Série de obras do pintor Dorian Gray Caldas vai ilustrar na nova Pinacoteca

Reportagens

Gestora doa coleção particular para criação da Pinacoteca de Mossoró

Acervo inicial terá mais de mil obras, a maioria da coleção de Isaura Amélia Rosado. Inauguração deve acontecer no final deste ano

13 de agosto de 2020

Por Cinthia Lopes | Editora e Redatora

Há duas décadas nascia uma coleção de obras de arte que está tornando possível a criação da Pinacoteca de Mossoró. O projeto é capitaneado pela professora e socióloga Isaura Amélia Rosado, atual Secretária de Cultura de Mossoró e ex-diretora da Fundação José Augusto.

O espaço contará com um acervo de mais de mil obras, a maior parte da coleção particular que a gestora construiu a partir de aquisições e doações de artistas ao longo dos anos. De colecionadora, Isaura Rosado passa a condição de mecenas das artes plásticas.

O acervo será entregue em forma de comodato, cabendo à instituição Pinacoteca de Mossoró a sua preservação e extroversão.

Criado por proposta do deputado Beto Rosado, o novo museu de artes visuais do Rio Grande do Norte deverá inaugurar até o final do ano, se não ocorrer atrasos na obra de estruturação de um dos pavimentos do Museu Histórico Lauro da Escóssia. O prédio azul de traços coloniais funcionou, no passado, a Cadeia Pública.

Esta semana foi lançado o concurso para criação da identidade visual do novo espaço cultural, com premiação de R$ 3 mil.

Museu Histórico vai abrigar a primeira pinacoteca de Mossoró. Foto: Cedida

O acervo doado para o museu reúne diferentes estilos e períodos traçando um panorama abrangente das artes plásticas do Rio Grande do Norte. Há também alguns pintores brasileiros de relevância nacional e internacional, como Abraham Palatnik, Fé Córdula e outros.

Será feito um roteiro histórico e cronológico realizado por uma equipe tendo a frente o professor de linguística da UFRN Marcio de Lima Dantas, que tem estudado, pesquisado e entrevistado sobre o conteúdo expográfico.

Para Isaura Rosado, será a oportunidade também de expor um estudo das artes visuais da ‘capital’ do Oeste Potiguar, algo até então não registrado nem na Coleção Mossoroense de Dix-sept Rosado, que publicou centenas de livros criados por pessoas da região.

O sambista da Mangueira e pintor Nelson Sargento, 96 anos, teve obra adquirida para a Pinacoteca

“Os Famosos” e Dorian Gray

Um dos destaques do acervo é a coleção do artista, crítico de arte, poeta Dorian Gray Caldas (1930—2017)  com mais de 60 telas entre marinhas e paisagens potiguares. “Quando Dorian virou estrela, conversei com Dione Caldas para montar esse conjunto que ficou muito bonito e representativo de todos os anos da pintura de Dorian”, comentou.

Outra série que já tem despertado curiosidade antes mesmo de ser exibida é chamada de “Famosos”. São 25 obras de pessoas famosas não por serem pintoras, mas sim por terem notoriedade em outras áreas. É a faceta dessas personalidades que torna a coleção interessante. Há pinturas do escritor Ariano Suassuna, da poeta Cecília Meireles, o comediante e compositor Chico Anysio, a escritora Pagu e a mais recente do sambista e compositor Nelson Sargento, que completou 96 anos. “Adquiri uma obra do sambista da Mangueira, o trabalho chama-se justamente Mangueira, retratando o morro onde foi morar quando criança”

Isaura Amélia Rosado, o marchand Antônio Marques e o artista naif Edilson Araújo. Foto: Internet

 Coleção em casa

A curadora conta que a semente da Pinacoteca foi plantada em meados dos anos 1990, quando veio morar em Natal para assumir a direção geral da Fundação Capitania das Artes. “O projeto nasceu sem eu saber. Quando cheguei a Natal comecei a entrar em contato com os artistas e estabelecer uma boa relação com eles. A partir daí as aquisições foram surgindo, assim como presentes foram chegando e quando eu me dei conta tinha um acervo imenso dentro de minha casa.”

“Eu sabia que aquele acervo não podia ser só meu, ele precisava ser da cidade. Como Natal já tinha uma boa pinacoteca, eu achei que eu podia homenagear Mossoró”, conta a curadora.

Após deixar a Capitania das Artes, Isaura assumiu a direção da Fundação José Augusto nos governos de Wilma de Faria, Rosalba Ciarlini e Robinson Faria. A predileção pelas artes visuais seguiu em sua gestão.

Nesse tempo ajudou a criar a Associação Amigos da Pinacoteca e a realizar cinco edições do ”Salão de Arte Dorian Gray” criado para intermediar a venda de obras de arte dos artistas norte-rio-grandenses. Também criou o projeto “Privado é Público”, ação para promover a historiografia das artes exibindo coleções particulares, algumas peças suas foram expostas.  

Para a gestora, sempre houve o propósito de ser um legado. Antes de confirmar a doação deste acervo, Isaura tratou de catalogar e inventariar as obras em um livro de arte que ela editou há alguns anos.  

Segundo ela, o comodato vai valer “enquanto Mossoró tratar bem esse material. Se tiver algum tropeço, meus herdeiros poderão reivindicar. Mas sei que a cidade vai cuidar muito bem, é um acervo muito bonito, conta a história das artes plásticas do Rio Grande do Norte, e é o primeiro esboço formal e organizado das artes de Mossoró”, explicou.