Autora está imersa na preparação de um romance, após uma trajetória de prêmios em contos
Reportagens
Residente em Portugal, autora trabalha temas ligados à raça, migração, à ascensão de extrema direita, escrevendo para veículos como Carta Maior
16 de junho de 2024
Por Cefas Carvalho
Escritora professora, pesquisadora, feminista ativista antifascista e de direitos humanos, Marcela Magalhães de Paula mora em Portugal e trabalha com temas ligados à raça, migração, à ascensão de extrema direita, escrevendo para veículos como Carta Maior, Jacobin Brasil, BlackPost Italia e Agencia de Noticias das Favelas - ANF. Nascida em Rio Claro, interior de São Paulo, em 1984, com apenas três anos, após o brutal assassinato de seu pai na porta de casa, se mudou com a mãe para o interior do Ceará, para uma pequena cidade chamada Amontada.
"Sou filha do sertão, cresci com os pés descalços no chão quente, subindo em árvores e telhados, buscando água no rio e dormindo em rede até me mudar para outra Caucaia, vizinha a Fortaleza", relata.Depois da morte dos avós maternos, ingressou no Curso pré-vestibular Paulo Freire, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Em 2001, no Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará. Em 2006, com 23 anos de idade, começou a dar aulas como professora de literatura portuguesa, literatura brasileira, literatura infanto-juvenil e metodologia de pesquisa na graduação do curso de letras da universidade estadual do ceará, através do programa Fundo de combate à pobreza - Fecop.
Em 2006, ingressou no mestrado em Letras da Universidade Federal do Ceará, concentrando seus estudos na linha de pesquisa de afetos e psicanálise. Defende a dissertação com título “O Corpo e o Verbo, na obra Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar". Em 2008, começa o mestrado em Direitos Humanos e Gestão e Conflitos, em um dos mais conceituados institutos universitários italianos, Scuola Superiore Sant'Anna di Pisa. Foi estagiária no WHO Collaborating Centre in Human Factors and Communication for the Delivery of Safe and Quality care, em Florença, Toscana, parte de um programa sobre Direitos Humanos das Nações Unidas.
Em 2009, com 24 anos, entra no curso de doutorado em Estudos Ibéricos/ Literatura Comparada Pós-colonial da Universidade de Bolonha, sendo aluna de Umberto Eco e orientada pelo professor Roberto Vecchi, presidente da Associação Internacional de Lusitanistas, com tese sobre o Atlântico Sul e Literatura Africana. Em 2014, volta ao Brasil para estágio pós-doutoral para estudar comunidades quilombolas e ajudar a consolidar o primeiro curso de mestrado da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira, para atuar no Mestrado de Sustentabilidade Sócio-Ambiental - MASTS. Em 2017, inicia um novo curso de doutorado no Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, focando os seus estudos especialmente sobre neofascismo e nacionalismo. Sua trajetória acadêmica, tem foco em sociobiodiversidade e tecnologias sustentáveis, especialmente nas comunidades quilombolas. Publicou dois livros elogiados e mantém ativismo jornalístico nas redes sociais. Nesta entrevista ela falou sobre todos os assuntos. Confira:
Você lançou os livros "De cafres e de cafajestes: fluxos e refluxos de personagens no Atlântico Sul" (Premius, 2015) e "O Almanaque dos insetos" (Patuá, 2023), de contos. Como foi o processo de escrevê-los e de publicá-los?
A literatura tem sido minha eterna companheira desde a infância. A brutalidade da vida me marcou cedo: vi meu pai ser assassinado, um trauma que talvez tenha moldado minha introspecção, reclusão e timidez, me levando a buscar refúgio nos livros. Escrever sempre foi meu escape, minha forma de entender o mundo e a mim mesma. Comecei a escrever contos na adolescência e, aos dezesseis anos, arrisquei-me na construção de um romance que, ainda bem, não foi publicado. Por muito tempo, hesitei em lançar um livro só meu, pois sobrevivia com o modesto dinheiro de prêmios literários. "Sobreviver", entre aspas, porque a quantia era pequena, mas para alguém pobre como eu – com uma mãe sacoleira e feirante – era um alívio precioso.
