Espetáculo narra a história do Seridó de forma poética e bem-humorada. Foto: Brunno Martins
Agenda Cultural
Casa de Zoé estreia nesta sexta-feira a temporada do espetáculo no Youtube. O calendário de exibições terá cidades seridoenses como anfitriãs
16 de outubro de 2020
Cinthia Lopes
Podem colocar a cadeira na calçada, a smart tv ou celular em mãos por que “Meu Seridó” vai passar na telinha. Realizado pela Casa de Zoé e idealizado pela atriz Titina Medeiros e direção de César Ferrario, o espetáculo que narra a história do Seridó de forma poética e bem-humorada estreia nesta sexta-feira (16) sua primeira temporada no formato virtual.
A ação faz parte do projeto “Sementes do Seridó”, que será direcionada a princípio para seis cidades da região: Acari (16), Florânia (17), Parelhas (18), Umarizal (23), Currais Novos (24) e Carnaúba dos Dantas (25), mas pode ser visto por todos, sempre a partir das 20 horas, no canal do YouTube da Casa de Zoé.
Para promover uma experiência imersiva ao espectador, antes de cada apresentação haverá um bate-papo entre membros da Casa de Zoé e anfitriões das cidades contempladas, fazendo dessa forma a ligação mais íntima entre as apresentações e o público que irá acompanhar via internet.
Deveria ser a primeira excursão do grupo pela região que o inspirou, mas devido a pandemia foi preciso se readequar. O diretor César Ferrario acredita que a transposição do espetáculo teatral do palco para as plataformas virtuais oferece desafios, porém, novas possibilidades.
"A questão é manter as características da criação primeira que foi feita para o tablado, para a relação presencial, mantendo ao máximo possível essas características na captura da obra pelo audiovisual", disse o diretor. Mas o formato híbrido de teatro e audiovisual acabou por abrir um caminho para novas ousadias do grupo, como contou Ferrario nesta entrevista a TÍPICO.
A parte audiovisual teve a direção do experiente Carito Cavalcanti. No formato, a peça foi pré-gravada em estúdio e contou com utilização de quatro câmeras, absorvendo o melhor dos aparatos tecnológicos no sentido de proporcionar a sensação única de estar no palco acompanhando a evolução da história do Seridó, narrada pelo espetáculo.
Realizado com recursos da Lei Câmara Cascudo e Cosern, o projeto ainda promoveu em setembro uma série de atividades formativas realizadas em ambiente virtual, voltadas para professores da rede pública de ensino e que teve como facilitador o Professor Dr. Helder Macedo. Outra ação realizada foi a realização de lives pelas redes sociais com várias personalidades do Seridó, como forma de preservar a memória e ressaltar a diversidade de pensamentos do povo seridoense.
“Meu Seridó” conta com os atores Marcílio Amorim, Nara Kelly, Igor Fortunato e Caio Padilha. Com dramaturgia de Filipe Miguez, amigo de Titina desde a novela Cheias de Charme, a peça conta de forma bem humorada e poética a origem e os costumes de região do Seridó. Personagens como José de Azevedo Dantas, Pajé Cuó, o português Rodrigo de Medeiros, Maria Paraibana e Josefa Menina são as personificações da história que transpassa o imaginário da região.
Para falar sobre a readequação e relembrar o processo do espetáculo, César Ferrario conversou com o portal, confira:
César, por que a escolha de cidades anfitriãs neste “Meu Seridó” virtual?
César Ferrario: As cidades de Acari, Florânia, Parelhas, Umarizal, Currais Novos e Carnaúba dos Dantas já estavam determinadas para a circulação do espetáculo na forma presencial e com a suspensão, por conta da pandemia, mantivemos as mesmas cidades. Montamos algumas estratégias para que naquele horário as pessoas vejam o espetáculo. Fizemos anúncios em carro de som para chamar para o espetáculo virtual. E cada estreia a gente nomeia como sendo específico para cada lugar, mas como será no YouTube todo mundo pode assistir. E queremos que todos vejam.
Meu Seridó nasceu do desejo de contar a história dessa região emblemática do Rio Grande do Norte, tocando em questões da formação do povo...
César Ferrario: O espetáculo fala da construção do Seridó levando em consideração outros olhares que não obrigatoriamente aqueles oficiais que a gente encontra nos livros de história. Colocando o homem antigo, indígena, como primeiro morador ocupante. O negro em segundo lugar, quando entrou levando o gado do patrão para usufruir das pastagens ainda que escassas da Caatinga e por fim o português que decide ocupar aquela região. Então essa é a ordem que nós elegemos para contar a nossa história do Seridó.
A pandemia tirou o planejamento original que era visitar a região. Como foi o desafio de adaptar para o meio virtual?
Ainda não tínhamos ido ao Seridó, tudo estava pronto e armado para essa temporada quando veio a pandemia. Essa readequação primeiro gerou uma espécie de frustração, queríamos muito ocupar as praças do Seridó, mas isso estava acima de todos nós. Depois de observar as perdas, acabamos por descobrir uma série de outras possibilidades, ganhos foram se apresentando nesse processo de transposição. O diretor Carito Cavalcanti se colocou numa pessoa indispensável nesse processo, emprestando seu conhecimento para construir esse híbrido que de uma certa forma original, um audiovisual bastante representativo do teatro que iríamos oferecer, uma nova linguagem, mas ainda sim absolutamente válida.
O Sementes do Meu Seridó foi além de teatro remoto, ao discutir educação e meio ambiente. Como se deu a escolha de falar sobre temas urgentes, como a preservação da Caatinga?
O espetáculo ainda é o ponto alto, a centralidade de todas as ações, porém o projeto também se aventurou a promover outros tipos de encontro no favorecimento da apreciação do espetáculo, um deles foi uma oficina para escolas da rede pública de história, que falava da fundação e do desenvolvimento do Rio Grande do Norte com ênfase do Seridó. Também fizemos distribuição de sementes de plantas nativas da caatinga e do livro da dramaturgia do Meu Seridó. Ainda realizamos uma série de lives encabeçadas por Titina Medeiros, entrevistando pessoas criativas que fazem o Seridó diferente, como músicos cantores, defensores do meio-ambiente, poetas, cronistas. Elegemos o meio ambiente por que além de ser um assunto urgente em todo o mundo, quisemos abordar o problema sério que passa o Seridó, que é a desertificação.
A Casa de Zoé tem planos de ampliar as exibições?
César Ferrario: A Casa de Zoé tem planos para expandir as apresentações e mais que isso, o nosso encontro com Carito foi potente e temos um intuito de aprofundar essa vertente híbrida do cinema com o teatro. Já pactuamos que nos próximos projetos seremos mais corajosos. Estamos cheios de ideias e vontades.
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