Mariana Basílio traz referências de Hilda Hilst e Ernest Becker Foto: Fabricio Ferreira

Reportagens

Mariana Basílio: “Não há nada melhor do que o livro ser impresso; É organismo vivo"

Além de poeta, Mariana é tradutora de diferentes poeta e autora dos premiados Nepente, Sombras & Luzes e Tríptico Vital

12 de novembro de 2022

Cefas Carvalho

Nascida em 1989, em Bauru, interior de São Paulo, Mariana Basílio é mestra em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp),prosadora, poeta, ensaísta e traduz diferentes poetas, principalmente mulheres. É autora dos livros de poesia Nepente (2015), Sombras & Luzes (2016), Tríptico Vital (2018, premiado com o Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo – ProAC 2017; finalista da Residência Literária Sesc 2018), Mácula (2020, Prêmio ProAC 2019, Programa Minha Biblioteca 2021) e Pangeia: A Etimologia do Ser (2020, Prêmio Biblioteca Digital - Biblioteca Pública do Paraná 2020). Na prosa participa com um conto da antologia Geração 2010: O Sertão é o Mundo (2021, Org. Fred Di Giacomo, Editora Reformatório).

No final do segundo semestre de 2020 recebeu da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo o “Prêmio Por Histórico de Realização Em Literatura”, pela publicação do seu primeiro romance, A Revolução das Rosas (prelo, 2023). Mariana mantém o site: https://www.marianabasilio.com.br. e vem se destacando pela produção literária sólida e pela atuação cultural nas redes sociais. Nesta entrevista, falou sobre suas obras, mercado editorial, papel da mulher escritora em uma sociedade estruturalmente patriarcal e muito mais. Confira:

Sua estreia literária foi com o livro de poemas "Nepente", em 2015 (Giostri) e o segundo lançado logo no ano seguinte, "Sombras & Luzes", dedicado ao poeta português Herberto Helder. Como foram os processos desses livros e qual a avaliação de hoje, em 2022, faz deles?

Quando publiquei o primeiro livro, Nepente, não fazia ideia de que seguiria trabalhando em outros livros. Para o russo Joseph Brodsky, há crimes piores do que queimar livros, um deles é não os ler. Adiciono ao comentário auspicioso do russo, de que outro tipo de crime é ter certa potência de escrita e quase se negar a enxergar o que se é. O que tento dizer é que por outras funções e condições sociais eu levei mais tempo para poder-ser na escrita, ou enxergar a minha própria voz.  Só que uma década depois dos primeiros escritos, de repente, decidi de súbito que eu me publicaria. E tinha uma dificuldade enorme em me rotular: “sou poeta”, “sou escritora”.  Essencialmente, acredito que sou é somente uma criminosa. Risos. Mordiscar e falar da linguagem do tempo e da poesia é o que me move diariamente – e da nossa insignificância abundante também... Ainda mais em dizer qualquer outro respiro, um arranhão, e assim desdizer do tempo mais um pouco, lendo e escrevendo como um epicentro existencial. Atualmente, analiso que o Nepente foi a minha tentativa de comunicação além-mundo capitalista, feito uma névoa sobre certos conceitos como natureza, religião, afetos; pero é um livro ruim, tá? Amadorzinho, não editaria novamente não. Mas sempre será o mais importante da minha jornada, pois foi o que me fez continuar roubando as palavras dos ares, apunhalando avencas, perceber que eu era alguém disposta a atirar! Boom. Finalizei o livro na Casa do Sol, da Hilda Hilst, há quase dez anos (2014), e aliás eu fiz um pedido na famosa figueira: acho que se realizou...