Naquela época, a maioria dos prêmios literários exigia que os concorrentes não tivessem livros publicados. Assim, fui acumulando meus contos, um a um. "O Almanaque dos Insetos" (inicialmente intitulado "Heitor"), uma coletânea que reuniu esses contos ao longo dos anos, foi enviada a um concurso e se tornou finalista do Prêmio Jovem Escritor de Literatura do Instituto Pasteur, do governo francês. Não venci e isso me desanimou profundamente. Além de ter mergulhado num casamento de relacionamento abusivo por muitos anos, que me fazia sentir incapaz de escrever outra vez.
Mergulhei então nos estudos, dedicando-me ao mestrado e ao doutorado, com mais foco nos ensaios. Em 2014, minha tese foi agraciada com dois prêmios e uma parte dela foi publicada, graças ao financiamento do governo do Ceará, sob o título "De Cafres e de Cafajestes". Em 2020, enviei "O Almanaque dos Insetos" para a editora Patuá, mas sua publicação foi adiada pela pandemia, sendo lançada apenas mais tarde.
Agora, há alguns anos, estou imersa na escrita de um romance e já tenho outra ideia em gestação. Espero que o trabalho em que estou envolvida neste momento “veja a luz” ainda este ano. Que a palavra, essa velha amiga, continue a me guiar por caminhos insuspeitos, e que talvez meus escritos possam tocar alguns corações.
Você é considerada uma voz ativa na luta contra o fascismo crescente e foi co-fundadora do coletivo feminista CABE em Portugal em 2018. Como essa militância antifascismo e também feminista impactam sua vida, visão do mundo e consequentemente sua escrita?
Minha militância antifascista e feminista é uma força motriz que pulsa em cada linha que escrevo. Co-fundar o coletivo feminista CABE em Portugal em 2018 foi um ato de resistência e compromisso, um grito. O engajamento sempre moldou minha vida em todos os espaços em que estive, minha visão do mundo e, inevitavelmente, minha escrita.
A luta contra o fascismo crescente tem sido uma batalha constante contra a opressão e a desigualdade, porque chegou um momento em que não dava mais para virar a cara pro outro lado e fazer de conta que não via a extrema-direita crescer. A liberdade e a justiça são conquistas que demandam vigilância e ação contínua, o que muitas vezes é bem cansativo. Tenho usado minhas palavras com essa urgência inescapável, essa necessidade de denunciar as estruturas de poder que perpetuam a violência e a exclusão.
O feminismo, por sua vez, tem sido também a lente através da qual enxergo as múltiplas camadas de opressão que afetam as mulheres imigrantes e outros grupos marginalizados. É um chamado para reimaginar o mundo de uma forma mais justa. Através da CABE, sempre buscamos criar espaços de resistência, enfrentando o patriarcado e suas manifestações insidiosas. É um trabalho prático e incisivo, lidando com casos extremos de mulheres violentadas, sequestros de pessoas e violência doméstica, tudo isso num ambiente já opressor por si só como da imigração, onde estamos longe das redes de apoio familiares e onde a sensação de solidão e desamparo são enormes. Eu mesmo fui vítima de violência doméstica e sofri muito com a falta de uma rede de apoio, no exterior.
Minha visão do mundo é intrinsecamente ligada à luta por um futuro melhor onde a dignidade humana é central. A militância me ensinou que a escrita pode ser uma arma poderosa, capaz de inspirar mudanças e mobilizar consciências. Nos meus textos, busco capturar a essência disso.
Mas se a escrita é uma forma de resistência, também outras ações concretas são indispensáveis. As palavras inspiram, mas é nas ruas que devemos continuar a lutar diretamente contra as forças opressoras. A combinação da militância literária e da ação prática é fundamental para a construção de um mundo mais justo. Cada palavra escrita, cada manifestação, cada ato de solidariedade são tijolos na construção dessa nova sociedade que almejamos. Uma revolução se faz com ideias e com ações, com sonhos e com lutas.
Seus textos são publicados em veículos prestigiados e alternativos como o BlackPost e Agência de Notícias das Favelas, entre outros. Qual a importância deste tipo de mídia nos tempos atuais, qual a temática de seus textos e como espera que eles impactem quem lê?
Em tempos de crise e desinformação, a importância de mídias alternativas não pode ser subestimada. Ela dá voz aos silenciados, revela verdades ocultas pelas grandes corporações e constrói narrativas que contestam o mundo como está.
