Compositor e poeta Romildo Soares na gravação do CD +QImperfeito, em 2011. Foto TN

Reportagens

Natal perde o grande compositor Romildo Soares

Compositor que já teve música gravada por Simone, vivia em situação de rua e foi encontrado morto na calçada da antiga C&A

26 de outubro de 2022

O poeta e compositor Romildo Soares perdeu a derradeira batalha contra a situação de abandono em que se encontrava. Na noite de terça-feira (25) o artista de 61 anos foi encontrado morto por volta das 21h10, sentado na calçada da antiga C & A, na avenida Rio Branco, no Centro de Natal. Segundo informações da Agência Saiba Mais, segurava um pote de cuscuz, doado por voluntários de uma igreja que distribuem comida todas as noites a pessoas em situação de rua na Cidade Alta. A cantora Pretta Soul passava pelo local no momento em uma pessoa, em situação de rua, tentava acordá-lo. A cantora ligou para o Samu e a Polícia.  Há dez dias Romildo chegou a ser internado após ter sofrido um AVC. O velório está marcado para 13h na Pinacoteca e o sepultamento ao final da tarde, no Cemitério do Alecrim.

Romildo deixa o último disco inacabado, o Lockdown, realizado em parceria com o músico Zé Caxangá. O perfil do instagram criado para divulgar o trabalho confirmou na manhã desta quarta-feira (26) a morte do artista: “Queridos amigos, é com tristeza que anunciamos a morte do compositor e cantor dessas nossas terras, Romildo Soares. Maiores informações postamos aqui.” Nas redes sociais, inúmeras mensagens de despedida e pesar pela sua partida de forma tão dura e triste.

Em Nota, a Fundação José Augusto lamenta profundamente a morte aos 61 anos do compositor Romildo Soares, um dos grandes nomes da música do Rio Grande do Norte. "O artista pertencia a uma geração talentosa da música potiguar formada por nomes como Pedro Mendes, Sueldo Soares, Babal, Cleudo Freire e Cida Lobo, que fizeram história na cultura do Estado. Mesmo não sendo instrumentista, mostrava imenso talento como compositor por meio de várias parcerias com artistas como Geraldo Carvalho, Yrhan Barreto, Lupe Albano, Carlos Bem,dentre outros", diz a nota. A nota lembra que "Romildo era querido pela classe artística, que o ajudou nos últimos anos diante das dificuldades financeiras e de saúde. Teve ainda participações em trabalhos audiovisuais realizados em Natal e em Alexandria".

A Secretaria de Cultura de Natal/Funcarte também publicou uma nota lamentando a morte do artista. "A música potiguar amanheceu de luto. O cantor e compositor Romildo Soares faleceu na noite de ontem (terça-feira), aos 61 anos de idade. A Prefeitura do Natal, através do corpo de funcionários da Secretaria de Cultura (Secult-Funcarte) lamenta a partida de um dos ícones da música potiguar e se solidariza com amigos e familiares de Romildo".

Natural de Alexandria-RN, Romildo Soares é cantor e compositor desde os anos 1980, mas a grande estreia foi com o Grupo Trampo. Como compositor,  já teve suas músicas gravadas por nomes locais e nacionais como Simone, Valéria Oliveira, uma de suas maiores intérpretes, além de Ana Fernandez, Geraldinho Carvalho e Khrystal. Coautor da música “Me faz sonhar”, parceria com Fábio Fernandez com a qual a cantora Anna Fernandez recebeu o prêmio Sharp de revelação regional em 1992. Em 2001 compôs “www.sem”, parceria com o maranhense Zé de Riba, que foi gravada pela cantora Simone — depois ganhou uma nova roupagem em 2007 através de Khrystal no disco “Coisa de Preto”. “Antropofágico”, outra parceria sua com Zé de Riba, foi gravada no CD “Pancada seca”, primeiro disco do cantor e compositor maranhense, que incluiu ainda “Moça da rua”, e “O gato é o gato”, parcerias dos dois.  

Seu nome integra o Dicionário Cravo Albin, uma das maiores fontes de pesquisa da Música Popular Brasileira. O artista participou de várias coletâneas em disco e lançou o primeiro álbum em 2011, com +QImperfeito. Em 2019, pariu o livro “Pequeno livro das contravenções”, com uma coletânea de poemas. Em 2007, Romildo descobriu ser portador do vírus HIV e buscava tratamento no hospital Giselda Trigueiro, especializado na doença. Inquieto e polêmico, criticava a falta de reconhecimento do Estado e principalmente das instituições culturais.Recebeu ajuda de amigos em vários momentos, mas o retorno às ruas era recorrente. Era visto constantemente tentando vender poemas em guardanapos pelas ruas da Cidade Alta. 

Com informações da Agência Saiba Mais