Gutemberg Costa recebe amigos e visitantes em sua nova morada. Foto: Tribuna do Norte

É Típico!

Gutemberg Costa abre biblioteca em Nísia Floresta: sua “Pasárgada”

Autor natalense adquiriu duas casas antigas e em uma delas fundou a Biblioteca Dona Maria Estela, onde recebe visitantes com cafezinho e tapioca

06 de setembro de 2020

por Cinthia Lopes

Escritor conhecido por livros sobre boemia, literatura de cordel e histórias dos carnavais do Rio Grande do Norte, Gutemberg Costa não precisou esperar por uma crise mundial para juntar suas coisas e ir-se embora pra Pasárgada.

O autor natalense adquiriu duas casas antigas em Nísia Floresta e fundou a Biblioteca Dona Maria Estela, uma homenagem a sua mãe. Lá recebe amigos vindos de Natal, leitores em geral e turistas. Garantia de boa prosa e um cafezinho com tapioca. Para agendar a visita, basta marcar pelo whatsapp.

Sua biblioteca conta com 7 mil livros, vinis antigos, revistas, folhetos de cordéis, entre outros objetos de memorabilia que foram colocados para consulta.  Aos navegantes que por acaso o esperam em algum café ou bar em Natal, ele manda avisar que “foi para ficar o resto de minha vida aqui”.  Ele conversou com o TL por whatsapp. Confira:

Gutemberg, você está morando em definitivo em Nísia Floresta ou somente até o fim da pandemia?

Já estava influenciado por vários amigos e amigas intelectuais do país, que retornaram as suas origens ou procuraram cidades pequenas e tranquilas para viverem com mais calma e qualidade de vida. Quando me aposentei em final de 2016, procurei um lugar que me servisse de Pasárgada. Sou natalense, não queria ficar muito distante da minha feira do Alecrim, onde nasci e vivi grande parte de minha vida. Acho que acertei. Meu quintal tem fruteiras e sábias soltos. Galos cantando. Tem fogão de lenha. Tem uma pata chocando 12 futuros patinhos. Chamo esse paraíso de Morada São Saruê. Tem banho de bica que minha neta adora. Daqui avisto toda hora a velha e lendária Lagoa Papary. Já recebi centenas de amigos e amigas, familiares...

Quando resolveu criar a Biblioteca D. Maria Estela, e a quem ela homenageia?

Comprei duas casas vizinhas para comportar a mudança que veio em duas viagens de caminhão baú. A casa de morada com os móveis mais velhos do que eu. Minhas filhas a chamam de Museu. A casa vizinha abriga a biblioteca Dona Maria Estela e quinquilharias de cultura popular. De ex votos a vinis antigos. São cerca de mais de 7 mil livros, revistas, folhetos de cordéis, fotografias e jornais.Mania de juntar cacarecos, como chamou uma vizinha minha de Natal. O nome é uma homenagem a minha saudosa mãe. Dona Estela, nascida em Pendências. Fugiu ainda uma adolescente para se casar e viver em Natal com seu Geraldo Costa, 10 anos mais velho do que ela. E o incrível é que não o conhecia. Teve 7 filhos. (1925/1998). Marcou muito quem a conheceu.

 

Qual o foco do acervo, tem um pouco de tudo, romances, literatura do Rio Grande do Norte, cultura popular?

A biblioteca foi criada em agosto de 2017. Já a visitaram centenas de pessoas. É aberta todos os dias. Meu passatempo. Digo que sou bibliotecário e faxineiro. Leio muito, colo, carimbo, guardo, limpo, tudo sozinho com muito prazer. É aberta aos interessados leitores, principalmente a quem pesquisa sobre literatura de cordel, carnaval em Natal, música, história de Natal e RN, biografias, filosofia, religiosidade popular, humor no Brasil, mulheres do RN, escravidão no Brasil, cangaço e Canudos, entre outros temas. O acervo foi adquirido em viagens, sebos, livrarias e também doações recentes. Não se empresta nada. Aqui se pesquisa sem cobrar taxa alguma. Vi na biblioteca de um saudoso amigo baiano o seguinte alerta: "o último que pediu emprestado ainda não voltou". Confesso que fui um menino invejoso. Inveja do bem, como diria o mestre Câmara Cascudo.  Morava perto de duas grandes bibliotecas, a de Rômulo Wanderley e Leonardo Bezerra. As ditas invejadas, lá no bairro do Alecrim. Conheci os dois levado por minha mãe. Só não sei onde foram parar essas duas bibliotecas. Os donos, eu sei que estão no céu.

Está aberta para visitas e empréstimos?

É bom agendar antes de vir pelo whatsapp. É bom ser recebido com café e  tapioca. Assim recebi muita gente. Vou citar dois casais: Vicente Serejo e Rejane Cardoso. Manoel Procópio Júnior e Jarilda.

Nísia Floresta é uma cidade que recebe alguns turistas em busca de informações sobre a escritora pioneira no Brasil na área de educação e feminismo. Como está o município com relação aos cuidados com a memória de Nísia?

Tenho pouca coisa sobre Nísia Floresta. A grandiosa mulher e sobre a história do município. Vivo enfurnado em casa, não sei nada sobre o que oficialmente a prefeitura daqui faz pela divulgação do nome e história da escritora Nísia Floresta. O amigo Vicente Serejo gosta de brincar dizendo-me sempre com seu humor inteligente e criativo: "você escolheu morar logo nas terras de dona Dionísia". Apesar de rivais, essa terra do baobá e do camarão abrigou o nascedouro de Nísia Floresta e Isabel Gondim. Aqui moram muitos artistas e escritores e escritoras. Terra abençoada por Nossa Senhora do Ó, que me tomou de São Pedro e São João Batista, padroeiros do meu bairro do Alecrim e a cidade de meus ancestrais maternos, Pendências.