Márcio Delgado conheceu pessoas que admirava durante a pandemia, através de lives e bate-papo
Reportagens
Jornalista radicado em Londres desde 2004 encontra potiguares e brasileiros para rememorar os dias de um ano atípico, que ainda não terminou
04 de dezembro de 2020
Cinthia Lopes
Quando não existiam as redes sociais e a Internet era um território ainda a ser explorado pelos veículos de comunicação, o jornalista natalense Márcio Rodrigo Delgado já estava navegando longe de casa. Em 2004 ele foi passar uma temporada na Inglaterra para aperfeiçoar seu inglês e acabou ficando. Trabalhou por quase três anos na editoria do BrazilianNews, a primeira publicação semanal em português do Reino Unido — quando nem existia mídias sociais. Márcio também tem passagens pela Rede Record Internacional e 70% das demandas eram em português. Com o tempo, passou a colaborar para veículos ingleses, revistas, jornais e sites.
Atualmente, o jornalista segue contando histórias em outros meios e formatos. Ele é coordenador de marketing de influência no Reino Unido. Agora na comunicação corporativa, trabalhando com criadores de conteúdo (influenciadores) e coordenando campanhas de marketing de influência para clientes como Vodafone, Western Union e Nivea.
Márcio Delgado é um antigo parceiro desta redatora em publicações independentes como a Revista GLAM ou nas coberturas especiais como colaborador do Viver na Tribuna do Norte, especialmente na cobertura do Festival de Cannes e semanas de moda lodrina. Agora nos reencontramos neste Típico Local, onde ele inicia nesta sexta-feira (4) a série “Diários de Lockdown”, em que reencontra potiguares e brasileiros e rememora as histórias da pandemia desde que ela começou pra valer, em março de 2020. No momento em que os ingleses se preparam para iniciar a fase de vacinação, Márcio costura histórias de um ano atípico e de grandes desafios. Um ano que não terminou...
O TL conversou com Márcio Delgado sobre sua trajetória longe de casa, pois sua história é tão inspiradora quanto aquelas que costuma contar. Para acompanhar o “Diários de Lockdown”, visite a aba colunas na capa do Típico local AQUI, Você também pode seguir o jornalista em suas redes sociais Instagram e Twitter: @marcio_delgado
Márcio, há quanto tempo morando em Londres e como virou um repórter longe de sua terra natal?
Após visitar Londres em 2002, retornei duas anos mais tarde, em 2004, para fazer um curso de inglês que deveria durar apenas seis meses. Mas durante a minha estadia inicial, comecei a colaborar com um jornal semanal em Londres, voltado para o público brasileiro e, poucos meses depois, quando a editora pediu afastamento para fazer um mestrado sanduíche na Alemanha, eu fui indicado para o posto por seis meses. Ao término do mestrado ela decidiu não mais retornar para Londres e se mudou com o namorado para os Estados Unidos. Tive que decidir as pressas o que fazer, se voltaria ou renovaria visto para continuar morando na Inglaterra. Como o jornal me ofereceu um contrato de dois anos, acabei ficando.
Qual o sentimento de estar na Inglaterra durante a pandemia?
Em mais de uma década morando na capital inglesa 2020 foi o ano que fiquei mais tempo sem sair do país. Um dos motivos pelos quais eu escolhi a Europa foi a facilidade de viajar por outros países próximos. Um voo de apenas 2h20min separa Londres e Lisboa. Para ir a Vienna, na Áustria, o trajeto leva ainda menos tempo: 1h55min. É possível ir para a França de carro ou trem, tudo é geograficamente perto e com boas opções de transporte. Mas este ano, com a pandemia, foi como morar em uma ilha no meio do nada. Durante meses tudo parou.
Falar de trajetória, vamos relembrar quando tudo começou e quais suas demandas profissionais atuais...
Após quase três anos na editoria do BrazilianNews, a primeira publicação semanal em Português do Reino Unido quando nem existia mídias sociais, e mais três anos de Rede Record Internacional, eu senti que estava morando fora do Brasil mas não havia realmente saído do país. 70% dos meus contatos em Londres ainda eram com brasileiros e com a embaixada brasileira, apurando matérias, entrevistando e até cobrindo visitas oficiais como a dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Então resolvi arriscar e sair da zona de conforto.
Comecei fazendo matérias para jornais locais, em inglês, e reportagens especiais para veículos mais tradicionais como o jornal britânico The Independent. Também fazia alguns trabalhos como freelancer para agências de comunicação e marketing inglesas, criando estratégias e conteúdo, e decidi que já estava mais do que na hora de fazer disso algo em tempo integral, mesmo que fosse uma mudança do jornalismo cotidiano para comunicação corporativa.
