Disponível na Netflix, O Barato de Lacanga registra o festival realizado durante 4 anos entre 75 e 8

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Melhores documentários da música brasileira

Obras percorrem eventos e movimentos que marcaram a música brasileira, com o Festival de Águas Claras, o movimento punk, o Manguebeat

11 de agosto de 2022

Costa Filho *

São diversos documentários que contam a história da música brasileira.  Bandas de rock que surgiram nos anos 80, festivais de MPB da década de 60 e histórias de cantores que se consagraram nas suas carreiras. Acenam ao público por ser produções fascinantes e que apresentam fatos incomuns evolvendo a indústria musical. Muitas dessas películas levaram anos para serem finalizadas, devido ao duro trabalho de pesquisa por parte dos documentaristas. Esse tempo é necessário às análises de entrevistas, dados biográficos averiguados e sua veracidade. De muitos realizados, eis aqui alguns que são considerados os melhores e devem ser assistidos por aqueles que apreciam a boa música brasileira.

O Barato de Iacanga - é um documentário que todo fã de MPB deveria assistir. Dirigido por Thiago Mattar,  conta história do Festival de Águas Claras, evento que teve quatro edições, em 1975, 1981, 1983 e 1984. Foram realizados na Fazenda Santa Virgínia, na cidade de Iacanga, interior de São Paulo e conhecido como "Woodstock brasileiro. Concretizado durante a ditadura militar, relembra a trajetória que tornou o festival um símbolo da contra cultura no país, considerado por muitos críticos como o melhor documentário de música brasileira. Demorou 10 anos para ficar pronto, devido as pesquisas de obter imagens, fotos e filmagens da época com as entrevistas dos participantes e de produtores.

Na primeira edição contou com bandas de rock nacional como “O Terço”, “O Som Nosso de Cada Dia”, e muitos artistas de MPB, como por exemplo, Walter Franco. Contabilizou um público estimado em 30 mil pessoas. A ditatura militar proibiu a sequência em 1977, e só veio acontecer o próximo em 1981,  com participações de   Luiz Gonzaga, Hermeto Paschoal,  Egberto Gismonti, Gilberto Gil e Alceu Valença. O terceiro sendo concretizado no ano de 1983, onde tem a melhor cena do filme. em que aparece João Gilberto subindo ao palco às seis horas da manhã com o sol nascendo. Antes dele já havia subido a arena, artistas como Raul Seixas, Erasmo Carlos, Jorge Mautner,   Fagner, Sivuca, Paulinho da Viola, Sá & Guarabyra.   O último foi realizado em 1984, sendo de menor público, principalmente porque aconteceu durante o período de carnaval.

O documentário  Wilson Simonal- Ninguém sabe o duro que dei, mostra várias imagens raras, como o dueto que ele fez no Brasil com a cantora Sarah Vaughan. Conta também de sua infância à ascensão do primeiro disco: Tem “Algo Mais”. A participação dele no movimento “A Pilantragem”, junto com Carlos Imperial ". O show no Maracanãzinho para cerca de 40 mil pessoas. Mostra também o outro lado da sua história, o sofrimento que teve com o racismo, pois ele era um negro que se tornou o grande sucesso dos anos 60, o que ocasionou inveja a muita gente. Esclarece também sobre a sua relação com a ditadura militar e o seu envolvimento no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Mostrando que não era o “dedo duro” como ficou por muito tempo marcado pela mídia e boa parte da classe artística. Por causas destes acontecimentos, ele ficou no ostracismo por mais de 20 anos. Se envolveu com problemas de alcoolismo, o que levou a uma cirrose hepática, que foi a causa da sua morte no dia 25 de junho de 2000.

Barão Vermelho: Por que a gente é assim - O filme da cineasta Mini Kerti conta a história da banda que foi de extrema importância para o rock nacional. Mostra fatos que até aquela ocasião eram desconhecidos pela maior parte do público.  Apresentação através de imagens de arquivo, depoimentos e entrevistas com todos os seus integrantes do grupo. Principais acontecimentos, os discos e shows em ordem cronológica. Conta toda a história da formação do grupo em 1981, pelo baterista  Guto Goffi  e o tecladista Maurício Barros. O filme retrata muito bem todas as polêmicas.do “Barão Vermelho”.  o uso de drogas e a saída de Cazuza em 1985. A ação de Frejat de assumir os vocais da banda. Com a saída de Cazuza, Guto Goff passou a atuar também como letrista e depois como produtor.
 
