A escritora também foi professora de Língua Portuguesa no IFRN de Apodi e Mossoró nos últimos anos

Reportagens

Kalliane Sibelli de Amorim (1982-2023): uma das expressivas vozes da poesia potiguar se cala

A autora das obras “Exercício de silêncio” e “Relicário” faleceu ontem em Mossoró

12 de maio de 2023

por Alexandre Alves

Autora de quatro livros de poesia, Kalliane Sibelli de Amorim veio a falecer nesta última quarta-feira em Mossoró, cidade onde residia e onde tinha uma atuação cultural evidente, sendo do conselho editorial da Sarau das Letras. A escritora também foi professora de Língua Portuguesa no IFRN de Apodi e Mossoró nos últimos dez anos.

Nascida em Umarizal e crescida em Mossoró, a poetisa se graduou em Letras no campus central da UERN e seu livro de estreia foi “Outonos”, lançado no ano de 2002 pela Coleção Mossoroense. A jovem Kalliane deixou o legado de uma lírica claramente emotiva e sentimental em suas quatro obras, herdeiras dos talhes clássicos modernos de nomes como Cecília Meireles e Zila Mamede, misturando rima e verso livre, além das tensões entre a natureza e o homem.

Sempre publicando seus livros por editoras locais (Queima-Bucha, Sarau das Letras), Kalliane produziu, além de “Outonos”, as obras “Exercício de silêncio” (de 2006), “Relicário” (de 2015) e “Peregrina” (de 2019), antes de tratar um câncer de mama que acabou por lhe tirar a vida nesta semana, infelizmente.

Sobre a poesia dela, renomados críticos literários como o paraibano Hildeberto Barbosa Filho, em edição de meados de 2019 no Jornal “A União”, relataram que Kalliane, na obra “Peregrina”, apresentava em seus versos um “programa lírico comprometido a significação do essencial, com o valor das coisas permanentes”. Já o poeta Leontino Filho, na orelha de “Exercício do silêncio”, expõe que aquele livro “resvala sobre a revelação ardente do tempo e de seus assombros”. Certamente, a poetisa era uma das vozes mais expressivas da lírica contemporânea potiguar, em especial aquela feita fora da capital, sendo exemplo de produção constante e consistente.

Resta aqui lembrar de alguns de seus versos emanando temas como a efemeridade do tempo, a natureza e a existência humana, como no quase poema premonitório “Consolo”, presente na obra “Relicário”:

“As flores serão felizes / ao cobrirem nossos braços, / nosso corpo, imenso campo, / de silêncios um regaço. / [...] / cantarão todos os pássaros, / quando a paz desconhecida / se agarrar aos nossos passos. / [...] / deixaremos da invenção / de nossa voz os pedaços”. Kalliane foi a vencedora da quinta edição do “Concurso de poesia Luís Carlos Guimarães”, promovido pela Fundação José Augusto.