Aiyra apresenta "Despensar", faixa extraída do álbum “Quebra-vento”

Agenda Cultural

Mais sons poptiguares à solta

Em nova rodada musical, artistas novos lançam e relançam canções nas plataformas virtuais

25 de outubro de 2020

Por Alexandre Alves
Ainda sem uma plateia disposta a sair de casa e encarar um vírus ainda sem cura (assim são os conscientes e pacientes), os músicos potiguares seguem em sua sina de 2020: fazer música em suas casas e estúdios, e espalhar pela internet enquanto o mundo não volta ao normal (se é que foi normal algum dia).

Em nova rodada musical, há desde projetos paralelos a relançamentos, mas todos saindo do forno da música norte-rio-grandense, indo de Natal a Mossoró e desviando por Santa Cruz. Hora de mapear a múltipla música po(p)tiguar entre o pop, a MPB e o rock.

1. AIYRA, “Despensar” (videoclipe)

Faixa extraída do álbum “Quebra-vento”, no bem editado vídeo dirigido por Rodolfo Rodrigues, a figura de Aiyra aparece em significativa parcela das imagens, feitas parcialmente em um antigo casarão. Na canção de tonalidade dramática, trechos de influência concretista rondam a letra enquanto a atmosfera criada pelo produtor Pedras Leão (Igapó de Almas) parte para um misto de base percussiva e leves riffs repetindo um quase mantra do meio para o final. Para quebrar as expectativas, ainda aparece Mãe Beth de Oxum (!) narrando sobre a importância da presença feminina na sociedade atual. Música para pensar e repensar o mundo atual em seu machismo onipresente. Não procure apenas o refrão: busque um pouco mais.

2. LUAZ, “Não vou carregar essa culpa” (single)

 

Já com um disco lançado em 2018 (“Aram”), o quarteto natalense mostra em sua nova canção um cruzamento entre a MPB mais, digamos, ortodoxa e timbres contemporâneos. Se não surpreende em seus três minutos e pouco de duração, ao menos carrega a tradição do violão como base enquanto leves beats eletrônicos e synths resvalam numa sonoridade mais distante do usual. Bem produzida, a canção soa bem para fãs de Vanessa da Mata ou do Terno Rei, e o destaque vai para a bela voz de Luaz, embora a letra não ultrapasse a narrativa amorosa já desgastada, pendendo aos clichês líricos costumeiros. Há um vídeo prometido em breve para a canção.

3. HOTNAIL, “Nest” (single)

Projeto paralelo de Rafaum Costa (Mad Grinder), nesta nova canção do Hotnail ele assume todos os instrumentos e produção, deixando apenas a voz a cargo de Lorena Rocha (Black Witch), emprestando um charme a mais na audição. Com tudo gravado no Cosmos Studio (a meca dos roqueiros da desértica Mossoró), a composição se assemelha muito ao grupo anterior de Rafaum Costa, o Distro, e isto não é demérito. Com um riff ensolarado à la Hoodoo Gurus e soando mais pop do que de costume, o clima parece mais um daqueles sons para se escutar nas BRs da vida enquanto o sol se esconde desse mundo tão carregado ultimamente.

4. NEW FIGHT, “Você” (videoclipe)


Em nova investida visual agora sob clima de road movie, tudo gravado nos arredores de Santa Cruz, o clima lento da canção – um blues arrastado, distorcido e contemporâneo misturado com grunge rock –, o enfezado trio manda ver na produção (instrumentos muito bem gravados e mixados) e nos riffs, além do belo solo de guitarra. Só deixam um pouco a dever na letra em língua pátria, soando repetitiva devido – em parte – aos vários versos terminando no infinitivo (uma mania das letras em português desde sempre). E aqui a independência pesa mais que tudo: canção gravada no estúdio da banda em Santa Cruz e vídeo dirigido pelo guitarrista/vocalista Paulo Medeiros. Faça você mesmo e pare de reclamar, e esteja sempre pronto para novos embates.

5. JEAN LONE, “Northerman” (CD/EP, 05 faixas)

LINK: https://jeanlone.bandcamp.com/album/northerman
Lançado virtualmente em 2019 e agora vindo à luz na forma física do CD, o mossoroense (ex-Cemitério de Elefantes) lança seu primeiro trabalho solo, todo cantado em inglês. Em suas composições, o violão de linhagem é a base de tudo, criando um misto de música claramente acústica (“Rain”) ou com discreta percussão (“Feeling like home”). Acordes desérticos margeiam a bela instrumental “Duna”. No geral, faltou aquele slide guitar e bateria para preencher as canções, que acabam soando parecidas, embora o potencial do jovem esteja pronto para o formato de banda, incluindo os melódicos refrões, como em “Looking back” e “See the sun”, esta contando com um solo blueseiro esperto. Mãos à obra, homem do oeste.