Capa do EP Gnose, da banda mossoroense Matura. foto: cedida

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Múltipla música potiguar: novas canções em plena pandemia (e algumas antigas)

Da série de norte-rio-grandenses produzindo música temos som atmosférico desértico, rap contemporâneo, beats eletrônicos e reggae roots

25 de julho de 2020

Por Alexandre Alves

Com a andança estando proibitiva pelas ruas aos mais conscientes, o jeito é fazer o que dá para fazer entre quatro paredes e entre as paredes virtuais. Difícil produzir um álbum inteiro devido ao tempo necessário e a saída momentânea é lançar canções isoladas (mais pandêmico é impossível), com exceção de um milagroso novo álbum saindo e um EP tirado da gaveta contando já quase dez anos (!) por um dos artistas potiguares aqui assinalados.

Nesta nova série de norte-rio-grandenses produzindo música, tudo parece múltiplo: jovem escritor premiado, música atmosférica desértica, rap contemporâneo, beats eletrônicos e reggae roots. Procurem aí seus fones de ouvido ou seus alto-falantes, façam sua trilha sonora e tirem suas conclusões.

Otto (Cazasuja) em foto de Rafael Passos

CAZASUJA, “Dia de preto” (08 faixas, Dosol, 26 minutos)

Álbum (por enquanto virtual) do jovem natalense Otto – aqui adotando seu codinome musical de Cazasuja –, seu rap chega produzido por nomes como Gabriel Souto (Dusolto) e Walter Nazário (Igapó de Almas). As faixas passeiam em bases com andamentos mais arrastados que dançantes ou acelerados (seria este talvez o rap reflexivo?). As letras mantêm a já tradicional crítica social com a desigualdade e violência urbana à frente. Destaque para a tensa “Babilônia 2020” e para a balançada “Só mais um samba”, agradando a quem gosta do estilo. Falta algum hit, mas o começo do Cazasuja – que já tem dois EPs anteriores, “Ato I” e “Entre eles e a morte, eu” – demonstra afinidade com o estilo. Olho nele.

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=K6zchgyVQH4

MATURA, “Gnose” (EP virtual, 03 faixas)

O trio de Mossoró relata que criou três temas instrumentais (os primeiros de um álbum físico a ser lançado ainda em 2020) e lança mão de uma música com ares, como eles mesmos classificam, “atmosféricos”. Gravado no Cosmos Studio – a meca do rock em Mossoró –, a faixa “Monge” vem com cantos sampleados e batidas eletroacústicas criando um clima semi oriental. Já a arrastada “Memories” tem até som de cachoeira cheirando a world music, fazendo lembrar da hoje intocável natureza, com os humanos presos em suas casas, criando um climão Phillip Glass. A derradeira, “Kekkenny”, é mais orgânica, contendo solos e aquele semblante mais de banda. No fim das contas, quase lounge music em tempos de estresse pandêmico. Relaxe e escute enquanto os trópicos ainda existem.

LINK: https://open.spotify.com/search/Matura%20gnose

MOONGANJAH, “Moonganjah” (EP virtual, Dosol, 04 faixas)

Reggae esperto feito aqui na esquina dos trópicos e gravado em 2003, sendo liberado só agora (!). Aquele mansidão do estilo, mas aqui com uma produção a mais, como a gaita e os tremolos na veranil “Rota do sol”, com a guitarra mandando ver aquelas “good vibes”. Já na quase lenta “Alcalina” aparecem timbres de acordeom em meio aos acordes sincopados do ritmo jamaicano, fazendo quase uma ponte com o forró de raiz nordestino, incluindo com os backing vocals fazendo a resposta à voz principal e fechando com um solo roqueiro. Na praieira “Búzios” vem outras claras referências ao litoral potiguar, podendo muito bem ser usada em propagandas do turismo no RN (se as agências fossem espertas...). De batido mesmo, só a defesa da liberação da cannabis em – surpresa! – “Yes cannabis”. Mas na sonoridade, eis aqui reggae roots de primeiro mundo.

https://www.youtube.com/watch?v=3F4ivNSQ4oo

 

PEDRO RHUAS + ANTONIO BÊ, “Máquina do tempo” (Single)

Procurando soar entre beats eletrônicos retos, teclados ocasionais e guitarras funkeadas – a produção é do parceiro musical Antonio Bê –, o escritor “poticearense” adentra em mais uma nova empreitada no meio musical (meses atrás havia lançado o single “Enquanto eu não te encontro”, mesmo título de seu recente livro). Trilha sonora sem maiores consequências entre rimas fáceis, voz desleixada semitonante, timbres já de largo uso e trazendo pouca informação sonora distinta. Funciona num verão, no outro talvez já nem tanto. Talvez seja melhor o rapaz tentar se encontrar na carreira literária.

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=MdMkiOSRjpY

 

POTYX, “Ginga com tapioca” (Single)

Ex-integrantes de bandas de rock natalense na década de 1990 (os headbangers do Deadly Fate sendo uma delas), o hoje produtor Eduardo Araújo reside em São Paulo e de lá vem mandando sua música, mesclando trilha sonora de jingles, beats dançantes – este aqui mistura tecnobrega, reggaton e osciladores de frequência! – e pouco uso vocal (nesta faixa em específico, tudo é instrumental), por vezes margeando um certo experimentalismo, apesar da base vir da música pop ocidental.

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=PH5mxe0yhsA