Eu sou a resistência dos dias Alegria de todas etnias, diz os versos de "Vencer".

Colunas

Negrismo: Vozes que ecoarão no próximo CD-Livro Poemúsicas 3

Versos retintos em sonhos, traços e almas de afirmação e resistência

18 de setembro de 2020

Dácio Galvão | Poeta e gestor cultural

Vozes que ecoam no maremoto de ameaças e incertezas atravessando tabuleiros, matas e se projetando soltas, aguerridas afirmativamente. Sem estetizações se projetam replicando na diversidade fisionomias, sonhos, traços e almas. Estarão se multiplicando no próximo CD-Livro Poemúsicas 3, empostadas nas vocalizações de sangues retintos: Daúde, Alaíde Costa, Bule Bule, Lia de Itamaracá, Zezé Motta.

 

  • Vencer

Eu sou o grito de fé

A força do axé

De um povo do além mar

Xica,

Dandara a dor

Alegria de Tia Ciata

Bandeiras do libertar.

Sou resistência sem fim

Danças, crenças, coivaras

Chama, Luiza Manhim

Batuques de muitas texturas

Canto de Clementina

Mundo ancestral em mim.

Eu sou a resistência dos dias

Alegria de todas etnias

Mercedes Batista, Anastácia

Marielle, Militana ousadia

Cantos de guerras, ternuras

Um tempo que vai desabar

1888

Boletim da Sociedade Libertadora Norte-Rio-Grandense.

Gazetilha:

Cartas de liberdades

Alforrias de alevantados

Recepções abolicionistas.

Quadro:

Vidas livres

Cidades livres.

Guerra pois, a escravidão

Viva a liberdade!

Abaixo a casa-grande.

 

  • Ciranda

Vi águas derramadas

E lia “A Cidade no Brasil”!

Risério na cabeça

Os pés num chão

De ciranda no mundo:

Indígena, pré-cabralina

Íbero-africana.

Proto-vanguarda

Na margem sul-americana

Eu vi e lia a água a se espelhar

Madrugada, fui pisar.

Espumas salgadas

Ondas sagradas.

Respirar as conchas

Nas estrelas se banhar.

Cheiros de sargaços no ar

Flores para Janaina.

Búzios, azul-siri, colar

Cavalo Marinho, nadar.

Cachorro que late, ladrar

Camurim, Paru, Piaba.

Canto, Cacimbinhas

Desenhos do amar.

 

 

  • Ele - (Á Itamar Assumpção)

Samba de Latada

é morada

Samba de Matuto

é astuto

Essa parada

é assunto

Do negro (Nego Dito)

que dribla

Ginga passa rasteira

Ronca a cuíca

No passe do craque

Ancho, se safa

O anjo mestiço

na vida inteira

Na lida a ladeira

Olhe o lance aí

De Fabião das Queimadas comprando sua alforria

Abdias Nascimento e o Teatro do Negro

Cartas Sertanejas de Eloy de Sousa

E a Geografia de Milton Santos?

A sambada de Lucarino, meu irmão!

É isso aí, Jubileu Filho!

Olhe o Samba de Latada de Elino Julião!

E o gol de placa de Alberi!

 

 

  • Eu

De povos alegres

Originários, ancestrais

Oprimidos

Rei Tanaruê, Rio Verde, Rio Negro

Pajé e Tupinambá

Salve o Reino Sagrado da Jurema

Sou caboco

Da ciência fina.

Sou o Outro

Eu sou negro, indígena.

Brasileiro juremeiro

Na terra mar no ar

Saudando Babá Karol

E Zé Clementino.

Vou fumar

No meu cachimbo

Flor folha semente

Punir e encantar

Salomão, Saraputinga

Alegria para am

ar

Salve o Juremá!

 

 

 

Fé (danças negras)

Salve, salve Mestre Geraldo

E Paulo Africano

Mestre Correia

E Possidônio

Na Dança do Zambê…

Do Congo…

Espontão…

Eu vou em oração.

Senhora dos Pretos do Rosário

Batuques, compactação.

Canga-luê

Escalunga-auê

Dança das Lanças.