O que muda nessa mudança do jornalismo para a comunicação e o marketing de redes?
A lógica é a mesma: como jornalista eu ainda conto histórias para vender um produto ou serviço e as minhas responsabilidades agora incluem trabalhar com criadores de conteúdo (influenciadores) coordenando campanhas de marketing de influência para clientes como Vodafone, Western Union e Nivea. Porém é algo muito mais planejado e, diferentemente de notícias do dia-a-dia, que são descartáveis de um dia para o outro, conteúdo corporativo tem uma vida útil infinitamente maior e tudo que é produzido, seja uma entrevista com um cliente ou CEO, ou uma revista empresarial, por exemplo, tudo é pensando 360°, incluindo mídia online e fora da internet – e em todos os formatos possíveis e imagináveis.
Costumo dizer que a forma de fazer propaganda mudou muito e está cada vez mais parecida com jornalismo. Uso muito do meu conhecimento em comunicação social quando estou trabalhando em uma campanha, seja coordenando ou criando conteúdo, porque o público não tolera mais a publicidade convencional no mundo atual.
Da série de crônicas para o Típico Local, “Diários de Lockdown”, o que podemos esperar?
Vai ser uma série leve, para recapitular o primeiro e segundo lockdowns de brasileiros na Europa e como todos nós, apesar da mesma origem, reagimos de forma diferente. Conversei com potiguares morando na Inglaterra, França e Bélgica. Foi uma experiência ótima descobrir detalhes de como cada um driblou a pandemia nos últimos 10 meses e como a cena cultural no velho continente teve que se reinventar em um ano tão atípico. Não é uma narrativa negativa. É um apanhado de otimismo e esperança de que há luz no fim do túnel, mesmo para aqueles que tiveram que se isolar socialmente na parte mais escura do túnel.
Você participou de algumas lives no Instagram. Como foi a experiência e quais assuntos tiveram mais impacto?
Quando os meus eventos e viagens foram cancelados, incluindo as de trabalho, eu passei a trabalhar apenas de casa e sobrou muito tempo porque, em um dia normal, eu levaria 1h20 para chegar ao escritório e mais 1h20 para retornar. Além de participar das lives dos outros, comecei a fazer algumas com os amigos aqui da Europa. Depois fui abrindo para brasileiros ao redor do mundo e, claro, Natal, onde tenho muitas pessoas queridas.
E finalmente tomei coragem e comecei a convidar pessoas que eu seguia no Instagram e gosto muito do trabalho, mas que nunca havia encontrado pessoalmente, como a pintora brasileira Milena Saraiva e o empresário Octávio Pontedura, criador do @refugios_urbanos, entre outras pessoas incríveis que só conheci este ano por causa da pandemia.
Desafios de interagir com o mundo e as pessoas à distância...
Durante os meses de abril e maio, quando a pandemia estava no seu auge no Reino Unido e o número de óbitos diários ultrapassava 800, eu estava diariamente no Instagram com um quadro chamado #PapoSolto, sempre as 16h (horário de Londres) para coincidir com a hora de almoço no Brasil. Os tópicos sempre foram empreendedorismo, cultura e o desafio de morar fora.
Quando passei de 50 lives eu dei uma parada. A esta altura, todo mundo já estava fazendo a mesma coisa e eu já havia abordado todos os assuntos que eu queria. Foi uma mistura de apatia com esgotamento. Então fui recarregar as baterias escrevendo, caminhando e assistindo Netflix, diariamente, e exatamente nesta ordem.
E a nova onda da pandemia?
Em julho saímos do primeiro lockdown. Era para ter durado algumas semanas e acabou se estendendo por quase quatro meses. Mas nem bem nos acostumamos com a liberdade condicional que nos foi dada, em outubro foi anunciado que em breve teríamos que ficar todos em casa de molho novamente porque o número de casos do Coronavírus, até então sob controle durante o verão inglês, voltou a subir assim que o tempo esfriou um pouquinho no outono. O segundo lockdown terminou no dia 2 de Dezembro, mas apenas no papel. Na prática, o novo sistema de faixas de restrições da Grã-Bretanha é uma quarentena com nome novo: em algumas áreas, restaurantes não irão abrir. Em outras, só vai poder tomar bebida em um bar se o local também servir refeições e você estiver comendo. Em todo o país, usar o transporte público ou aeroportos só de máscara. E pessoas morando em casas separadas não podem se encontrar em locais fechados, ou seja, visitas nem pensar.
Estas novas regras estão previstas para durar no mínimo até fevereiro, com a única exceção sendo a semana do Natal onde, durante alguns dias, o governo irá permitir que pessoas que não moram no mesmo endereço possam se encontrar para celebrar o período festivo.
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