George Azevedo em seu ateliê: Jaquetas ganham pinturas tropicais feitas a mão

É Típico!

George Azevedo leva sua arte das telas para os jeans

Veterano produtor de moda estreia como estilista e cria peças autorais em jeans com pequenos defeitos

26 de janeiro de 2022

Cinthia Lopes

O pequeno ateliê montado na sala do apartamento do produtor e jornalista George Azevedo, em Natal, mais parece uma mata tropical. Para qualquer lado que se olhe, potes de tinta acrilex e pincéis dividem espaço com peças em jeans e camisetas multicoloridas pintadas à mão. Quadros em estilo próximo do Naif se sobrepõem ao já colorido papel de parede. A onça-pintada, o mais belo felino de nossas matas, ocupa o cenário pictórico de destaque.

Desde o início da pandemia, tem sido assim a rotina do fundador da Tráfego Models, Miss RN e da Revista Glam. Com a suspensão dos desfiles e diminuição de campanhas publicitárias de shoppings e editoriais, George foi levado a se isolar e retomar uma habilidade antiga. Pintar e desenhar era algo que fazia na adolescência. Com o novo-antigo hobby começou com telas, aos poucos passou a pintar jaquetas, calças, camisetas, bodies, chapéus. Ele conta que era fã de moda desde cedo e chegava a reproduzir nas próprias roupas as estampas da icônica marca Yes, Brazil. Suas estampas inclusive remetem um pouco ao estilo do Simão Azulay.

O conceito de moda sustentável também estava martelando sua cabeça. No seu tempo de menino, uma calça surrada logo se transformava em bermuda e uma camiseta poderia virar uma nova peça com um simples tingimento/amarração.

Com a quantidade de peças que havia em casa, resolveu reutilizar tecidos como telas. Quando não tinha mais peças próprias para reciclar, foi comprar jeans na ponta de estoque da Riachuelo com pequenos defeitos de fabricação. As peças então ganharam um novo significado. “A ideia era dar um novo uso e sentido artístico às peças usadas, mas também quis me desafiar nesse conceito do caro e barato", contou. O que George Azevedo faz é conhecido na moda como “upcycling”.

 No Instagram, as encomendas não param de chegar. O hobby passou a ficar sério e veio o primeiro desafio. Transformar seus jeans pintados em marca: Há menos de um mês e mandou fazer a etiquetas da George Azevedo Arts. 

 

Novo desafio: pintar vestidos ao estilo alta costura. Já as camisetas serão reproduzidas em silk para a estreia da coleção, em abril de 2022

Do ateliê até chegar ao povo da moda foi um pulo. Caso da jornalista Daniela Falcão, ex-editora da Vogue Brasil, que está desenvolvendo uma plataforma para divulgar criadores do Nordeste chamada Nordestesse.  Ela esteve em Natal em meados de janeiro de 2022 para conhecer a marca Moda DiPedro e viu o trabalho de George. 

“Quando eu imaginava que nada mais fosse me emocionar na moda, surgiu esse convite para apresentar esse meu trabalho para Daniela Falcão”, disse. “Bateu logo um nervoso. Eu que incentivo as pessoas e passo segurança, já coloquei muito artista em cena, me vi  no papel inverso”. George Azevedo foi em frente e apresentou sua coleção para a produtora. “A homenagem implícita à Yes Brazil lhe deixou emocionada”.

Com Daniela Falcão, ex-editora da Vogue e atual criador do Nordestesse

O felino das matas brasileiras tem sido nesse primeiro momento o ponto central das suas estampas super coloridas, mas outros temas virão, ele adianta. Enquanto prepara a coleção, investe em novas peças (recentemente ele adquiriu vestidos em tons pastéis e nudes de uma grife local). A futura coleção deve estrear em abril, mas até lá George segue pintando peça por peça e inventando moda como sempre fez, desde o início dos anos 90.