A temática dos meus textos varia, mas sempre gira em torno da denúncia das injustiças sociais, da opressão e da luta pela equidade. Abordo questões como imigração, o racismo, a violência de gênero, a desigualdade econômica e a exploração capitalista. Minha escrita é impregnada de uma paixão pela justiça, por um mundo onde todos possam viver com dignidade e verdadeira liberdade.
Acredito no poder transformador da escrita. Quando uma pessoa lê um texto que ressoa com suas próprias experiências de opressão ou que ilumina realidades até então desconhecidas, ela pode ser movida a tomar atitudes concretas. Que meus textos sirvam como sementes, inspirando de algum modo ações que tragam mudanças.
Sua trajetória acadêmica é bastante relevante e você concentra suas pesquisas em sociobiodiversidade e tecnologias sustentáveis, com um enfoque especial nas comunidades quilombolas. Como vê esses temas serem tratados pela mídia e mundo acadêmico atualmente e como observa a questão do racismo em tempos que a extrema-direita ganha espaços, tanto em Portugal como no Brasil?
Minha trajetória acadêmica, essa com foco em sociobiodiversidade e tecnologias sustentáveis, especialmente nas comunidades quilombolas, oferece uma perspectiva sobre a interseção entre justiça ambiental e social. No entanto, é evidente que esses temas não recebem a devida atenção e tratamento pela mídia convencional e, muitas vezes, são também marginalizados no mundo acadêmico.
A mídia tradicional tende a negligenciar as questões de sociobiodiversidade e sustentabilidade quando elas não estão alinhadas com os interesses econômicos dominantes. As comunidades quilombolas, que são guardiãs de vastos conhecimentos ecológicos e práticas sustentáveis, raramente têm suas vozes amplificadas ou suas contribuições reconhecidas. Quando mencionadas, frequentemente é de forma estereotipada ou superficial, sem um entendimento profundo de sua importância cultural e ecológica.
No mundo acadêmico, embora haja avanços, esse tipo de pesquisa ainda enfrenta muitos desafios, especialmente quando se trata de integrar o conhecimento tradicional com a ciência moderna. As vozes das comunidades quilombolas são silenciadas ou desvalorizadas, aprofundando uma visão eurocêntrica e colonialista do conhecimento.
A ascensão da extrema-direita tanto em Portugal quanto no Brasil exacerba essas questões. O racismo, que já é enraizado em nossas sociedades, ganha novas formas e se torna mais explícito e violento. Os discursos de ódio e as políticas excludentes promovidas por esses grupos ameaçam diretamente as populações marginalizadas. A extrema-direita promove uma visão de mundo que nega a diversidade e busca a homogeneização cultural e racial. Em tempos de polarização, é crucial que a mídia e a academia se posicionem firmemente contra essas ideologias, dando visibilidade e suporte às lutas das comunidades quilombolas e outras minorias.
No Brasil, a situação é particularmente grave, com o desmonte de políticas públicas que protegiam as comunidades quilombolas e o meio ambiente. A retórica anti-indígena e anti-negra do governo Bolsonaro agravou a vulnerabilidade dessas populações, incentivando invasões de terras e destruição ambiental. Em Portugal, embora a situação tenha suas particularidades, o racismo também é uma realidade que tem se intensificado muito com a influência de ideologias de extrema-direita, com cada vez mais agressões e assassinatos de pessoas racializadas.
Você contribuiu para a antologia "Lenin: The Heritage We (Don’t) Renounce" (Daraja Press and Kickass Books, 2024), ao lado de autores conhecidos como Slavoj Žižek, Antonio Badiou, Michel Lowy, entre outros. Como foi essa experiência e sobre o que tratou seu texto?
Contribuir para a antologia “Lenin: The Heritage We (Don’t) Renounce” foi uma experiência profundamente enriquecedora. Estar ao lado de autores renomados como Slavoj Žižek, Antonio Badiou, Jodi Dean e Michael Löwy foi uma honra imensa e uma oportunidade única de dialogar com pensadores de vanguarda sobre um tema de extrema relevância pro nosso tempo.
