Rossini Perez nos últimos anos de carreira, no Rio de Janeiro. foto: Reprodução Blog da BN

Reportagens

Livro lançado em Natal resgata vida, arte e acervo do gravurista Rossini Perez

Resultado de pesquisa minuciosa da curadora Sabrina Moura, publicação revela obras e documentos inéditos do artista nascido em Macaíba

09 de abril de 2023

É potiguar um dos mais importantes mestres gravuristas brasileiros. Rossini Perez (1931-2020) nasceu em Macaíba, filho de um espanhol e uma seridoense. A última passagem por Natal deste consagrado artista foi em 2012, quando planejava realizar aqui uma grande exposição. Morreu sem ver seu acervo de volta ao RN. 

Seis anos após sua morte, Rossini é revisitado pela curadora e pesquisadora Sabrina Moura. No próximo dia 19 de abril, ela lança em Natal a obra “Arqueologia da criação – uma imersão no acervo-atelier de Rossini Perez", a partir das 17h30, na Pinacoteca do Palácio da Cultura. 

Na ocasião será realizada uma apresentação do recém-criado Instituto Rossini Perez, além de uma roda de conversa com Sabrina Moura, Marisa Pires Rodrigues (museóloga e curadora da Coleção Rossini Perez - Sala Hermano José/Universidade Federal da Paraíba) e Manoel Onofre Neto (promotor de Justiça e colecionador). Depois de Natal, o livro será apresentado no Rio de Janeiro e em São Paulo. 

“Arqueologia da criação" nasce do encontro entre a curadora  e o artista visual ocorrido em 2017, no Rio de Janeiro. Sabrina buscava informações sobre a Bienal de Dacar (Senegal), e Rossini, que tinha participado do evento na década de 1970 e convivido com grandes nomes das artes daquele período, seria um testemunho importante para sua pesquisa de doutorado. 

Mas algo chamou a atenção da pesquisadora: o material que havia no ateliê do artista era grandioso e merecia um olhar especial. 

“Eu me envolvi totalmente com sua obra, mudei minha compreensão da arte, entrando numa imersão total em tudo que estava ali”, ela conta.

Desse envolvimento com o acervo de Rossini e de uma profunda pesquisa sobre sua vida e obra, nasce um livro que celebra também o encontro entre dois nordestinos: Sabrina nasceu em Natal e Rossini em Macaíba, interior do Rio Grande do Norte.

|Sabrina Moura saca do acervo do artista obras desconhecidas e documentos inéditos;

penetra na intimidade de uma mente fértil e criativa que marcou sua época e a arte mundial. 

Amplamente ilustrado, “Arqueologia da criação” nos oferece um panorama único das andanças de Rossini pelo mundo – desde o agreste nordestino, com passagens pela capital francesa, onde morou e trabalhou, até suas incursões pela cultura do continente Africano, incluindo Senegal e o deserto do Saara. Sabrina Moura saca do acervo do artista obras desconhecidas e documentos inéditos; penetra na intimidade de uma mente fértil e criativa que marcou sua época e a arte mundial. 

Para ela, a partir desse mergulho é possível tecer novas conexões capazes de iluminar outras histórias sobre arte brasileira. É o caso das intersecções de Rossini com João Cabral de Melo (eles se conheceram em Dacar em meados de 1970, quando o poeta atuava como embaixador).

Além dos textos de Sabrina, o livro traz um longo depoimento de Rossini nos anos 1990, no qual ele fala de parte significativa de sua infância, de Macaíba, da saúde frágil, que despertou seu gosto pela leitura, pela música.

Recorda seus primeiros contatos com a obra de artistas como Goya, Velázquez, Murillo. Lembra da mudança, ainda jovem, para o Rio de Janeiro, de sua passagem por Paris (Rossini teve um ateliê na Passage du Cheval Blanc), dos doze anos vividos na Europa, de sua estada no Senegal e do retorno ao Rio, onde passou o resto de seus dias.

