Coleção de máscaras da exposição "As Caras e os Caretas". Foto João Maria Alves
Reportagens
"As Caras e Os Caretas" reúne peças do artista Duda da Boneca, de Barra de Cunhaú, no espaço Casa de Taipa de Rubens Araújo, em Sagi
26 de novembro de 2020
Por Cinthia Lopes
A vida na praia não é feita só das histórias de pescador. Em Barra de Cunhaú, litoral sul do Rio Grande do Norte, o artista plástico e agitador cultural Duda da Boneca é um apaixonado pela arte em papel e pela cultura popular. No Centro Cultural que criou há 16 anos, fabrica máscaras lúdicas inspiradas nos papangus carnavalescos e ensina a recriar brinquedos a partir de objetos recicláveis. É lá também onde ele promove, todos os anos, o Festival de Cultura Popular.
Descendo até Baía Formosa, já na divisa com a Paraíba, está a bela Sagi. Lugar escolhido pelo jornalista Rubens Araújo para viver dias tranquilos depois de encerrar a carreira de redações em Brasília-DF. Não só para apreciar as águas mornas, mas para plantar sementes de arte e cultura. Há sete anos ele adquiriu uma casinha de pescador e a transformou em uma biblioteca, para ser compartilhada com comunidade de Sagi e turistas ocasionais. O acervo? “São meus livros discos de vinil, Cds, DVDs, uma coleção construída ao longo de minha vida, trouxe tudo de Brasília”, contou ao TL, o ex-crítico de cinema/quadrinhos no Correio Brasiliense.
Nesse refúgio fundou o Centro Cultural Casa de Taipa, espaço que está sempre de portas abertas para visitantes à procura de leituras e audições. Também costuma promover sessões de cinema na praia, aniversário de Luiz Gonzaga e o aniversário da Casa de Taipa, que por sinal é no Dia de São Pedro.Foi até cenário para live do cantor Zé Maria Pescador. Um lugar cheio de histórias.
Biblioteca do Centro Cultural Casa de Taipa, em Sagi, reúne acervo particular de jornalista
Mas faz seis meses que o Centro está sem atividades por causa da pandemia. Tanto Rubens em Sagi quanto o artesão Duda lá de Cunhaú sabem que é importante unir forças para manter viva a arte em tempos de dureza, celebrando amizades por meio da cultura. Antes que o fatídico 2020 termine, eles encurtam as distâncias para promover juntos um evento no próximo dia 5 de dezembro, às 21h, quando será aberta a primeira exposição de arte da Casa de Taipa e a primeira individual de Duda da Boneca, com peças inéditas de sua criação. A abertura terá coquetel e “todos são bem vindos”, avisam os realizadores. Ficará em cartaz até dia 19 de dezembro.
Sobre o tema "As Caras e os Caretas", Duda da Boneca conta que serão máscaras em papel maché e papietagem (técnica de papel sobre papel) com temáticas nordestinas inspiradas nos bonecos de João Redondo e também nos mascarados e papangus dos carnavais do Nordeste. Signos e significados do Nordeste profundo, com seus demônios, exus, papangus, folias populares de carnaval e queixadas, elementos marcantes em parte delas.
As máscaras de Duda da Boneca são inspiradas nos papangus, mitos e bonecos nordestinos
“As máscaras estão na minha vida desde que brincava de papangu nas ruas. Trabalho com elas desde 2001, mas só agora farei uma exposição. O papel é para mim uma forma de ressignificação das coisas, onde também contribuo de forma disciplinar para a cultura e o meio ambiente”, comenta o artista. “Eu me identifiquei com o Rubens, pois também sou produtor e administrador de um espaço cultural e também realizo atividades para a população. Ele é comprometido com as pessoas”.
Espaço cultural
Para Rubens, a Casa de Taipa é “uma válvula de escape cultural para as pessoas que aqui vivem, pois o acesso é muito mais difícil a tudo. É também o desaguar de todo um acervo que eu construir em toda a minha vida como jornalista e publicitário. Trouxe de Brasília pra cá. Não podia deixar tudo isso só para mim”, comentou o jornalista que virou produtor cultural.
Centro Cultural Casa de Taipa abriga blibioteca e espaço para eventos culturais em Sagi
Para poder acondicionar esse acervo de seu tempo de crítico de cinema, histórias em quadrinhos e literatura foi preciso readaptar a casinha que adquiriu de um pescador. “Coloquei mais janelas, prateleiras, telhas e vidros. Com o passar dos anos o acervo foi crescendo através de doações e de aquisições minhas. Então ampliei e construí um anexo, hoje a biblioteca completa fica lá”.
Em temporadas normais a programação era composta de três eventos animados e concorridos, no qual participam moradores e visitantes. No carnaval tem o Bloco da Cobra do Cabeludo (o cabeludo é o próprio criador do bloco), puxado por uma banda de frevo com uma cobra de chita e armação de ferro de 15 metros, apoiada por quatro pessoas. No meio do ano tem a Festa do CCCT dia 29 de junho. “Faço uma festa bem tradicional com forró pé de serra e outro palco com banda de reggae ou pop rock, trazendo também elementos do grafite, capoeira, quadrilhas juninas, pau de sebo, tudo bem regional, é um resgate importante”.
No dia 13 de dezembro é o aniversário de Luiz Gonzaga e na ocasião a Casa promove o Forró do Candeeiro. Este ano não vai ter forrobodó, mas o cineminha na praia continua. “Recomeçamos agora depois de seis meses de forma moderada, com cadeiras separadas e uso de máscara obrigatório”, reforma o produtor.
Quem quiser conhecer os espaços de Cunhaú e Baía Formosa/Sagi basta acessar as redes sociais ( Centro Cultural Casa de Taipa e Centro Cultural Barra de Cunhaú) ou pegar a estrada. As portas estarão sempre abertas, dizem.
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