Filme sobre jovens indígenas do RN despertou interesse de festivais fora do Brasil
Reportagens
Tradicional Família Brasileira Katu venceu o 11th Annual Fist Up Filme Festival na categoria melhor documentário. Diretor falar sobre projetos
24 de julho de 2020
O diretor e fotógrafo Rodrigo Sena tem se destacado pelo repertório de documentários que abordam as questões étnicas e de ancestralidade, principalmente no Rio Grande do Norte. Sejam em documentários realizados por ele ou em co-direção. Na busca de captação de recursos, o diretor não se limita a participar de editais ou chamadas públicas na categoria audiovisual. Ele se insere em editais sobre religiosidade e cultura popular.
O resultado são filmes que dão voz às comunidades e povos tradicionais e despertam o interesse de festivais por levar ao público novas questões. É o caso de produções como “Encantarias” (2015), que tratou do cotidiano de três religiões afro-indígenas praticadas na Grande Natal e virou série para tv. E “A Grande Ceia Quilombola” (2017), média-metragem documental que ele dirigiu ao lado da antropóloga Ana Stela Cunha, sobre os hábitos alimentares do Quilombo do Damásio, no Maranhão.
Mas um dos trabalhos que vem se destacando em festivais é o documentário “Tradicional Família Brasileira – Katu”, filme sobre crianças curumins de uma comunidade indígena do povoado Eleotério do Katu, na divisa dos municípios de Canguaretama e Goianinha, no RN. Sena esteve na comunidade em 2007, então como repórter fotográfico para um jornal local e 12 anos depois visitou o lugar como documentarista para mostrar a realidade desses indígenas já crescidos.
O filme marcou presença em 21 festivais e foi premiado em alguns. Agora acaba de ganhar o prêmio de Melhor Documentário no 11th Annual Fist Up Filme Festival, nos EUA. A premiação foi em dinheiro.
A lista de festivais é longa: 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes MG, Festcine Remigio PB (Melhor direção de fotografia), Festival Intima Lente Itália, Festival de Cinema de Alter do Chão-PA, Festival de Cinema de Fiorenzo Serra Itália, Festival Internacional de Cinema Radonezh, Rússia, Festcine Poços de Caldas-MG, Ethos Film Fest - Festival, Romênia, Arica-Chile, Geo Film Festival - Itália, Oftálmica Cine México, Frecine Rio de Janeiro, CineFest Votorantim e Curta Suzano SP, além do Festival Visões Periféricas RJ.
Para Sena, o filme desmistifica a história de que o Rio Grande do Norte não tem povos indígenas. “Tem uma temporalidade quando aborda a busca pelos personagens que foram fotografados há mais de dez anos, ainda quando crianças, e que através dessa busca a história acontece. Mas é também universal, quando é a voz do povo Katu protagonizando essa narrativa, que é um grito de resistência dos povos indígenas no Brasil”, comenta o diretor. Sena acredita que o povo é a própria voz e que o filme “é apenas um meio de tornar esse recorte de vida em cinema.”
NOVAS PRODUÇÕES
Em São Paulo ele está em parceria com outras produtoras e desenvolvendo co-produções, com próximos lançamentos em catalogo da SP Cine. Em Natal, o próximo projeto é “Reis de Yoruba”, documentário contemplado no edital de Expressões Religiosas da prefeitura de Natal.
“Reis de Yoruba” foi contemplado no edital de Expressões Religiosas da prefeitura de Natal.
O filme aborda como o mundo espiritual passa muito mais pelo terceiro olho do que pelos olhos físicos. “As oferendas, toques de atabaques, luz e escuridão, são indicadores de que o invisível aos olhos cegos não é invisível à sua sensibilidade".
Mas Rodrigo Sena conta que no momento da montagem e finalização o filme foi despertando outros sentidos. “Vivemos um dilema em relação ao título do filme e sua narrativa uma vez que o filme fala de questões sensoriais e espirituais”, comentou.
Outros filmes já gravados estão em fase de pós-produção e buscando apoio e se adaptando ao formato atual dos editais. “O amadurecimento natural do setor também fez acontecer novas produtoras com novos conteúdos. Hoje Ori Audiovisual e ABoca desenvolvem vários filmes em formatos diversos”.
A Boca é o antigo espaço de teatro que desde 2018 vem atuando como produtora de filmes, com núcleo formado por Rodrigo Sena, Arlindo Bezerra, Wallace Yuri e Manoel Batista.
É o caso de “Boy Cam”, sobre a indústria das Sexcams e as relações com a vida contemporânea. “Yabá” se passa na paradisíaca prainha de Cotovelo e conta a história de Neide, que busca saídas para salvar seu negócio, ameaçado pela crescente diminuição de peixes. As relações entre as antigas formas de trabalho pesqueiro são contrastadas com a necessidade de trabalho coletivo e de preservação ao meio ambiente.
Documentário em longa-metragem Calixto Passou por aqui conta a história do ex-garimpeiro e dono de pousada em Florânia-RN
O diretor, junto com Wallace Yuri, também está desenvolvendo o seu primeiro longa-metragem “Calixto Passou por Aqui”, contemplado no pelo Gostoso LAB, Laboratório para projetos de longa-metragem promovido pela Mostra de Cinema de Gostoso. O filme está atualmente em co-produção com a MISTIKA/SP.
“Calixto Passou por Aqui” é um filme de personagem que assume uma dimensão quase fantástica, apesar de ser um documentário verídico e realista. A fascinante pousada Casa de Deus, em Florânia-RN, e seu proprietário Antônio Calixto, colecionador de pedras preciosas, são indicativos da extravagância e amplitude desse personagem.
Calixto é um antigo garimpeiro que teve uma vida dura com a perda de membros da família pela fome. Depois de descobrir uma pedra preciosa, virou dono da única hospedagem do lugar. O trágico fim incorporado fortuitamente a este documentário traz elementos que em muito superam a ficção.
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