Em processo de montagem de Gente de Classe, Carmin apresenta cena inédita

Agenda Cultural

Grupo Carmin e Coletivo CIDA participam do Festival Arte como Respiro do Itaú Cultural

O grupo Carmin se apresenta dia 10 com Gente de Classe: Transparente. A cena aborda a vida digital potencializada no isolamento

08 de outubro de 2020

Os grupos natalenses Carmin e o Coletivo CIDA participam, do primeiro bloco de outubro, do Festival Arte como Respiro do Itaú Cultural.  O grupo Carmin se apresenta dia 10 com Gente de Classe: Transparente. A cena aborda a vida digital potencializada no isolamento: Num condomínio de classe média, uma mãe solteira e seus dois filhos se falam apenas por videoconferência, ainda que estejam na mesma casa. O texto é parte da montagem que o grupo Carmin espera estrear após a pandemia. Já o espetáculo Maré, do Coletivo CIDA,  exibido no domingo, é uma peça coreográfica que faz uma alusão às formas como abordamos e estereotipamos os modo de se relacionar. Assim, cria uma metáfora sobre os níveis, as intensidades e profundidades desse sentimento tão complexo: o amor

O público acompanha, sempre às 20h, 18 espetáculos de dança, teatro, performance e  circo, com artistas da Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, além do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo, selecionados em Arte como respiro: múltiplos editais de emergência realizado pelo Itaú Cultural para apoiar os artistas no período de suspensão social. Todos ficam disponíveis no site da instituição (www.itaucultural.org.br) por 24 horas para serem assistidos virtualmente.

Confira programação

Na quinta-feira, dia 8, as questões de gênero costuram as exibições do festival, a partir da abertura com Esmea, dos paulistas Leonardo Cuspamos e Lucas Andrade. Nele, os personagens F e C viveram um grande amor, mas após o fim do romance F ficou em total estado de solidão, relendo escritos e relembrando os momentos que viveu com C. Por sua vez, a cena teatral Filho Homem, do carioca Bernardo de Assis, aborda as diferenças e proximidades entre dois irmãos: um criado para ser homem e outro criado para ser mulher.

Em #ressignifiCASA – Cozinha, o multiartista Murilo Toledo, também de São Paulo, faz uso da dança, acrobacia e interpretação para tratar das emoções em meio a um processo de término, logo na chegada da quarentena, de um casamento homoafetivo marcado por padrões heterocisnormativos – o vídeo integra uma série de três produções, e as outras duas partes serão exibidas no perfil do Instagram do artista (@murilotoledo). A temática permanece em Cruz Credo, do Coletivo Emaranhado, do Espírito Santo, que trata das retaliações sofridas pelo corpo-vivência de um humano negro, cisgênero e gay em espaços sociais nos quais esteve inserido em sua adolescência: família, escola, igreja e trabalho.

A noite conta, ainda, com o espetáculo O Hétero, do Rio de Janeiro. Neste monólogo bem humorado, o personagem Fulano de Tal, vivido por Zé Wendell, é um nordestino, artista, homem comum, que sai em uma jornada de autoconhecimento e aceitação de si, trazendo, junto, a pluralidade da cultura popular e flertando com a cultura do repente, do cordel e das influências midiáticas da televisão na década de 1990 até os dias de hoje.

Corpo e mente

A sexta-feira, dia 9, é capitaneada por produções que mergulham na linguagem circense para abordar desde questões ligadas a padrões físicos até traços psicológicos que se escondem por trás de personagens que camuflam seus sentimentos.

