Shows na rua e encontros no final da noite definem o Fest Bossa. Fotos: Cinthia Lopes

Reportagens

No Fest Bossa & Jazz, o encanto está nos improvisos

Pipa era uma festa só: Nenhum restaurante, loja de bebidas ou mercadinho vazio, e o melhor, nenhuma atração musical sem plateia

23 de agosto de 2022

Cinthia Lopes

Um festival sem uma boa dose de improviso não faz jus ao nome, e isso o Fest Bossa & Jazz tem de sobra, conjugado no plural. Sem medalhões para ancorar o palco principal como no passado, cada vez mais a produção aposta em pequenas e calorosas apresentações onde vale a descoberta de talentos. O evento aproxima músicos da cena do jazz, bossa e MPB potiguar de artistas de cidades vizinhas, e algumas conexões de fora do Nordeste e do exterior. Realizado na Pipa, badalada praia do litoral Sul do RN, o Fest Bossa começou na quinta-feira (18) e terminou no domingo (21) com todas as noites lotadas. 

Com o clima de retomada dos grandes eventos, Pipa estava movimentada como há muito não se via. Nenhum restaurante com mesa desocupada, loja de bebidas ou mercadinho sem movimento, e (o mais importante) nenhuma atração musical sem plateia. Foram quatro dias e mais de 40 pocket-shows, sem contar as tradicionais jam sessions que estão cada vez mais organizadas e atrativas. Pela animação do público na noite de sábado, havia fôlego para mais. Não houve “baixa” nem no domingo, considerado o dia do check-out nos hotéis. 

 Esta "Típica local" acompanhou toda a noite de sábado (20). O diferencial atualmente são os shows simultâneos em diversos palcos pequenos ao ar livre, partindo do final de tarde na beira da praia aos shows noturnos em pontos estratégicos da rua principal da Pipa. O formato já vem sendo experimentado nos últimos dois anos, antes da pandemia, mas em 2022 parece consolidar a fórmula. A produtora Juçara Figueiredo comentou que o formato descentralizado dá “muito mais trabalho, mas é bem mais gratificante ver a interação das pessoas”. Numa praia onde as pessoas gostam de ir e vir, o palco grande montado em um terreno prende a produção à necessidade de uma atração de renome para chamar público. A mudança foi certeira.

Cheguei a tempo de ver o Cortejo Bossa & Jazz Street Band pela Av. Baia dos Golfinhos..Mas a programação de sábado começou bem mais cedo em locais fora do centro. Teve Poti Jazz, o cantor Caike Falcão, Renato Carvalho Trio e Clara Zaho num "Especial Cássia Eller", Amaro Freitas Trio e Ari Borger Trio. Destaco o show de Katharina & Bia Gurgel, a pequena do The Voice Kids fez um dueto com a mãe em tributo a Gal Costa. "Vaca profana” , o nome do show, tem potencial para ser uma temporada em Natal. Depois foi a vez da cantora Indiana Nomma apresentar clássicos do blues e jazz, com o público (crianças inclusive) entoando o refrão do clássico “Hit the road Jack / and don't you come back/No more, no more, no more, no more…”. No Macena, em frente ao estande da produção, as guitarras acenderam o público com muito rock and roll da banda Felipe Cazaux.

Estrategicamente em frente ao polo Macena tem uma boa loja de bebidas, a Duty. Aliás, a praia está bem abastecida de pequenos espaços para compra de bebidas, principalmente vinhos. Uma curiosidade é que muita gente vai pra rua com sua garrafa de tinto debaixo do braço e uma taça de cristal. Coisas de festival…

Na Galeria Oásis, dei uma sacada no show do cantor Gabriel Selvage e seu convidado, o cantor Ju Santos, uma das melhores vozes surgidas na atual cena local. Outra banda que não passou incólume foi Os Eloquentes, grupo paraibano que animou o público com versões “eloquentes” e cheias de firulas para músicas de vários gêneros musicais, como pop rock, jazz, reggae, soul e MPB. Soube que a banda nasceu na Pipa pela mão e voz da xará Cintia e do cantor Bira Magalhães. Mais tarde, eles participaram da jam session e botaram o povo pra cantar uma versão bluezeira de “Sweet Dreams”, do Eurythmics. 

O melhor ficou mesmo para o final: A jam session no Manaaki, um barzinho descolado em frente à Praça do Pescador, foi sensacional. As apresentações começaram à 0h e foram encerradas por volta das 3h da manhã, com muitas participações de cantores e instrumentistas dialogando na base do improviso, ao vivo e em cores. Muita gente acompanhou até o final ( eu inclusive) sentados no chão ou gravando vídeos nos seus smartphones — é legal acessar as redes sociais dos cantores para ver a quantidade de vídeos captados pelo público. 

Essa diversão é o que faz do Fest Bossa & Jazz um evento encantador. Bons artistas para se descobrir, com muito a oferecer. Fica então o desafio de todo festival longevo: propor um cardápio de novas vertentes musicais que possam mostrar essa vitalidade do jazz, quem sabe hip hop com jazz, afrobeat...

* Esta jornalista viajou a convite do Fest Bossa & Jazz