Dácio Galvão | Poeta e gestor cultural
Vozes que ecoam no maremoto de ameaças e incertezas atravessando tabuleiros, matas e se projetando soltas, aguerridas afirmativamente. Sem estetizações se projetam replicando na diversidade fisionomias, sonhos, traços e almas. Estarão se multiplicando no próximo CD-Livro Poemúsicas 3, empostadas nas vocalizações de sangues retintos: Daúde, Alaíde Costa, Bule Bule, Lia de Itamaracá, Zezé Motta.
Eu sou o grito de fé
A força do axé
De um povo do além mar
Xica,
Dandara a dor
Alegria de Tia Ciata
Bandeiras do libertar.
Sou resistência sem fim
Danças, crenças, coivaras
Chama, Luiza Manhim
Batuques de muitas texturas
Canto de Clementina
Mundo ancestral em mim.
Eu sou a resistência dos dias
Alegria de todas etnias
Mercedes Batista, Anastácia
Marielle, Militana ousadia
Cantos de guerras, ternuras
Um tempo que vai desabar
1888
Boletim da Sociedade Libertadora Norte-Rio-Grandense.
Gazetilha:
Cartas de liberdades
Alforrias de alevantados
Recepções abolicionistas.
Quadro:
Vidas livres
Cidades livres.
Guerra pois, a escravidão
Viva a liberdade!
Abaixo a casa-grande.
Vi águas derramadas
E lia “A Cidade no Brasil”!
Risério na cabeça
Os pés num chão
De ciranda no mundo:
Indígena, pré-cabralina
Íbero-africana.
Proto-vanguarda
Na margem sul-americana
Eu vi e lia a água a se espelhar
Madrugada, fui pisar.
Espumas salgadas
Ondas sagradas.
Respirar as conchas
Nas estrelas se banhar.
Cheiros de sargaços no ar
Flores para Janaina.
Búzios, azul-siri, colar
Cavalo Marinho, nadar.
Cachorro que late, ladrar
Camurim, Paru, Piaba.
Canto, Cacimbinhas
Desenhos do amar.
-
Ele - (Á Itamar Assumpção)
Samba de Latada
é morada
Samba de Matuto
é astuto
Essa parada
é assunto
Do negro (Nego Dito)
que dribla
Ginga passa rasteira
Ronca a cuíca
No passe do craque
Ancho, se safa
O anjo mestiço
na vida inteira
Na lida a ladeira
Olhe o lance aí
De Fabião das Queimadas comprando sua alforria
Abdias Nascimento e o Teatro do Negro
Cartas Sertanejas de Eloy de Sousa
E a Geografia de Milton Santos?
A sambada de Lucarino, meu irmão!
É isso aí, Jubileu Filho!
Olhe o Samba de Latada de Elino Julião!
E o gol de placa de Alberi!
De povos alegres
Originários, ancestrais
Oprimidos
Rei Tanaruê, Rio Verde, Rio Negro
Pajé e Tupinambá
Salve o Reino Sagrado da Jurema
Sou caboco
Da ciência fina.
Sou o Outro
Eu sou negro, indígena.
Brasileiro juremeiro
Na terra mar no ar
Saudando Babá Karol
E Zé Clementino.
Vou fumar
No meu cachimbo
Flor folha semente
Punir e encantar
Salomão, Saraputinga
Alegria para am
ar
Salve o Juremá!
Fé (danças negras)
Salve, salve Mestre Geraldo
E Paulo Africano
Mestre Correia
E Possidônio
Na Dança do Zambê…
Do Congo…
Espontão…
Eu vou em oração.
Senhora dos Pretos do Rosário
Batuques, compactação.
Canga-luê
Escalunga-auê
Dança das Lanças.