Marcelus Bob critica ausência de artistas de Mãe Luíza no mural da escadaria

O artista plástico Marcelus Bob, de 62 anos, chegou criança em Mãe Luíza quando o bairro ainda era chamado de morro. De sua casa ele avista a paisagem urbana e variada, que está sempre presente no registro dos seus pinceis. Outro morador da comunidade é o pintor e poeta Pedro Grilo, do alto dos seus mais de 80 anos, também é figura conhecida nas redondezas. Sua casa fica quase parede com a escadaria de Mãe Luíza.

Há uma semana a estrutura que dá acesso aos moradores à praia de Areia Preta vem recebendo intervenções artísticas do grafite, através do projeto de requalificação dos espaços, proposto pela prefeitura de Natal através da Funcarte/Secult.

Mas, segundo Marcelus Bob, nenhum dos artistas que integra a seleção é da comunidade. “Fiquei estupefato! moro em Mãe Luíza desde 1968 e minha arte está ligada ao bairro, também sou um pioneiro na arte do grafite em Natal. Sem falar que temos outros artistas vivendo aqui, o próprio Grilo que é vizinho da escadaria. Se tem um evento acontecendo em um lugar a primeira coisa a fazer é se articular com os artistas da comunidade.”, conentou.

Nesses tempos de pandemia ele está em casa e aproveita para pintar. Por isso ficou sabendo da chamada pública somente quando foi publicada a lista dos 34 artistas classificados. A seleção reúne nomes do segmento do grafite para intervenção nos muros laterais e cinco mosaicistas que farão a aplicação de mosaicos nas escadarias.  “Só fiquei sabendo do evento há poucos dias, depois de ter visto uma publicação onde era divulgado o nome de todos os selecionados.”

 Bob chegou a visitar a escadaria para acompanhar o trabalho e disse que não viu referências ao bairro. “O que estão pintando aqui, a linguagem visual não tem nada a ver com Mãe Luíza”.

O educador, grafiteiro e atual coordenador do projeto junto à Secult, Miguel Carcará, esclareceu que todos os artistas participantes são moradores da cidade e alguns inclusive moram ou já moraram em Mãe Luíza. “Mas todos vivem nessa circulação entre bairros”.  

Ele explicou que houve um período de inscrição de mais de um mês e foi divulgado no site da Funcarte. “Infelizmente Marcelus não se inscreveu. Mas o projeto não é feito para contemplar uma ou duas pessoas, ele é feito para a comunidade. Muitas pessoas visitam Mãe Luíza, eu mesmo tenho muitos amigos aqui”, disse o coordenador.

Marcelus Bob trabalha em uma série de encomendas. Foto: Lennon Lie

Marcelus Bob é um dos artistas mais relevantes da cidade e suas obras estão expostas nas principais galerias e coleções. Seus personagens, chamados de humanoides, já eram vistos nas paisagens de Natal desde os anos 1980. Hoje, o trabalho desenvolvido por Marcelus é nas telas. Nesse projeto de requalificação urbana, Marcelus Bob deixou sua marca na galeria do Beco da Lama e também no Espaço Ruy Pereira, as duas primeiras áreas a receber painéis de grafite.

Marcelus Bob está atravessando a quarentena trabalhando em casa, onde aproveita para produzir algumas telas. Entre encomendas e novos trabalhos, ele dá andamento a uma série chamada de “Repentistas”. “Estou terminando uma encomenda e pintando sem parar. Ficarão guardados para alguma hora poder mostrar”, comentou.

Grafites

A intervenção artística na escadaria de Mãe Luíza combina arte em mosaico e pinturas em grafites e é inspirada na Escadaria Selarón, dobairro de Santa Teresa-RJ. Dentre os artistas visuais classificados estão Ana Clara Miranda, Raniere Rodrigo, Fábio Vinícius Sales Mendonça, Hudson Davyd, Emanuel Áquila, James Williams Moreira de Mello, Gustavo Felinto Lima,  Kéfren de Lima, Hugo Marcelino, Guilherme Souza Sales, Diogo Borges, Fabio Vale de Freitas, Kalliton Felipe Moura, Rayane Pamella dos Santos Garcia, Jéssica Karyne, Natan Fernandes, Darlan Félix Silva de Freitas e outros. A lista completa está no blog da Funcarte.