Ponte de Igapó faz parte da paisagem do Potengi há quase 100 anos. Foto: TN

Reportagens

Manoel de Negreiros lança "A História da Ponte de Igapó" e joga luz sobre futuro da obra centenária

Livro do engenheiro, pesquisador e escritor Manoel Negreiros será lançado dia 14 de julho, no Iate Clube de Natal

20 de junho de 2022

Cinthia Lopes

A Ponte de Igapó sempre foi motivo de fascínio e curiosidade por ser uma das grandes construções da virada do século XX na capital do RN. Erguida graças ao sonho de um brasileiro, à tecnologia e engenheiros ingleses da Cleveland Bridge & Engineering Company, a ponte de ferro começou a ser construída em 1912 e foi inaugurada em 1916, com modelo e bases rigorosas para manter-se durável até hoje. Entretanto, por um erro de avaliação acabou sendo desativada e vendida como ferro-velho no início da década de 70, tirando do cenário e do cotidiano natalense uma das mais bonitas e resistentes vias a interligar a zona Norte ao Centro. Toda essa saga, da construção à tentativa de vendê-la como ferro-velho, pode ser fielmente conhecida nesta biografia definitiva “A História da Ponte de Igapó” (Editora Appris) do engenheiro, pesquisador e professor do IFRN, Manoel Fernandes de Negreiros Neto. O livro será lançado no dia 14 de julho, das 17h às 22h, no Iate Clube de Natal. 

É um livro para quem gosta de História e mistérios”, adianta o autor, que foi a fundo em muitas questões elucidando alguns equívocos já divulgados por aí.

 

“A História da Ponte de Igapó” é resultado de uma investigação tão minuciosa que é considerada pelo autor como “quase arqueológica”. A obra reúne 25 anos de pesquisa do autor, que fez uma busca de livros e documentos no exterior e até ida à sede da empresa construtora, uma das mais renomadas do mundo em construção de pontes e engenharia estrutural com sede em Darlington. 

São 500 páginas recheadas de detalhes técnicos de engenharia civil centenária, fotos, plantas, cálculos, mapas, datas, fatos e episódios. Há lindos projetos originais e várias fotografias antigas, a maioria inéditas. A publicação foi organizada pelo autor em capítulos, alguns mais técnicos voltados para engenheiros, porém a maior parte é dedicada aos leitores em geral, que amam a História. “É um livro para quem gosta de História e mistérios”, adianta o autor, que foi a fundo em muitas questões elucidando alguns equívocos já divulgados por aí.

A estrutura metálica levou dois anos para cruzar o Potengi. A imagem aérea é capa do livro "A História da Ponte de Igapó"

Tudo começa em 1912, quando homens, máquinas e dinheiro da Primeira República brasileira, o projeto de um francês e a tecnologia inglesa, iniciaram a construção da primeira ponte sobre o rio Potengi em Natal, capital do Rio Grande do Norte. A Potengi Bridge, ou como conhecemos popularmente a velha ponte de Igapó, foi erguida numa velocidade de fazer inveja a muitas obras arquitetônicas atuais. Bastaram dois anos para a imponente estrutura metálica de grandes treliças transpor o Potengi para se tornar um marco da engenharia até então. 

A ponte foi uma empreitada do engenheiro brasileiro João Júlio Proença, que subcontratou a Cleveland Bridge. O projeto é do engenheiro Georges Imbault. Ou seja, um visionário chegou por aqui vindo de Minas Gerais para investir na região, elaborou um projeto detalhado, foi buscar dinheiro no governo e tecnologia lá fora. 

Se hoje a ponte de ferro é sucata na paisagem, ela foi no passado fundamental para o desenvolvimento da cidade e um modelo da pré-engenharia brasileira que começava a engatinhar. De passagem ferroviária passou a rodoferroviária até ser desmantelada na década de 70, quando então construíram a outra, de concreto.

LANÇAR LUZ

O objetivo do livro é contar de forma mais fiel a história desse monumento tombado pelo setor de patrimônio do Estado do Rio Grande do Norte. Assim como provocar um debate na busca de soluções para o futuro do monumento, que está ameaçado de cair. E, segundo o autor, contribuir com uma futura implantação da disciplina de História da Engenharia no currículo universitário. “Os arquitetos estão bem mais avançados pois existe uma cadeira de História no curso de Arquitetura. Já os engenheiros não têm esse privilégio. Costumo dizer que se existisse uma formação nessa área, os engenheiros do DNIT, na década de 70, não teriam tentado vender a ponte como ferro-velho”, disse o autor. 


NARRATIVA

Além da história em si, o autor traz várias curiosidades. ele conta que na inauguração, em 1916, “o maquinista Manoel Carnaúba perde a coragem de atravessar a ponte com os vagões carregados. Então, um amigo o afaga com uma boa dose de aguardente e logo ele se sente encorajado.Pronto! Deu tudo certo! Ponte inaugurada em 1916. Muita festa! Com a presença de Luís da Câmara Cascudo ainda adolescente, que dali vai se transformar no maior folclorista brasileiro.”  Na parte da engenharia, o que ficou de mais enigmático foram as fundações profundas em tubulões executados a ar comprimido. “Uma técnica desenvolvida em 1910 pela cleveland bridge engineering company. Como um concreto submerso em águas salgadas do potengi resistiu de 1912 até hoje?” O autor pesquisou e encontrou a causa.       

MINIATURAS

Para contribuir com o autor na edição da obra, feita com recursos próprios, Manoel Negreiros preparou kits com miniaturas da ponte e de equipamentos que ele conhece muito bem, como a betoneira. Negreiros é especialista em concreto, vale lembrar. Os kits, assim como o livro, estão em pré-venda e quem quiser adquirir deve entrar em contato com o autor, pelo site www.manoelnegreiros.com ou pelo whatsapp. 

O primeiro kit é a treliça Pratt para montar, em escala 1/87 compatível com trens escala HO. Ponte em MDF, com 61 cm representando um vão de 50 metros. Já o segundo kit é uma Betoneira a vapor de 1912 e uma barrica de cimento. Essa betoneira movida a vapor foi utilizada para confeccionar o concreto utilizado nas fundações.

SOBRE O AUTOR

Manoel Fernandes de Negreiros Neto é engenheiro civil, mestre em estruturas e construção civil pela UFRN. Tem especialização em gestão de negócios pela UFRN e avaliações e perícias de engenharias pela FAL. Professor do IFRN - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. Escritor.