Dona Dadi foi além dos bonecos tradicionais ao dar forma a marionetes de fios e varas

É Típico!

 Morre mestra e calungueira Dadi, a face feminina do teatro de bonecos no RN

Mestra na arte do João Redondo, Dadi tinha 82 anos e também era poeta com forte senso de preservação do meio ambiente e da cultura popular

26 de janeiro de 2021

Morreu nesta terça-feira a artista popular Mestra Dadi, aos 82 anos, pioneira na tradição do teatro de bonecos no Rio Grande do Norte. Maria Iêda da Silva Medeiros era a única representante mulher na criação e manipulação do João Redondo no Estado, além de nome com prestígio no meio acadêmico universitário, pela versatilidade de sua arte e poesia.

A trajetória de Dadi está fortemente ligada a genealogia do teatro de mamulengos, que no Rio Grande do Norte é denominado João Redondo. "Dona Dadi tinha o dom de fazer rir", declarou Graça Cavalcanti, estudiosa do tema, em live realizada ano passado para o Museu Câmara Cascudo.

Além do João Redondo, ela era poeta conectada com as questões do meio ambiente e da cultura em comunidade. Atualmente seus personagens estão preservados na coleção de bonecos que pertence ao acervo do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, da Prefeitura do Natal.

Para o Secretário de Cultura Dácio Galvão, dentro do universo do Teatro de Bonecos, "Dadi era uma referência e muito nos honrou com seu trabalho e obra expostos no Museu Djalma Maranhão”.

O enredo do teatro de João Redondo gira em torno da relação entre o Capitão João Redondo, fazendeiro, e o Nego Baltazar/Benedito

Em 2020, a potiguar foi homenageada no 2º Seminário de Teatro de Animação, realizado em Joinville, Santa Catarina. Há alguns anos a UFRN lançou um vídeo e editou o livro de poesia “Flor de Mucambo”. Já o “Dadi Teatro de Bonecos, Memória, Brinquedos e Brincadeiras”, publicado pela Gráfica Manibu no festival Agosto da Alegria, da FJA, foi resultado da dissertação de Graça Cavalcanti. 

Capitão X Nêgo Baltazar

O João Redondo é uma forma de expressão do teatro popular de bonecos, marcado pela influência da estrutura dramática da commedia dell’arte, combinando ritmos e personagens da cultura popular local ao utilizar bonecos que encarnam personagens e através da vocalidade do brincante.

Segundo definição do professor Luiz Assunção, o  enredo do teatro de João Redondo gira em torno da relação entre o Capitão João Redondo, fazendeiro, e o Nego Baltazar/Benedito, que, na maioria das histórias, é seu empregado, construindo representações sobre as relações de dominação-dominado e a inversão de hierarquias, no texto obra em performance.

"Dadi, ao realizar sua brincadeira, cria personagens, elabora suas apresentações. Mas também se tornou conhecida por sua arte de fazer bonecos, no qual se destaca por extrapolar os habituais bonecos de luvas, ao dar forma a marionetes de fios, de vara, em bonecos de grande porte. Apenas uma mulher – Dadi, nessa linhagem que inclui o mestre Bastos (Sebastião Severino Dantas), considerado um dos primeiros que se tem notícia, mestre Zé Relampo, mestre Chico Daniel (Francisco Ângelo da Costa), mestre João Viana, entre outros.