O palhaço, ator e bailarino paulista André Doriana abre a programação com Chàrlá Táon – O Contorcionista. Nele, o palhaço faquir Chàrlá “co(n)vid(a)-19” a descobrir qual a cor, a textura e o movimento das transformações que a pandemia tem provocado no mundo, ensinando um antídoto milenar contra a dor: o riso. O Melhor Trapezista de Todo o Mundo, da gaúcha Cia Fundo Mundo, faz uma sátira aos números clássicos de acrobacia aérea, em que acrobatas magros, fortes e cisgêneros demonstram uma confiança exorbitante. Aqui, no entanto, um personagem excêntrico, que se autointitula o melhor trapezista de todos os tempos, tenta manter a pose quando as coisas não saem exatamente como planejado.

O solo Pontos de Vista de Um Palhaço fecha a programação do dia, colocando o ator Daniel Warren, de São Paulo, na pele de um palhaço que busca ajuda em uma sessão de terapia online. Adaptação teatral para o vídeo do romance homônimo do alemão Heinrich Boll, ela parte da relação descontraída com o público para refletir sobre as máscaras sociais, desnudando aspectos ora dramáticos ora absurdos neste retrato profundo da natureza humana.

Novos formatos

As apresentações do sábado (dia 10) no Festival Arte como Respiro – Edição Cênicas reúnem projetos pensados e criados a partir do momento atual de quarentena, levando para o digital novos formatos e reflexões deste período.

A noite abre com Um Passinho de Cada Vez, de Marzia Zambianchi e Olivia Orthof, do Distrito Federal. Realizada durante a suspenão social por alunos circenses, a videodança parte da dança carioca do passinho para estimular a criatividade neste período em que um tempo ocioso foi brutalmente injetado em muitas rotinas.

A vida digital potencializada no isolamento também guia Gente de Classe: Transparentes, apresentado pelo Grupo Carmin, do Rio Grande do Norte. Trecho cômico de futura peça da companhia, a cena se passa em um condomínio de classe média, onde uma mãe solteira e seus dois filhos se falam apenas por videoconferência, ainda que estejam na mesma casa. Vendo a família como um negócio, a mãe promove uma live para evitar a falência desta empresa.

Luta Live, que a atriz mineira Teuda Bara apresenta fechando a noite, é um projeto audiovisual desenvolvido a partir do espetáculo Luta, baseado em memórias e particularidades da artista. Em cena, Teuda, uma das fundadoras do grupo Galpão, ficcionaliza sua trajetória, cria imagens, conta casos e elege a luta como alegoria para o teatro e a própria vida. Na atualidade, a luta continua, mesmo que à distância.

Relações

O primeiro bloco de outubro termina no domingo, dia 11, projetos levam à cena reflexões sobre as relações criadas pelo indivíduo consigo, com o mundo e com os outros para o site do Itaú Cultural. O paulista Toque de Quarentena traz o registrou em vídeo de uma cena performática do casal Livia Vilela e Cezar Siqueira realizada durante o período atual, que expressa, por meio do movimento, a experiência do isolamento e seus efeitos nos corpos. Este jogo físico, que alterna distanciamentos e aproximações, metaforiza a cena social no chão de casa da dupla, fazendo, ainda, da sobreposição de imagens de seus próprios corpos um efeito multiplicador que propicia a única aglomeração possível no atual cenário.

Também híbrida, a cena gravada em casa O Mundo Está ao Contrário e Ninguém Reparou, de Camila Cequinel, do Paraná, chama a atenção para a ideia de que às vezes inverter uma situação e ver as coisas de outro ponto de vista é a solução para os problemas. Nesse caminho, a artista adapta seu trabalho para a atualidade e reinventa a comunicação da arte por meio do audiovisual, sem perder a vivacidade e poesia do circo.

O espetáculo final é Maré, do Coletivo CIDA, do Rio Grande do Norte. Criada em 2017, pensada inicialmente como um dueto, esta peça coreográfica assume uma nova formatação em versão compartilhada, em uma alusão às formas como abordamos e estereotipamos a natureza híbrida desse modo de se relacionar. Assim, cria uma metáfora sobre a modificação, os níveis, as intensidades e profundidades desse sentimento tão complexo: o amor.