Com a publicação do meu segundo livro, Sombras & Luzes, um calhamacito de quase 300 páginas, me assumo uma criminosa de carteirinha (mais risos), e falo da minha paixão pelo desenvolvimento humano, pelos escombros. Por aqui eu já estou roubando com mais técnica, digamos, e abro a fechadura com uma presilha rodante, tento bisbilhotar silenciosa o tempo pelas frestas das próprias mãos: “Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol.” É verso do Herberto Helder e é sobre ele o livro! Sinto que escrever e ler literatura é de dentro, e é o corpo em protuberância alquímica, mas de outras vozes conjuntas em roda, evocando da humanidade, e sinto que nos movemos pela realidade na tentativa dessa análise entre o que os olhos são, e o que acontece de fato por eles.  Dedico o livro pro Herberto porque, aliás, ele foi uma tórrida paixão literária, fico vermelha, e hoje uma boa lembrança sobre o jogar-se no jogo das vozes e dos versos. Acreditar no escuro, confiar no absurdo. Ver! O livro se concentra em se deixar fluir, mas ainda caminho influenciadíssima, com as mãos unidas a uns outros movimentos precursores, principalmente com o surrealismo. E dou cinco pontos de dez ao projeto, gargalhante por ser e estar na média. Vamos lá: andiamo! De todo jeito, é como diz a Wisława Szymborska: “Eles esquecem que aqui não há vida de verdade. / No preto-e-branco vigem outras leis”.

Seu terceiro livro publicado, o elogiado "Tríptico Vital" (Patuá, 2018), foi dedicado a Hilda Hilst e foi vencedor do prêmio ProAC 32/2017 do Governo de São Paulo. Considera esse livro um divisor de águas? O que o diferencia de seus outros livros?

A primeira diferença está no formato, é um único poema, de 164 páginas. Um poema longo sobre a finitude do ser humano, inspirado na leitura de A Negação da Morte, do Ernest Becker – que descobri em residência artística na Casa do Sol, atual Instituto Hilda Hilst, em outubro de 2014. Hilda era uma grande entusiasta da obra do Becker, e a ele dedicou diferentes livros também. Por causa dela, descobri esse precioso livro vencedor de um Prêmio Pulitzer em 1974. E que perpassa o assombramento da morte e também nos convida a celebrar o que é a vivência humana. Inicialmente, por ser um projeto grandinho, imaginei que poderia encontrar maiores dificuldades com os leitores e as leitoras, mas o efeito foi contrário, cataploft: é até o momento o livro que mais recebo críticas e feedbacks, quase cinco anos depois! Após Tríptico Vital, lancei durante a pandemia outro livro premiado pelo ProAC, Mácula, além de no mesmo mês ter sido premiada pela Biblioteca Pública do Paraná com o quinto e mais recente livro de poesia, Pangeia: A Etimologia do Ser.

Tríptico Vital é o livro em que eu saio das vozes de influências, e de aceitação de quem eu era, para amadurecer a própria liberdade e técnica mais personal de uma criminosa assaltando com artilharia e melismas, eu procuro propositadamente esquecer quem me influencia e somente me conectar as cenas criminais, pronta a desenvolver o que eu preciso dizer, pegar, buscar, surrupiar... perpassa o assombramento que todos temos da morte e também nos convida a celebrar o que é a vivência humana, flui de maneira engraçada, é dual, dependendo da página vem um oops!

Seu livro "Mácula", foi premiado no Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo (ProAC 23/2019), e trata-se de uma coletânea de poemas sobre a sociedade brasileira, em interlocução crítica com a Semana de Arte Moderna de 1922. Como foi o processo desse livro?

Mácula recebeu o ProAC 23/2019, mas em 2021 também foi selecionado por uma comissão julgadora para compor o Programa Minha Biblioteca, da Secretaria de Educação de São Paulo, sendo o meu primeiro livro a circular para alunos e alunas da rede municipal de ensino da maior cidade do país, o que me deixou comovida, penso que nada deve ser maior ou mais importante do que as crianças e os jovens de um país. Sobre o conteúdo, comecei com a ideia de realizar um projeto de livro que se pautasse na escrita da origem da comunicação e o desenvolvimento da língua portuguesa brasileira, pensando em “o verbo tem que tingir o delírio’’.

