que ficaram para que, por graça divina aos humanos, sua história não se perca, que Lygia Fagundes, enérgica e esperta como só ela, escreveu em sua adolescência para Érico Veríssimo, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, e sendo este bem mais velho que ela, com o objetivo de dividir sua história e na tentativa de tornar-se uma escritora de profissão, tendo assim iniciado uma bela amizade com ele e sua esposa, num passaporte ousado e estranho, tal qual ela.

A aclamada contista que um dia tornou-se, dentro e fora do Brasil, fez parte dos louros da história de uma mulher que sofreu com uma família disfuncional e que lutou para ser reconhecida em profissões “para homens’ (tanto no direito quanto na literatura), tendo caminhado todo o percurso com astúcia, simpatia e um enorme gênio. Lygia viveu em seu meio cercada por amigas e amigos, sendo conhecida por ser boa interlocutora, a famosa boa de papo, envolvente e natural. Uma de suas melhores amigas, talvez até mesmo a mais próxima, foi a poeta taurina Hilda Hilst, que diferia em aspectos significativos da romancista. Amigas até o fim, Hilda contava com Lygia para tudo e dizia sentir que podia falar absolutamente sobre qualquer coisa com ela.

Criativos, práticos e individualistas quando necessário, como são os que pertencem a Áries, penso que os astros influenciaram a vida e obra de Lygia Fagundes Telles, mas que a honra é toda e somente dela pela dedicação, persistência, estudo e trabalho em suas obras, levando-a a criar personagens muito reais, frases impactantes, fins potentes e a “captar as verdades subterrâneas", como primorosamente descreveu Carlos Drummond de Andrade. Certamente a naturalidade, assertividade, intrepidez e uma dose de mistério ao descrever personagens como os irmãos que em silêncio competem odiosamente e o amor divinizado do moço do saxofone serão legado para várias gerações, imagino que uma vitória tão desejada pela tipicamente ariana, Lygia Fagundes Telles.

P.s.: Dedico meu breve texto à amiga, escritora, taurina e Hilda Hilst que contempla minha vida, Danielle Sousa.