O livro também conta com textos de Juliana Maués, Claudia Rocha (do Museu Nacional de Belas Artes), Maria Luisa Távora (UFRJ) e Hanayrá Negreiros (curadora e pesquisadora de moda). O texto de orelha é assinado pela artista e grande referência na área Maria Bonomi, que relata seus encontros e sua relação de amizade com Rossini.

Hanayrá Negreiros, que sob a perspectiva da moda analisa as imagens dos tecidos e da indumentária africana produzidas pelo artista, afirma:

“No caso da moda mais tradicional, é interessante perceber como ele olhou para os turbantes, as amarrações dos tecidos ao corpo, as texturas e os bordados”.

Para Sabrina Moura, a obra de Rossini se encontra hoje entre o reconhecimento de museus prestigiosos e a falta de representação significativa no mercado da arte. Suas obras fazem parte das coleções da Pinacoteca de São Paulo, do Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro), do Museu de Arte Moderna de Nova York, da Bibliothèque Nationale de France (Paris), entre outros.

“Nesse sentido, este livro tem uma importância que vai além da memória. É o resgate e a valorização desse grande artista e, junto com ele, de uma parte importante da arte brasileira”.

“Arqueologia da Criação” é ainda um agudo testemunho de Sabrina Moura sobre os últimos anos de vida de Rossini Perez em seu apartamento que também era acervo e ateliê, em Copacabana.

“Acompanhar um artista na etapa final de sua vida, sem dúvida, é uma experiência imensa. Não só pelo significado da partida, da morte, mas também pelo impulso de continuidade ante a finitude”, afirma a pesquisadora.

O livro marca a parceira da Vasto Edições, capitaneada pela pesquisadora e curadora Sabrina Moura, e da Editora Mireveja, com sede em Bauru (SP). 

Sobre Rossini Perez(Macaíba, 1931-Rio de Janeiro, 2020)

Artista brasileiro cuja obra tornou-se célebre pela gravura em metal, seu trabalho, entretanto, é marcado por experimentações em múltiplas linguagens, como a fotografia, a colagem, o desenho e a arte têxtil. Sua iniciação nas artes visuais aconteceu nos anos 1940. Ao longo desse processo, foi orientado por Oswaldo Goeldi, Iberê Camargo e Fayga Ostrower. No início dos anos 1960, instalou-se em Paris, onde frequentou o ateliê do artista franco-alemão Johnny Friedlaender e conviveu também com outros artistas brasileiros sediados na capital francesa, como Arthur Luiz Piza, Sérgio Camargo, Antônio Bandeira, Frans Krajcberg. 

Entre 1962 e 1963, estudou gravura na Rijksakademie de Amsterdam. Ao retornar ao Brasil, em meados dos anos 1970, reabriu a oficina de gravura do Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB), fechada desde o AI-5 (1968). Fixou-se no Rio de Janeiro e passou a fotografar monumentos, construções, detalhes de arquitetura e espaços públicos da cidade, em franca transformação. Nos anos 2010, mudou-se para Copacabana, onde seguiu produzindo e revisitando os diversos materiais de seu acervo.

Sabrina Moura foi curadora da mostra “Nome Próprio”, no Centro de Artes Municipal Hélio Oiticica (Rio de Janeiro), no quadro do programa Coincidências, da fundação suíça Pro Helvetia. Foi pesquisadora visitante do Instituto de Estudos Africanos da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, com uma bolsa da Fundação Getty, em Los Angeles, em 2016. Editou o livro “Panoramas do sul: perspectivas para outras geografias do pensamento” (Sesc Videobrasil, 2015), que apresenta contribuições culturais e artísticas sobre o conceito de sul global. É doutora em História da Arte pela Unicamp e tem mestrado em História e Estética (Universidade Paris VIII, 2011) 

 

Serviço

Arqueologia da criação – uma imersão no acervo-atelier de Rossini Perez

O livro está com desconto especial de pré-venda até o dia 19 de abril – de R$ 112 por

R$ 89,50 – somente no site da Editora Mireveja: www.editoramireveja.com

O livro será lançado futuramente em São Paulo e Rio de Janeiro, com datas a confirmar.

Organização: Sabrina Moura

Projeto gráfico: Frederico Floeter

Vasto Edições – Editora Mireveja

240 páginas • colorido