Meu texto abordou a importância de sonhar, inspirada por Lenin e suas reflexões no livro “Que Fazer?”. Ao contrário das caricaturas e estereótipos difundidos pela ideologia dominante, Lenin não era o defensor cego da violência indiscriminada ou do terrorismo para tomar o poder. Pelo contrário, ele compreendia a complexidade das lutas sociais e a necessidade de um sonho revolucionário, uma visão que pudesse inspirar e mobilizar as massas para a transformação radical da sociedade com ações práticas e estudos.
Infelizmente, muitos formam suas opiniões sobre Lenin baseados em estereótipos e falsidades propagadas tanto pela direita quanto por certos setores da esquerda. É comum ouvir que Lenin era antissemita, antirreligioso, contra as cotas ou que apoiava a violência sem discernimento. Tudo mentira. Essas são distorções grotescas que obscurecem a verdadeira essência de seu pensamento.
Lenin defendia um socialismo que não apenas transformasse as estruturas econômicas, mas também criasse novas relações humanas baseadas na solidariedade, na igualdade. Ele reconhecia a importância de sonhar com um mundo diferente, de imaginar possibilidades além do presente opressivo. Em “Que Fazer?”, Lenin enfatiza a necessidade de uma consciência revolucionária, capaz de inspirar ação e resistência contra a tirania do capitalismo. É crucial desmontar as mentiras que distorcem seu legado.
A experiência de contribuir para esta antologia reforçou em mim a importância de combater a desinformação e a manipulação ideológica. Ao revisitar Lenin, não apenas resgatamos um legado revolucionário, mas encontramos inspiração para sonhar e estratégias práticas pra lutar por um futuro melhor.
Você é ítalo-brasileira, nasceu em São Paulo, fez mestrado na Itália e mora há anos em Portugal. Como essas migrações e possíveis choques culturais afetam sua maneira de ver a vida, a literatura e sua escrita?
Minha trajetória de vida, marcada pelas migrações e os choques culturais, moldou profundamente minha maneira de ver e viver a vida. Nasci no interior de São Paulo, mas com apenas três anos, sai da “terra natal” após o brutal assassinato de meu pai na porta de casa. Minha mãe e eu nos mudamos pro interior do Ceará, pra uma pequena cidade chamada Amontada. Sou filha do sertão, cresci com os pés descalços no chão quente, subindo em árvores e telhados, buscando água no rio e dormindo em rede até me mudar pra outra cidade.
Essa infância foi marcada pela simplicidade e pela dureza do sertão. A falta de água encanada, a vida no meio da natureza e a necessidade de me adaptar às condições adversas ensinaram-me o valor da resistência e da esperança, mas também a não me conformar. Quando finalmente me mudei para Fortaleza para cursar a faculdade, fui viver em uma casa onde cuidava de dez cachorros, num conjunto habitacional chamado Cidade 2000. Essa experiência de cuidar dos cães em troca de moradia me ensinou muito sobre a capacidade de encontrar beleza nas situações mais inesperadas.
Guimarães Rosa disse que “o sertão é em todo lugar” e essa frase sempre ressoou profundamente em mim. A experiência de imigração, para Itália e Portugal, é uma continuação desse “estar no mundo” de maneira dura, mas também incrivelmente rica. Viver em diferentes países me permitiu ver panoramas maiores e entender o ser humano de uma forma mais universal. Cada cultura trouxe novas perspectivas, desafios e aprendizados que enriqueceram minha visão de mundo e minha escrita.
A Itália sempre me abriu mais portas do que Portugal, embora em Portugal esteja meu coração e meus amigos. Esta dualidade de experiências é um reflexo das complexidades da vida de um migrante, navegando entre acolhimentos diferentes em terras distintas, mas encontrando laços profundos e significativos em cada uma delas. Na Itália, encontrei oportunidades que expandiram meus horizontes acadêmicos e profissionais. As portas que se abriram na Itália proporcionaram-me um espaço para explorar e desenvolver minhas ideias, contribuindo significativamente para minha trajetória e meu trabalho. Por outro lado, Portugal, apesar das dificuldades, é onde meu coração encontra repouso e minha alma encontrou camaradas de luta. Aqui, construí amizades profundas e duradouras, forjei alianças e encontrei uma comunidade que compartilha de minha visão de mundo. Isso não é pouca coisa neste mundo confuso e individualista.
