Para chegar até onde Isadora já chegou, houve uma história permeada de estudos, cursos, concursos

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Isadora Rezende em busca do sonho

Perto de completar 18 anos, artista prodígio do RN trilha caminho internacional com formação acadêmica em prestigiada escola de música da Suíça

14 de agosto de 2023

Texto e fotos por Lívio Oliveira

Isadora Rezende vem alimentando um sonho muito especial, que bem cedo já começou a realizar. O seu talento, algo que transparece e empolga à primeira audição, já transpõe as fronteiras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, do estado do Rio Grande do Norte, e até do Brasil. Isadora estudará na graduação de uma importante instituição musical da Suíça. Fará Bacharelado em Música na Hochschule für Musik Basel FHNW, na classe do Professor Claudio Martinez Mehner. E essa vitória – que tende a se multiplicar por muitas outras – é por puríssimo e muito enraizado mérito. Isadora vem desenvolvendo os seus dons desde as primeiras aulas no Curso de Iniciação Artística – CIART (entre 2010 e 2013), na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, e nunca mais parou.

Quem já teve a oportunidade de ouvi-la, pode se afirmar como alguém que alcançou a felicidade nos minutos em que a jovem pianista esteve diante do teclado do nobre instrumento. Essa característica artístico-musical sempre a acompanhou, desde os primeiros anos de aprendizado, até porque tudo começou numa família embebida das boas águas da música: Fernanda, sua mãe, chegou a dar aulas na graduação de piano e, nos dias atuais, cuida da complexa logística da Orquestra Filarmônica da UFRN;  Daniel, seu pai, teve aulas de guitarra com professores do quilate de Joca Costa e Manoca Barreto, além de ter migrado posteriormente para os estudos do muito peculiar fagote, suspendendo-os e se fixando, hoje, como um dos mais importantes nomes da produção e difusão cultural do Rio Grande do Norte.

Pode-se até dizer que as influências sobre Isadora vieram do berço e do entorno completamente musical (o seu irmão, Dimitri, também se dedica a estudos musicais, tendo optado pela flauta. O seu namorado, Bruno Lomonaco, é violoncelista na Filarmônica da UFRN), mas isso seria simplificar a trajetória de uma jovem extremamente decidida e focada, que soube beber das mais qualificadas fontes musicais.  Isadora se aproveitou de um intenso “mix” de música que chegava até os seus sensíveis ouvidos, numa “paleta” musical que ia da MPB ao Jazz, do Rock’n Roll aos eruditos.

A relação de Isadora com o piano sempre foi muito espontânea, como também tem sido a sua interação com o público. Isadora, que fez o seu recital solo de estreia aos sete anos de idade, nunca sentiu necessidade de estudar completamente isolada, trancada, ensimesmada, permitindo mesmo, por vezes, que a porta se abrisse delicadamente para que alguém pudesse ouvir as suas notas nos corredores da EMUFRN, provocando atenções especiais para aquela instrumentista que já tocava e continua tocando muito apaixonadamente. Isadora gosta mesmo é de se apresentar ao público, ao qual só dedica belezas.

As influências musicais mais próximas, relativas ao instrumento que escolheu, vêm de nomes de elevada estirpe artística, como faz exemplo o do potiguar e universal Oriano de Almeida  (Belém, 15 de julho de 1921 — Natal, 11 de maio de 2004) – que sempre ouviu nas aulas do seu professor Guilherme Rodrigues, mestre estimulante e muito presente. Há de se destacar que Isadora forneceu o fio condutor, a própria imagem e a fala, para o documentário “Quando as nuvens eram nossas – Recortes da vida e obra de Oriano de Almeida”, dirigido por Carito Cavalcanti, com excelente repercussão no meio artístico e na cena cultural em geral.

Outros nomes importantes constam do rol de belas escolhas da instrumentista Isadora. A premiada pianista potiguar Marluze de Almeida Romano foi uma das suas maiores influenciadoras e continua lhe transmitindo valiosas lições, num diálogo perene, produtivo e eficaz. Alguns outros nomes essenciais são lembrados pela jovem e já vitoriosa pianista: Antonietta Rudge (São Paulo, 13 de junho de 1885 – 13 de julho de 1974); Magdalena Tagliaferro (Petrópolis, 19 de janeiro de 1893 — Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1986); Guiomar Novaes (São João da Boa Vista, 28 de fevereiro de 1896 — São Paulo, 7 de março de 1979); Martha Argerich (Buenos Aires, 5 de junho de 1941 – 82 anos). 

Isadora considera “impressionantes” as mulheres que a guiam musicalmente. Não é difícil perceber que a artista aqui retratada também impressiona, pela paixão, pelo empenho, pela disciplina, pela firmeza de propósitos e pela busca do seu sonho maior, que é o de se tornar uma solista de alta reputação na música de câmara (deduz-se e se acredita que isso acontecerá, tanto em auditórios brasileiros como em salas de apresentação estrangeiras).

Para chegar até onde Isadora já chegou, houve uma história permeada de estudos, cursos, concursos e muitas realizações já obtidas. Basta dizer que, dentre vários outros prêmios, a pianista alcançou a primeira colocação no I Concurso Internacional Parnassus de la Música, edição Latinoamérica, e ainda foi agraciada com os prêmios FGCU e beca Frost Chopin Academy.

No ano de 2022 teve aulas com Sylvia Thereza(Bélgica), Kevin Kenner (USA), Garrick Ohlsson (USA), Ewa Poblocka (Polônia), John Rink (Inglaterra), Cristian Budu (Brasil) e Luiz Gustavo Carvalho (Brasil), sendo bolsista dos festivais Frost Chopin Academy, I Festival de Piano da Escola Saramenha de Artes e Ofícios e Festival de Artes Vertentes.

Após uma despretensiosa – conforme a pianista a define – mensagem enviada para o novo curso, a jovem talentosa precisou apresentar seis peça ininterruptas, com a duração total de 30 minutos, sem corte. Não foi uma tarefa fácil e Isadora se “internou” por dez dias, estudando sem parar, suando literalmente, até porque teve que desligar todos os ares-condicionados do auditório principal da EMUFRN, para a música ficar mais audível, com vistas à gravação (duas vezes executada). 

Na prova realizada, Isadora tocou três peças de Chopin, uma de Mozart, uma de Ravel e uma de Bach. E veio o que era mais esperado: a aprovação. Agora chegam as expectativas, aos poucos, com novos esforços. Inclusive está sendo feita uma chamada “Vakinha” para a manutenção dos custos de vida na Suíça durante esse período que começará no próximo dia 11 de setembro. Essa possibilidade de colaboração coletiva está acessível a todos os interessados em: https://www.vakinha.com.br/38888920.

A pianista estudará numa parte “alemã” da Suíça e se garantirá no aprendizado e na cidade com o seu ótimo aprendizado de inglês e um pouco de francês, na graduação que se inicia em setembro deste 2023, com a duração de três anos, durante os quais terá, certamente, o acompanhamento, o apoio e mesmo a presença eventual dos pais (Fernanda, a mãe, já planeja um Natal bem feliz no frio clima da Suíça, no vindouro dezembro, quando Isadora completará dezoito anos de idade e já terá meses de experiência naquela graduação no exterior). E todos os potiguares já têm e terão muito orgulho desse nome: Isadora Rezende.