Também versa com uma discussão da língua enquanto trata dos precursores do modernismo na literatura brasileira, na Semana de Arte Moderna de 1922, de uma maneira mais crítica, com um ensaio poético brevíssimo, logo no início do livro. Bem, mas posteriormente, quando o livro recebeu o ProAC, aconteceu o cenário devastador de uma pandemia mundial, e com isso, a seção As Confissões Negativas foi criada pensando em trabalhar linguagem e sociedade, a partir das notícias e dos desastres das últimas décadas no Brasil e da pandemia, e como digo por lá “me buscaram, mas não vão me pegar”. Tive a ideia de realizar uma pesquisa nas redes sociais perguntando qual era a grande palavra da vida das pessoas em determinado dia da primeira grande onda de isolamento pandêmico, o resultado: recebi mais de 300 palavras de pessoas distintas, pelas quais escolhi 50 para formar As Confissões Negativas. As palavras se tornaram títulos, que se tornaram poemas prosaicos, mais cinematográficos e robustos, e tomou pra si um projeto inteiro de livro, ou seja, tudo que versei antes, nas seções nomeadas Origens e Nascentes, foi descartado e engavetado: Mácula se tornaria então a seção principal As Confissões Negativas, “e ainda desejo que me esperem”.

Já seu livro "Pangeia: a etimologia do ser", venceu o Prêmio Biblioteca Digital 2020, do Governo do Estado do Paraná, tendo sido publicado virtualmente. Do que se trata esse livro e qual a importância desse reconhecimento em uma premiação nacional?

Pangeia: A Etimologia do Ser aconteceu exatamente a partir das seções Origens e Nascentes, que eram as primeiras partes que foram apartadas do livro Mácula. Ou seja, pela primeira vez eu criei dois projetos distintos a partir de um só livro embrionário, sem querer. Quando notei isso, e recebi a notícia da abertura da premiação do Paraná, resolvi unir essas seções “órfãs” e criar uma breve apresentação, enviando o novo projeto de livro com o nome de Pangeia: A Etimologia do Ser, que foi inspirado em uma canção belíssima de Ava Rocha, “Caveira, dourada, na areia / Cabeça jogada no mar / Terreiro, guerreiro de bronze / Me cobre de ouro e de prata”.

Em Pangeia sigo com uma tentativa de vibração dos sentidos precípuos da origem da fala, da palavra, da leitura e da escrita dos signos com a seção inicial, Origens, que desemboca rapidamente em Nascentes, algo pensado sobre a língua portuguesa brasileira com a problematização social do nosso idioma – sobre a pobreza da população em contraponto com a comunicação e cultura de outros povos originários e milenares... São poemas geralmente  escritos em pelo menos três partes, outros locais e épocas do mundo versus Brasil contemporâneo: feito das nacionais idiossincrasias, mas com a emancipação desses nossos corpos presentes.

O livro ganhou em primeiro lugar e concorreu com cerca de 600 obras, selecionado por uma dupla de jurados reconhecidos no meio literário. Venci com um pseudônimo, livro pelo livro. E ainda pretendo edita-lo em versão impressa, no primeiro semestre de 2023, após esse longuíssimo final do período pandêmico, para que o projeto alcance mais pessoas e frentes. Acredito que não há nada melhor do que o livro ser impresso: livro é corpo físico, organismo vivo, acima de qualquer coisa!

Você também é tradutora, já tendo vertido para o português obras de Alejandra Pizarnik, Denise Levertov, Emily Dickinson, May Swenson, Silvina Ocampo e Williams Carlos Williams, entre outros e outras. Quais os desafios e segredos de traduzir poesia?

Comecei a traduzir após ler o livro “ABC da Literatura”, do Ezra Pound. Para o referido autor, Literatura é linguagem carregada de significado, em que uma considerada e qualificada literatura é feita de uma linguagem carregada de significado até o máximo grau possível.  A literatura é, segundo o mesmo, uma novidade que permanece novidade. Para tanto, no mesmo livro ele projeta a importância de se conectar e traduzir outras linguagens enquanto como poetas pretendemos ampliar o significado e o significante, perpassando os ritmos, os sons, as técnicas, com os traquejos de diferentes épocas e países: traduzir é a práxis metafísica que te propulsiona e te ensina a ser uma melhor leitora e uma melhor autora. Portanto, comecei a traduzir para também me impulsionar enquanto autora curiosa, mas posteriormente, continuei como uma pessoa engajada pela coletividade: passei a traduzir para colaborar, principalmente, com as autoras mulheres quase ou nada reconhecidas no Brasil, publicando principalmente em revistas literárias. Como projetos de médio prazo, há vários livros na área de tradução que preparo para saírem impressos. É um dos meus bons objetivos: continuar escrevendo a quatro mãos também.