Chico Science- Um Caranguejo Elétrico. É um filme de 2016 dirigido por José Eduardo Miglioli Junior, que descreve toda história de Francisco de Assis França, mais conhecido como Chico Science, que foi um dos precursores do Manguebeat, que aconteceu em Recife na década de 90. Exibe imagens de arquivos de suas apresentações e relatos da sua família. Descreve toda sua a vida, desde a influência no bairro de Rio Doce, onde ele morava, como às pessoas com que ele teve contato. Também fala de suas influências musicais, que vão do Pop, Rock e Hip-hop, Soul e Funk. Essa mistura foi importante para sua formação musical e a criação do Grupo Nação Zumbi. O filme é dividido em três partes, que é a “Lama”, onde foca o começo da sua vida.  A segunda parte “O Caos”, onde conta melhor como surgiu o movimento Manguebeat, e o sucesso internacional que teve na época. Fecha a terceira com “O Legado”. Nele, a importância de suas músicas até os dias atuais, que são uma referência para muitos músicos e pesquisadores da cultura brasileira.

Uma noite em 67- lançado em 2010, o documentário, dirigido por´Ricardo Calil e Renato Terra, relata uma noite da música popular brasileira, no festival da Record de 1967. As canções de protestos contra a ditadura militar, marcam este evento com Caetano Veloso, cantando “Alegria, Alegria, acompanhado do grupo de rock argentino Beat Boys. Chico Buarque, canta “Roda Viva” com MPB 4, A presença de Gilberto Gil, com a canção “Domingo no Parque”, acompanhado  da banda “Os Mutantes”. Apresentações históricas de Edu Lobo e Marília Medalha que ganharam o festival com a música “Ponteio”. O episódio de Sérgio Ricardo, que com a canção “Beto Bom de Bola” é vaiado e quebra o violão em frente a plateia. Anos depois, ele diz que não se arrepende do que fez e faria tudo novamente.

Botinada: A Origem do Punk no Brasil.   É um documentário que retrata bem o início do punk no Brasil, acontecido entre 1976 e 1984. Produzido e dirigido por Gastão Moreira, foi lançado em 2006 e traz entrevistas e imagens inéditas com os protagonistas do movimento. Muito impressionante o acervo mostrado em vídeos, recortes de matérias de jornais, reportagens de televisão. Além de depoimentos dos nomes envolvidos como João Gordo, do “Rato de Porão”, Clemente Tadeu, considerado um dos pioneiros do punk no Brasil e em 1981 fundou a banda Inocentes. Fala do programa da 89FM de São Paulo apresentado por Kid Vinil, que tocava as músicas punks. Traz também como a mídia enxergava o movimento, suas diferencias que existiam em cada lugar divulgado. Imagens raras do Festival “O Começo do Fim do Mundo”, que aconteceu em 1982 no SESC Pompeia em São Paulo. O documentário durou 4 anos para ficar pronto e tem 76 entrevistas gravadas.

O início, o Fim e o Meio - Desde a morte de Raul Seixas em 1989, que os fãs esperavam um documentário sobre vida e obra do maior ícone do rock brasileiro. Mas, só veio acontecer em 2011 com duração 2h e 8m, e a direção de Walter Carvalho. Vale a pena assistir, conta as diversas facetas do “Maluco Beleza”, suas parcerias com Paulo Coelho, seus casamentos, a sua infância em Salvador (BA) e depoimentos de amigos e admiradores. Imagens raras com sua primeira filha Simone Wisner, do seu primeiro casamento com a norte-americana Edith Wisner, O depoimento de Paulo Coelho, diretamente do seu apartamento na Suíça, chama atenção pelo fato de uma mosca surgir na hora da gravação, no que ele diz ser presença espirita de Raul. Tem imagens do show em janeiro de 1989 no Canecão, Rio de Janeiro, com Marcelo Nova. Foi justamente naquele ano, mais precisamente no dia 21 de agosto que o "Pai do Rock Brasileiro" veio a falecer.