Natal em Londres e partes do Sudeste da Inglaterra passam a seguir restrições mais duras

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Diários de Lockdown: Natal Britânico cancelado uma semana antes da ceia

O comércio fechou. As academias, que já havia voltado ao seu funcionamento desde o dia 2 de dezembro, também foram ordenadas a baixar as portas

20 de dezembro de 2020

Marcio Delgado – Especial de Londres

Quem mora no Reino Unido e pensou que, após um ano tão difícil, seria possível celebrar o Natal para esquecer os problemas de 2020 vai ter que tirar o cavalo da neve.

Neste sábado (19) o Primeiro-Ministro britânico Boris Johnson apareceu em cadeia nacional de última hora para jogar o balde de água fria na população uma semana antes da ceia natalina.

Quando políticos fazem pronunciamento na TV em cadeia nacional, nunca é para dar uma boa notícia.  Há registros do homem aterrissando na lua em 1969. Mas desde que a TV Tupi entrou para a história como a primeira emissora de televisão na América Latina, quando em 1950 o empresário paraibano Assis Chateaubriand importou equipamentos para a transmissão em preto e branco, ninguém tem rastro de político vindo a público para divulgar que o salário-mínimo vai dobrar ou que tem dinheiro sobrando no orçamento para ser investido em cultura.

Na Inglaterra, país que oficialmente não tem salário-mínimo mensal e que já fazia transmissões televisivas na década de 30, não é diferente quando o assunto é pronunciamento em cadeia nacional: boa coisa nunca é.

O motivo que levou Boris às TVs dos moradores do Reino Unido, assombrando o último sábado antes do Natal, foi exatamente para cancelar o Natal em Londres e partes do Sudeste da Inglaterra, áreas que a partir deste domingo (20), passam a seguir restrições mais duras, semelhantes às do lockdown de novembro – o segundo do ano até então – onde restrições incluem a proibição de viagens e a famosa frase ‘fica em casa’. 

Se antes, os longos períodos de isolamento social tinham como objetivo conter o avanço de uma pandemia global e evitar hospitais superlotados, desta vez a ameaça da nova mutação do coronavírus é o que tem tirado o sono dos cientistas e empresários no Reino Unido, ironicamente o primeiro país ocidental a aprovar o uso de uma vacina contra a COVID-19.

O comércio fechou. As academias de ginástica, que já havia voltado ao seu funcionamento desde o dia 2 de dezembro, também receberam ordens para baixar as portas. 

E quem não cortou o cabelo durante o curto período em que os salões voltaram a funcionar na Inglaterra irá ter que passar a virada do ano de cabelo logo e embaraçado – o que para um ministro acostumado a comparecer a eventos oficiais com um penteado que lembra um octogenário que acabou de pilotar uma moto na beira de um precipício e sem capacete, talvez não vá fazer muita diferença.

Essa indiferença é típica de muitos políticos que, mesmo bem antes do primeiro caso de coronavírus pipocar na China, exatamente um ano atrás, já estavam acostumados a viver em uma bolha social, bem longe da vida real. No caso de Boris, ex-prefeito de Londres e jornalista educado em escolas da elite inglesa, essa indiferença é vista quase que como estratégia política. Poucos dias antes de cancelar a confraternização de Natal dos britânicos, Johnson havia mantido a população calma ao reiterar que a permissão para que pessoas de até três residências diferentes pudessem se reunir durante um curto período de cinco dias continuava de pé.

Durante o fim de semana este período ficou mais curto, bem mais curto, com a quantidade dias sendo reduzidos para zero em várias partes do país.

A TV está ligada e eu já comi um quarto do bolo que era para durar a semana inteira. E entre uma fatia e outra, entre calorias e ansiedade, a única certeza é a sensação de que alguns meses de inverno em lockdown vai durar uma década.

Márcio Delgado é jornalista e Coordenador de Marketing de Influência morando em Londres, Reino Unido
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