A pergunta é clichê, mas ainda necessária: existe uma "poesia feminina", especificamente produzida por mulheres? Em tempo: Homens leem como devem o que mulheres poetas escrevem e publicam?

Não existe uma poesia feminina, existe a poesia. Assim como existe a sociedade, e na sociedade a sociedade patriarcal, estruturada por um sistema excludente sobre o corpus mulher. O movimento feminista veio parar nesse campo específico para nos demonstrar que exatamente o local da escrita da mulher é possibilitada, cada vez mais, quando a mulher tem acesso aos meios educacionais e meios culturais do emparelhamento emancipatório humano, isto é, enquanto criança e jovem em ato formativo, com os mesmos direitos e deveres dos homens. Logo, escrevemos, pensamos, lutamos e aparecemos a partir de uma sociedade que nos acolha. Quanto mais direitos aconteçam, mais lutaremos para que outros também se desenvolvam. Por exemplo, na premiação que venci na Biblioteca Pública do Paraná, em dezembro de 2020, mais de 65% dos inscritos eram homens, e eu mesma, por conhecer meandros do sistema patriarcal, tentei um bueno truque feminista: o de me inscrever com pseudônimo masculino, para que o livro fosse tratado enquanto objeto livro-dominante. Quando venci a premiação estava na minoria dos inscritos, logo, mesmo em pleno século XXI (e mesmo com as mulheres dominando parte da cena da literatura contemporânea), somos a minoria publicando no mercado editorial brasileiro. É preciso que cada vez mais, na formação escolar e acadêmica, que os livros escritos por mulheres sejam reverenciados tanto quando são os escritos do cânone masculino.

Ainda sobre mulheres escritoras, como vê o mercado editorial brasileiro no tratamento delas? Recebem o mesmo tratamento dado a homens escritores? Existe uma equidade?

Não existe ainda uma certeira equidade, mas existe sim uma crescente de direitos, uma luta diária e árdua das mulheres do meio literário. Estamos atualmente caminhando e apontando divergências, lutando por direitos e espaços, convocando outras mulheres para o centro do destaque no papel de escritoras. Desde o início do século XXI, adicionado ao rompante das marés das redes sociais, o movimento social geral se tornou propício a causa, mas ainda estamos longe de afirmar que recebemos equidade, somente notamos o mínimo do que nos seja devido. Só que esse mínimo, para quem quase não participava ativamente do meio literário brasileiro por alguns séculos (risos amarelos), é precioso e preciso! Vivemos em uma época de enfrentamento e de alegrias feministas. Trago logo abaixo um trecho bacana de recordar. Falo de minha participação em uma live, no ano passado, mesa de debate da Biblioteca Pública do Paraná, ao lado da escritora Giovana Madalosso. Conversamos sobre a presença da mulher no campo da literatura, e aqui logo depois foi transcrita e publicada pelo Jornal Cândido:

“Acho que a discussão sobre esse tema é essencial sempre. A partir do momento em que nós nos tornamos mulheres, como diz Simone de Beauvoir, a todo momento a gente sente essa opressão. Quando a gente vai para uma área das artes, a gente começa a compreender esses intermeios entre o que somos na diferenciação de gênero. Nisso a gente acaba se envolvendo nas temáticas dos nossos trabalhos, sejam em prosa ou em poesia, para que então nos reencontremos e mudemos nossas interpretações. Acredito que o nosso trabalho, a partir de cada obra publicada, vem cada vez mais aprofundando esse intermeio. Quando a gente também discute a questão da premiação que eu tive no ano passado — o antigo Prêmio Paraná que agora se tornou o Prêmio Biblioteca Digital —, acaba refletindo bastante sobre essa questão. Seja pela historicidade da temática que está envolvida em cada livro, seja pelas autoras que estão envolvidas ali e também pelos dados que são discutidos na academia. Na Universidade de Brasília, por exemplo, um dado é claro: desde a década de 1970 até o início dos anos 2000, a proporcionalidade das autoras publicadas aumentou. Eram cerca de 17% no país e hoje em dia são 27%, quase 28% (...).