A imigração é sempre dolorosa, um processo de despedida e adaptação constante, mas ela também abre horizontes e fica mais fácil com amigos e camaradas. Permite-me ver o mundo de diferentes ângulos, entender as diversas facetas da humanidade e apreciar a beleza dos encontros. É essa visão que enriquece minha literatura e minha militância, alimentando uma escrita que tenta tocar corações e provocar mudanças.
Como avalia o papel das redes sociais atualmente tanto na divulgação da literatura e do conhecimento em geral como no combate ao fascismo e militância por pautas progressistas?
As redes sociais têm uma importância monumental em nosso tempo, tanto na divulgação da literatura e do conhecimento quanto na batalha contra o fascismo e na militância por pautas progressistas. Elas representam um campo de possibilidades e desafios, onde a informação e a desinformação se confrontam e que podem, sim, abrir um espaço pra “consciência" e mobilizar ações.
Na divulgação da literatura e do conhecimento, as redes sociais revolucionaram o acesso e a distribuição de ideias. Plataformas como Instagram, Twitter, Facebook e TikTok permitem que escritores, acadêmicos e ativistas compartilhem seus trabalhos diretamente com um público geral. A literatura, antes restrita a círculos fechados e editoras tradicionais, encontrou um espaço onde novas vozes emergiram. Livros, artigos e ensaios são discutidos e recomendados em tempo real, criando comunidades de leitores engajados que transcendem fronteiras geográficas. Por exemplo, o acesso à poesia foi democratizado e páginas de divulgação, em especial desse gênero, têm feito muito sucesso.
As redes sociais são também ferramentas poderosas na luta contra o fascismo, porque permitem a organização rápida e eficaz de protestos, campanhas de conscientização e movimentos sociais.Mas também o poder das redes sociais é uma faca de dois gumes. Elas também são utilizadas por forças reacionárias pra espalhar desinformação, incitar ódio e organizar ataques contra movimentos progressistas. A polarização é exacerbada, e a verdade muitas vezes se perde em um mar de fake news e manipulação ideológica. A mesma ferramenta que democratiza a informação é usada pra controlar narrativas e intensificar a opressão.
Como avalia o mercado editorial brasileiro e português em relação a mulheres que escrevem? Mulheres escritoras são publicadas na quantidade que produzem? E, para finalizar, percebe machismo no mundo literário?
Embora tenhamos avançado consideravelmente em termos de visibilidade e reconhecimento, ainda há uma disparidade evidente na quantidade de mulheres publicadas em relação à quantidade que produzem. A questão do machismo no mundo literário é uma realidade que persiste.
No Brasil, o mercado editorial é marcado por uma diversidade vibrante e rica, com uma longa tradição de grandes escritoras que contribuíram de forma significativa para a literatura nacional. Mas as escritoras ainda têm que lutar mais arduamente para serem reconhecidas e para terem suas obras publicadas e promovidas da mesma forma que seus colegas homens. Existem preconceitos implícitos que desvalorizam as experiências e perspectivas femininas, relegando-as a nichos específicos ou a temas considerados “menos universais”.
Em Portugal, a situação é semelhante. Apesar de uma crescente visibilidade de escritoras contemporâneas e de uma rica tradição literária feminina, as mulheres enfrentam desafios para romper o teto de vidro que ainda existe no mercado editorial, que carrega vestígios de um patriarcado que privilegia a voz masculina. Isso se manifesta na forma como as obras são avaliadas, promovidas e distribuídas.
O machismo no mundo literário é uma questão persistente e insidiosa, que se manifesta de várias maneiras, desde a sub-representação de mulheres em listas de prêmios literários e antologias até a forma como críticas literárias são escritas e recebidas. As escritoras muitas vezes são julgadas por padrões diferentes dos seus colegas homens e suas obras são frequentemente categorizadas de maneira a minimizar sua importância literária. Há uma tendência de associar a literatura escrita por mulheres a temas “domésticos” ou “pessoais”, enquanto a literatura escrita por homens é vista como tratando de questões “universais” ou “profundas”.
Também é importante reconhecer que há um movimento crescente para desafiar e mudar essa dinâmica. Coletivos de escritoras, editoras independentes e iniciativas feministas estão trabalhando arduamente para garantir que as vozes das mulheres sejam ouvidas e valorizadas. As redes sociais também desempenham um papel crucial, proporcionando às escritoras uma plataforma para se conectarem com leitores e promoverem suas obras de maneira mais direta e autônoma.
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