Coincidentemente, uma semana após receber o Prêmio Paraná, também recebi uma outra premiação, por histórico de realização da literatura, do Governo de São Paulo. Eram 30 bolsas para serem contempladas. Eu e a Micheliny Verunschk fomos as únicas autoras entre os 30. Tanto ela quanto eu pontuamos essa dificuldade de falar mais. Como isso vem acontecendo se tantas mulheres se inscreveram? Isso me marcou muito porque em um espaço pequeno de tempo, em dezembro, me vi com essas duas premiações paralelas e pensando muito nisso. É o que a Micheliny falou: vamos convidar as mulheres cada vez mais, não devemos ter esse receio. Vamos participar cada vez mais desses prêmios e dessas iniciativas, para que a gente consiga reverter parte disso. É também um processo psicológico, emocional. É conseguir dizer: “O que eu tenho aqui é bom, vai ganhar. Vou enviar porque perpassa esse empoderamento também”. É toda uma imagética do que nós vivemos, enquanto mulheres, e que deve estar cada vez mais inserido nesse nosso cotidiano enquanto autoras”.

Como está observando no chamado pós-pandemia o retorno de ações culturais presenciais, feiras, eventos? E ainda: como a pandemia impactou seu fazer literário?

Meu último livro impresso, Mácula, teve que ser impresso na pandemia por causa do prazo de execução da bolsa de criação literária que recebi. Então a obra teve lançamentos apenas em lives: com a Editora Patuá, ao lado do editor, Eduardo Lacerda, e também em uma mesa oficial da tradicional Flipoços (Festival Literário Internacional de Poços de Caldas), mediada pela escritora Sílvia Schmidt. Foi uma percepção diferente de projeção, apesar de um bom público online em ambos os eventos, reconheço quase dois anos após, que o livro circulou muito menos do que o livro anterior, Tríptico Vital, que esteve comigo por diferentes estados, feiras, mesas, universidades, sempre presencialmente – e sim, acredito que esse fator amplia as possibilidades de que reconheçam melhor o seu trabalho. Posteriormente, participei de outros eventos online durante esses dois últimos anos, e há alguns meses voltei a participar em formato presencial de uma mesa de debate bem fortuita, ao lado da querida poeta Júlia de Carvalho Hansen, conversamos sobre os 120 anos da poeta Cecília Meireles, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.

Percebo que a pandemia me fez saltar escombros, orbitar mais dos detalhes, e sofri muito, escrevi bastante: no mesmo período terminei e editei dois livros de poesia, Mácula e Pangeia: A Etimologia do Ser, e tive o meu primeiro trabalho em prosa publicado, um conto na excelente antologia Geração 2010: O Sertão é o Mundo (Editora Reformatório, 2021). Também trabalhei na finalização do meu primeiro romance, A Revolução das Rosas.

Quais os seus próximos projetos literários? O que planeja para 2023?

Em 2023 lançarei o romance A Revolução das Rosas, projeto que comecei a desenvolver no ano de 2014. É um material bem denso, algo inspirado na história migratória do meu avô paterno e cearense, Pedro, e posteriormente, também foi desenvolvido sobre a história ainda pouco reconhecida nacionalmente (tombada como patrimônio histórico cearense recentemente) dos ditos campos de concentração do Estado do Ceará, nos anos 1930.  Algo medonho, absurdo e incontestável. É um romance com realismo, surrealismo, regionalismo, traz muito da minha primeira década de lida ou poiésis, que segundo Platão, é um processo para alcançar a imortalidade, e no meu caso, para trazer e denunciar quem é quem somos enquanto sociedade. Também tenho outros projetos acontecendo nas áreas de poesia, ensaio e tradução, mas que eu ainda não posso revelar: são tessituras trabalhadas com afinco e ternura.

Me despeço da entrevista pedindo para você, Cefas, e a todos que nos acompanham, para que estejamos mais levitantes em 2023, trabalhando por mais detalhes e gestos de afeto! Apesar dos pesares, é preciso estar atento(a) ao que seja uma singeleza, pois é exatamente como a Alejandra Pizarnik já nos disse, e que em Gal Costa, que hoje subitamente partiu (a quem dedico os versos seguintes), temos de saber escutar: “Rebentará a ilha da lembrança / A vida será um ato de candura”.

Voemos, gargalhantes!